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Dermatite atópica: desconhecimento compromete diagnóstico e tratamento

Dia Nacional de Conscientização da Dermatite Atópica quer melhorar o atendimento aos pacientes e evitar estigmas sobre os sintomas dessa doença

Por Fabiana Schiavon
23 set 2022, 14h41
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Doença aflige 25% das crianças brasileiras, mas população ainda não sabe identificá-la. Causas reais, diagnóstico e tratamento ainda são barreiras até para os médicos (foto: Tharakorn Arunothai - Istock / Ilustração: Ana Cossermelli/SAÚDE é Vital)
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Manchas vermelhas, coceira, pele seca. A dermatite atópica é uma doença de pele crônica com o poder de afetar a rotina e a qualidade de vida. Apesar de atingir 20% das crianças e 2% a 5% dos adultos, ela é pouco conhecida pelo brasileiro.

Uma pesquisa feita pelo Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), a pedido da farmacêutica Pfizer, identificou que 60% das mais de 2 300 pessoas ouvidas têm pouca informação sobre ela. Enquanto 36% acham que é uma alergia simples, outros 24% não sabem nada a respeito. O Ipec fez o levantamento em todo o país, entre maio e junho de 2022.

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O problema: a falta de informação atrasa diagnósticos e provoca estigma. Ao ver uma pessoa com vermelhidões na pele, muitos se afastam por julgarem que se trata de algo contagioso (e não, a dermatite atópica não é transmissível). Esse preconceito já é relatado a alguns anos por pesquisas promovidas pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Em 2018, 35% das pessoas diagnosticadas declararam que sofreram discriminação, e 70% buscaram apoio psicológico. Já nessa pesquisa mais recente do Ipec, mesmo após o pesquisador revelar que essa condição não é contagiosa, 14% ainda afirmaram que teria medo de se aproximar de alguém com esses sinais na pele.

E é esse tipo de desinformação que justifica campanhas como o Dia Nacional de Conscientização da Dermatite Atópica, marcado para o 23 de setembro.

Mas o que é a dermatite atópica?

Cientistas e médicos ainda buscam respostas sobre a origem do problema. Sabe-se que há uma união de causas genéticas, imunológicas e ambientais, explica a dermatologista Rosana Lazzarini, da SBD.

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Estudos relacionam a doença a uma predisposição à chamada inflamação do tipo 2, que é uma resposta exagerada do sistema imunológico a certos elementos irritantes. Eles podem ser poluição, fumaça de cigarro ou até uma crise de estresse.

Essas características também são comuns entre quem sofre de asma, rinite alérgica e conjuntivite. Por isso, parte das pessoas que sofrem com o problema na pele também recebe esses outros diagnósticos. De acordo com o site Entenda a Dermatite Atópica, 50% das pessoas com essa enfermidade têm asma.

As manchas vermelhas e a irritação da dermatite atópica costumam surgir em dobras do corpo, como cotovelo, joelhos, pescoço. Com a coceira, a região se torna áspera e úmida. “Falta na pele dessas pessoas uma camada mais oleosa de proteção, o que causa essa irritação”, explica a dermatologista.

“É comum que casos simples se compliquem por falta de cuidado. Chegamos a ter episódios de internação hospitalar com crises que tomam o corpo todo”, relata Rosana.

A criança diagnosticada pode conviver com a dermatite pelo resto da vida, embora alguns casos desapareçam sozinhos. Com bons cuidados, talvez não se agrave. Há casos, mais raros, que surgem já na vida adulta.

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Como é feito o diagnóstico?

Ele é clínico, ou seja, através da observação da pele e do histórico do paciente. O médico vai verificar se há outras doenças que podem estar relacionadas e quando ocorrem as crises da dermatite atópica.

“Como forma um tipo de eczema na pele, essa doença pode ser confundida com a psoríase, por exemplo”, explica a dermatologista.

Há ainda outro tipo de dermatite, a de contato. Nela, as lesões brotam pouco tempo após o indivíduo encostar em algo que provoca uma irritação, como cosméticos ou produto de limpeza.

Como é o tratamento?

É bem particular. Ele pode começar com hidratantes e chegar até os antibióticos se as lesões forem contaminadas por bactérias ou fungos. Anti-alérgicos não são indicados.

Para conter a inflamação, corticoides orais podem entrar em cena,  mas eles demandam acompanhamento médico devido aos efeitos colaterais. Os medicamentos imunossupressores também são aliados em certos contextos por acalmarem as células de defesa desordeiras, mas também inspiram cuidado.

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Um avanço considerável contra a dermatite atópica dos últimos anos foi a chegada do medicamento injetável dupilumabe, dos laboratórios Sanofi e Regeneron — ele combate a inflamação por trás da doença. É um anticorpo monoclonal que promete trazer alívio imediato.

Outra opção é o upadacitinibe, um medicamento oral voltado para casos que não se resolvem apenas com soluções tópicas, como pomadas e cremes, informa Clóvis Galvão, médico da Clínica Croce, de São Paulo, e professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Esse promete aliviar a coceira e o aspecto das lesões após quatro meses de tratamento.

O problema desses medicamentos é o alto custo.

+ Leia também: Chega novo remédio contra dermatite atópica

Dermatite afeta a rotina, o sono, o trabalho

A coceira da dermatite tira a concentração e a paz de quem passa por ela. “As crianças passam a noite se coçando, o que preocupa os familiares e atinge a vida de todos ao redor. Na escola, elas sofrem bullying pelas lesões serem aparentes”, relata Rosana.

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Mais dados, extraídos de outra reportagem nossa

  • A doença afeta 25% das crianças brasileiras
  • Os pacientes faltam 21 dias no trabalho por ano
  • Os sintomas aparecem por até 90 dias
  • Um quarto dos acometidos tem crises mensais
  • O principal sintoma relatado é a coceira
  • 6% ficaram internados com complicações
  • 35% sofreram algum tipo de preconceito
  • 12% dos pacientes já perderam a vontade de viver
  • 33% receberam um primeiro diagnóstico errado
  • 52% não vão a um especialista para tratar a doença

Onde o problema se manifesta

Os lugares mais comuns em que aparecem as lesões na pele:

Adulto

• Pálpebras
• Pescoço
• Dobra do cotovelo
• Parte de trás do joelho

Criança

• Pescoço
• Bochecha

Como lidar com a dermatite

Os cuidados passam por ajustes na rotina e acerto no tratamento:

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1. Atenção ao banho
Nem muito quente nem demorado, pois ele pode ressecar a pele já frágil. Evite esponja ou bucha.

2. Hidratar sempre
Abuse dos hidratantes indicados pelo médico, além de cremes específicos para as lesões. Nunca use produtos perfumados, porque isso pode irritar ainda mais a pele e causar ardência. Cremes com ureia, comumente indicados a pele secas, também não são recomendados.

3. Emoções em dia
Estresse e ansiedade desencadeiam crises. Fique atento ao bem-estar emocional e relaxe mais.

4. Olho nos extremos
O calorão e o friozão são ruins para a pele. Use roupas frescas no calor e agasalhos 100% algodão no frio.

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