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Erosão dentária é uma ameaça à saúde bucal

Esse problema nos dentes é discreto e não causa dor. Mesmo assim, está relacionado a sérias complicações e suas estatísticas não param de crescer

Por André Biernath
Atualizado em 22 jan 2020, 10h44 - Publicado em 10 Maio 2017, 09h19
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  • Primeiro, a boa notícia: as taxas de cárie caíram no Brasil. Segundo dados do Ministério da Saúde, 44% dos indivíduos com 12 anos estão livres desse problema bucal, uma melhora de 13 pontos percentuais em menos de uma década. Porém (e sempre há um porém), o relativo controle da encrenca vem acompanhado de perto por outro fenômeno que começa a incomodar: a erosão dentária, condição caracterizada por um ataque de substâncias ácidas ao esmalte, a camada externa dos dentes.

    “Ela ganhou mais importância nos últimos tempos, quando as pesquisas passaram a demonstrar um aumento de sua prevalência na população”, relata o odontopediatra Marcelo Bönecker, da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP). O professor deu uma aula sobre o tema durante o último Congresso Internacional de Odontologia de São Paulo. Por ser um assunto relativamente novo, nem os formados na área estão 100% familiarizados com ele. “Muitos ainda nem sabem como diagnosticar e prevenir a doença”, afirma o dentista Fábio Sampaio, da Universidade Federal da Paraíba.

    E olha que preocupante: um levantamento realizado na cidade de Porto Alegre com cerca de 1 500 crianças revelou que 15% delas já apresentavam as tais falhas nos dentes. Uma parcela do grupo foi reavaliada três anos depois, e o número de acometidos saltou para 22%, com elevação na gravidade em um quarto dos casos. “Observamos cada vez mais o estabelecimento precoce do quadro. Alguns adolescentes já possuem padrões de erosão similares ao de adultos ou de idosos”, alerta a dentista e autora do estudo Luana Severo Alves, da Universidade Federal de Santa Maria (RS).

    As mudanças no estilo de vida e nos hábitos alimentares parecem ser o principal motivo para a popularidade e o agravamento da condição. “A ingestão excessiva de refrigerantes e sucos ácidos está relacionada à erosão dentária”, exemplifica a dentista Christiana Murakami, da Clínica Portal do Sorriso, em São Paulo. Apesar de existir uma tendência de queda na popularidade delas, em torno de 20% dos brasileiros tomam bebidas gaseificadas cinco vezes na semana e, portanto, estão mais propensos a esses danos. A lista de malfeitores não termina aí: isotônico, chá gelado, vinho, energético, remédios e um sem-fim de produtos e comportamentos têm potencial de esburacar o esmalte.

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    Os ácidos regurgitados do estômago são outro fator que incentiva a erosão. “É o que acontece no refluxo gastroesofágico e na bulimia, doenças que apresentam como consequência a diminuição do pH bucal”, nota a odontopediatra Marcelle Danelon, da Universidade Estadual Paulista, em Araçatuba. Nesse sentido, o dentista pode ser o primeiro profissional de saúde a notar os sintomas, dar orientações e encaminhar o paciente para um tratamento com o gastroenterologista ou o psiquiatra, a depender da conjuntura.

    Consequências da erosão dentária

    Por ser um processo lento e gradual, a erosão dentária raramente provoca dores. Mesmo se o estrago bate na dentina, o tecido se adapta para driblar a exposição de nervos, o que desembocaria em hipersensibilidade.

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    Mas isso não quer dizer que a condição não traga repercussões à saúde, especialmente quando se torna grave. “A maior delas é o desgaste dos dentes e o desequilíbrio na mastigação”, diz o dentista Marcelo Kyrillos, diretor da Clínica Made Me A, na capital paulista. Nesse estágio, as estruturas bucais ainda ficam opacas, transparentes, irregulares… Em suma, um prejuízo estético dos grandes.

    Para conter a progressão da lesão, é essencial fazer o diagnóstico precoce. Como 90% dos casos são primários, eles passam despercebidos até pelos olhares mais atentos. Com o objetivo de se antecipar às etapas profundas, a dentista Sandra Kalil Bussadori desenvolve na Universidade Nove de Julho, em São Paulo, um aparelho capaz de detectar a gênese da erosão. “O equipamento carrega um laser para fotografar e flagrar pequenas alterações”, relata a expert, que integra a Câmara Técnica de Odontopediatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo.

    Antes que a situação ganhe contornos dramáticos, é prudente adotar medidas preventivas. “Nos casos iniciais, nós acompanhamos e pedimos que alguns costumes se modifiquem”, explica a dentista Ana Carolina Magalhães, da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP. As estratégias envolvem reduzir a frequência em que os refrigerantes aparecem nas refeições, caprichar nos goles d’água e inclusive usar canudinhos.

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    Estudos com modelos experimentais e com próteses na bancada do laboratório atestam que higienizar os dentes alguns minutos depois de entornar uma bela limonada não é uma boa. “As cerdas fazem uma atrição do esmalte, o que remove aquele cálcio que já foi enfraquecido pela ação da acidez”, ensina Bönecker. Eis por que uma parcela dos dentistas sugere que se aguarde cerca de meia hora após o consumo para iniciar a faxina bucal.

    Na contramão, alguns entendidos temem que uma recomendação desse tipo faça com que as pessoas passem a ignorar a importância de escovar os dentes após o café da manhã, o almoço ou o jantar. “Não fazer a higiene nesses momentos leva à cárie, que ainda é um problema de saúde pública no Brasil”, adverte a dentista Livia Tenuta, da Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (SP).

    Visitar regularmente o profissional que cultiva o seu sorriso é outra maneira de garantir que não brotem escavações nos dentes. Ele pode aplicar o verniz de flúor, que forma uma película sob o esmalte, postergando a agressão direta. Seu efeito, porém, não dura muitos dias, o que estimula os cientistas a se debruçarem sobre alternativas para blindar a arcada dentária. O candidato que gera ótimas expectativas é o tetrafluoreto de titânio. Ele está se saindo bem nos testes e deve chegar em breve aos consultórios.

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    Quando o buraco é mais embaixo e a dentina está ameaçada, é necessário recorrer à restauração com resinas e ligas metálicas. “Mesmo nesse estágio, continuam primordiais as mudanças no estilo de vida para estancar o avanço do problema”, frisa Luana. É provável que, daqui em diante, você ouça falar cada vez mais sobre a erosão. Impedir que ela cresça em sua boca depende muito de suas próprias atitudes.

    Como a erosão cresce e aparece

    1. Compostos provenientes da alimentação ou do próprio organismo derrubam o pH da boca e deixam esse ambiente ácido.

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    2. Com o tempo, o esmalte do dente acaba destruído. A perda é irreversível – toda essa camada vai embora.

    3. Se nada for feito, o processo alcança a dentina, a polpa do dente. Os buracos afetam o sorriso e a mastigação.

    Fontes: Sigmar de Mello Rode e Clóvis Pagani, cirurgiões-dentistas e professores da Universidade Estadual Paulista em São José dos Campos (SP) / Reportagem visual: Ina Ramos

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