Tomar banho, vestir-se, pegar objetos. Atividades simples do cotidiano podem se tornar difíceis para pacientes que sofreram um acidente vascular cerebral, também conhecido como AVC ou derrame, que acaba sendo a segunda maior causa de morte e a primeira de incapacidade no Brasil.
A espasticidade surge a partir de uma lesão em parte do sistema nervoso central (o cérebro ou a medula espinhal), o que provoca interferência nos comandos musculares e leva ao comprometimento dos movimentos. Esse quadro, chamado de espasticidade pós-AVC, faz com que o indivíduo tenha rigidez muscular e perca parcialmente ou totalmente o comando dos músculos, além de espasmos e apresentar dores.
A espasticidade pode afetar qualquer músculo do corpo, mas é mais comum nos braços e pernas, desenvolvendo um quadro de dificuldade de mobilidade, ou seja, rigidez muscular e articular, que faz com que o membro fique fixo em uma posição. “Também observamos sinais de espasticidade com cocontração, que é a contração exagerada e não desejada de dois grupos antagonistas que se contraem simultaneamente ao redor de uma mesma articulação, desencadeando desconforto e diminuindo sua capacidade funcional”, conta Eduardo de Melo Carvalho Rocha, médico Fisiatra na Santa Casa de São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação (ABMFR).
“Isso é um problema, pois os seres humanos precisam coordenar a contração dos músculos que vão ser utilizados para fazer os movimentos com o relaxamento dos que fazem os movimentos inversos”, acrescenta Eduardo. A longo prazo, esses fatores desencadeiam a formação de contraturas musculares que podem provocar mais lesões e deformidades, as quais fazem com que seja um problema até mesmo higienizar determinada região e posicionar o paciente na cadeira de rodas ou na cama.
Os primeiros sinais da espasticidade podem aparecer dias, semanas, meses e até um ano após o episódio do AVC, mas é muito importante que os médicos, os cuidadores e os familiares fiquem atentos aos seus primeiros sinais, pois quanto antes o tratamento multidisciplinar começar, melhores serão os resultados. Além de garantir mais qualidade de vida e autonomia à pessoa e evitar complicações, contar com a ajuda de diferentes especialistas aumenta as chances de o cérebro fazer novas conexões para superar as dificuldades apresentadas.
Qualidade de vida e autonomia no pós-AVC
O combate à espasticidade deve ser multidisciplinar, com o objetivo de desenvolver a autonomia do paciente com a melhora da mobilidade dos membros afetados. “O paciente que está em processo de recuperação do AVC apresenta necessidades múltiplas no aspecto físico, cognitivo, emocional e social, por isso uma equipe composta por neurologistas, fisiatras, geriatras, cardiologistas, fisioterapeutas, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, dentistas, enfermeiros, educadores físicos e psicólogos, além do seu cuidador, é fundamental para que o tratamento seja bem-sucedido”, diz Rocha.
O processo deve envolver o posicionamento adequado do indivíduo quando estiver sentado ou deitado, com atenção especial à sustentação do tronco e das articulações no lado onde há redução de força, e o uso de órteses desenvolvidas especialmente para ele. Já o trabalho do fisioterapeuta é essencial para que seja feito um treino funcional específico que ajuda no relaxamento, combate o aumento do tônus motor e previne lesões articulares secundárias. Medicamentos orais, injetáveis e sistêmicos também podem ser indicados, assim como cirurgias para casos mais graves.
A evolução da espasticidade pós-AVC é constante e, por isso, o seu tratamento deve ser contínuo. Para chamar atenção sobre o assunto e conscientizar a população sobre essa condição foi criada a campanha “Tempo é Movimento, Reabilitar é Ação”. Para mais informações, acesse o site www.portalreabilitacao.com.br e o Instagram @CanalReabilitacao.
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