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Estimulação cerebral tem resultados promissores na reabilitação após o AVC

Técnicas que modulam áreas do cérebro têm ganhado destaque em pesquisas. Nessa, voluntários apresentaram melhora na capacidade de movimento após derrame

Por Lucas Rocha
Atualizado em 24 ago 2023, 14h10 - Publicado em 24 ago 2023, 11h45
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Acidente vascular cerebral (AVC) está entre as principais causas de morte e incapacidade no mundo (Ilustração: Francisco Martins/SAÚDE é Vital)
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Depois do implante para depressão, técnicas similares avançam em estudos para tratar outras condições neurológicas.

Uma nova pesquisa, realizada nos Estados Unidos, aponta que um tipo de implante pode ajudar no tratamento do acidente vascular cerebral (AVC).

O derrame está entre as principais causas de morte e incapacidade no mundo. No Brasil, o problema está associado a cerca de 100 mil óbitos por ano, de acordo com o Ministério da Saúde.

As sequelas provocadas, como o comprometimento da movimentação dos membros, podem afastar 7 em cada 10 das pessoas do trabalho e deixar até 50% delas sem autonomia para realizar atividades do dia a dia, segundo a Sociedade Brasileira de AVC (SBAVC).

Há mais de dez anos, pesquisadores da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, investigam maneiras de reduzir os impactos provocados pelo problema por meio da estimulação cerebral profunda.

Em trabalho recém-publicado no periódico científico Nature Medicine, o grupo apresenta resultados promissores na reabilitação de pacientes a partir da técnica combinada com fisioterapia.

As evidências sugerem que o estímulo de circuitos cerebrais ligados à função motora podem ajudar a recuperar movimentos perdidos após o AVC.

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+ Leia também: Estimulação elétrica atua na reabilitação de pacientes com sequelas de AVC

Bastidores do cérebro

Uma das hipóteses dos cientistas era que a estimulação elétrica de uma via do cérebro que conecta duas regiões, o cerebelo e o córtex, chamada dentatotalamocortical, facilitaria a reorganização desta área, lesionada após o derrame.

Líder do estudo, o pesquisador brasileiro Andre Machado, presidente do Instituto de Neurologia da Cleveland Clinic, conta que os primeiros resultados vieram de testes com animais.

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Estudo apresenta resultados promissores na reabilitação de pacientes por meio da estimulação cerebral profunda (Ilustração: Cleveland Clinic/Divulgação)

Nos ensaios pré-clínicos, os cientistas simularam um fenômeno parecido com o AVC em roedores. Depois, os animais receberam implantes de eletrodos, mas foram divididos em dois grupos para fins de comparação, sendo que apenas metade dos dispositivos foi de fato acionado.

Nesta fase, os cientistas observaram que os roedores estimulados apresentaram melhorias na recuperação de movimentos diante do grupo controle, que não teve a ativação do aparelho.

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“No órgão humano, assim como no de roedores, há uma representação da mão que coordena seus movimentos. Quando acontece um derrame, essa representação do córtex cerebral é alterada. Quando ligamos o eletrodo, a reorganização desse mecanismo é maior do que a que acontece naturalmente depois de um AVC”, explica Machado.

+ Leia também: A evolução dos tratamentos para AVC nos últimos 20 anos

Os testes em humanos

Após os resultados preliminares positivos, os pesquisadores conduziram os ensaios com voluntários para verificar a segurança e viabilidade do método.

Para a pesquisa, foram selecionadas 12 pessoas que, após um derrame, ficaram com comprometimento persistente de membros superiores, um tipo de paralisia parcial chamada de hemiparesia crônica.

Todos os pacientes realizaram uma reabilitação física supervisionada, que inclui fisioterapia e terapia ocupacional, por um mês, antes da implantação de um eletrodo de estimulação cerebral profunda no cérebro, em uma região do lado oposto ao da lesão do AVC.

+ Leia tambémA importância da reabilitação no pós-AVC

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Depois da cirurgia, eles retomaram as sessões de reabilitação e passaram por uma fase de programação do aparelho, para ajustar os parâmetros ideais de estimulação.

Uma vez estabelecidos esses padrões, os voluntários entraram na fase de estimulação cerebral contínua, ou seja, 24 horas por dia, por um período de 4 a 8 meses.

Ao mesmo tempo, as sessões de reabilitação na clínica e em casa foram mantidas e os participantes foram então avaliados em suas funções motoras.

“Observamos que o processo é seguro, os pacientes não tiveram efeitos colaterais importantes. Não registramos nenhuma hemorragia, infecção ou morte durante o estudo”, diz o pesquisador.

Segundo Machado, os voluntários mostraram progressos funcionais significativos.

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“Nove dos 12 pacientes tiveram uma melhora bastante expressiva. Isso indica que temos um efeito, que agora tem que ser reavaliado com um novo estudo”, afirma Machado.

Próximos passos

O ensaio clínico da próxima fase está em andamento, na etapa de seleção dos participantes.

Para avaliar a eficácia do tratamento de forma mais abrangente, o estudo de fase II é multicêntrico (ocorrendo em mais de uma instituição), randomizado (com a seleção e disposição dos voluntários de forma aleatória) e controlado.

+ Leia também: Como interpretar um estudo científico?

“Os pacientes vão ser aleatoriamente designados para ter o eletrodo ligado ou não em uma primeira etapa, para ver a diferença. E, depois de alguns meses, vamos ligar o aparelho do grupo controle, para que todos possam receber o benefício”, explica o cientista.

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Tipos de AVC

O AVC é resultado do rompimento ou obstrução de vasos que levam sangue ao cérebro, que provoca paralisia da área cerebral afetada pela falta da circulação. Os derrames podem ser hemorrágicos ou isquêmicos.

O mais frequente, que representa cerca de 85% dos casos, é o isquêmico, decorrente do entupimento de artérias cerebrais. Entre as causas estão a formação de trombose, associada a placas, e a embolia, quadro em que uma placa de gordura ou trombo presente em outra área do organismo se solta e chega aos vasos do cérebro.

O tipo hemorrágico, por sua vez, é fruto do rompimento dos vasos sanguíneos. Ele também ocorre pela obstrução de artérias, é mais grave e tem alto índice de mortalidade.

No estudo, foram incluídos sobreviventes do AVC isquêmico.

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