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Depressão pós-parto: sinais, sintomas e como é o tratamento

Médico desvenda as particularidades deste transtorno e esclarece dúvidas comuns em relação ao uso de antidepressivos durante a amamentação

Por Joel Rennó Júnior, psiquiatra*
Atualizado em 4 jul 2024, 14h54 - Publicado em 4 jul 2024, 14h53
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  • A gestação e o puerpério são períodos da vida da mulher que envolvem inúmeras alterações físicas, hormonais, psíquicas e de inserção social, as quais podem refletir diretamente em sua saúde mental. É nesse cenário que surge a depressão pós-parto (DPP).

    As mudanças provocadas pela vinda do bebê também envolvem fatores socioeconômicos, com a inserção da mulher no mercado de trabalho e sua participação cada vez maior no orçamento familiar. Não há dúvida de que os primeiros meses após o parto podem ser exaustivos, com ansiedade elevada e insegurança com a nova responsabilidade.

    Em alguns casos, essa mistura desembocará na depressão-pós-parto. Trata-se de uma condição comum, que afeta 15% a 30% das mulheres no puerpério e pode persistir, se não tratada corretamente, por até cerca de 1 ano em 40% das mulheres diagnosticadas.

    O que a mulher com depressão pós-parto sente?

    Os principais sintomas são:

    Tais sintomas afetam, portanto, a relação mãe-filho ou toda a estrutura familiar e devem ser diagnosticados precocemente para minimizar prejuízos.

    Na depressão pós-parto, parece haver um componente ansioso mais proeminente, além de pensamentos recorrentes de causar danos à assistência e aos cuidados com o bebê, que geram grande sofrimento à mulher. Além disso, é frequente o relato de sentimentos ambivalentes acerca do bebê e de opressão pela responsabilidade de cuidar dos filhos.

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    Essas manifestações pesam a favor da possibilidade de conceitualizar a depressão pós-parto como um tipo específico de depressão, algo ainda não totalmente definido na medicina.

    + Leia também: Primeiro remédio para depressão pós-parto é aprovado nos EUA

    O que causa a depressão pós-parto?

    O único fator ambiental que parece ser significativo é a percepção da mulher a respeito do suporte afetivo do parceiro.

    Os hormônios também parecem desempenhar um papel relevante, já que a queda abrupta de estrogênio e progesterona logo após o parto são fatores importantes do início do quadro em mulheres vulneráveis, com antecedentes pessoais ou familiares de depressão e sujeitas a gatilhos estressores típicos desse período.

    Qual a diferença entre depressão pós-parto e “baby blues”?

    O “baby blues” puerperal que ocorre em cerca de 60% das mulheres é uma condição de ajustamento das mulheres às mudanças estressoras que podem ocorrer após o nascimento do bebê.

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    Não é uma doença e ocorre nos primeiros dias do puerpério, tendo duração máxima de duas semanas e acabando espontaneamente, sem a necessidade de medicação, apenas com suporte e assistência.

    É sempre importante que familiares e médicos fiquem atentos, já que cerca de 20% desses quadros podem evoluir para um episódio de depressão pós-parto — aí sim, é uma doença mental que precisa ser diagnosticada e tratada o mais breve possível.

    Na depressão pós-parto, os sintomas persistem por, ao menos, mais de duas semanas, causando sofrimento, mudanças de humor e comportamento, que prejudicam o cotidiano e interação da mulher.

    Antidepressivos e amamentação

    Em geral, a doença é tratada com medicamentos antidepressivos em quadros moderados e severos, e intervenções não-farmacológicas, como a psicoterapia.

    A depressão pós-parto não tratada pode oferecer consequências negativas tanto para a mãe quanto para o bebê. Pode também impactar no relacionamento conjugal.

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    Ao prescrever um antidepressivo para uma lactante, deve-se levar em conta que há dois pacientes na história: a mãe que precisa de tratamento; e o bebê que não carece de medicações, mas necessita da mãe sadia e em condições de lhe prestar cuidados indispensáveis.

    Não tratar essas mulheres pode oferecer, além dos riscos à saúde dos bebês, um prejuízo na formação do vínculo entre eles, atrasando o desenvolvimento psicomotor, cognitivo e de linguagem do bebê.

    De modo geral, as lactantes não devem ser aconselhadas a interromper a amamentação mediante a necessidade de uso do medicamento. A psicoterapia interpessoal e a cognitivo-comportamental isoladamente são eficazes em quadros leves. Mas isso só pode ser avaliado pelo especialista.

    Os antidepressivos mais prescritos, conhecidos como antidepressivos serotoninérgicos (que regulam a concentração do mensageiro químico cerebral serotonina) são considerados o grupo de escolha para mulheres amamentando porque são bem tolerados, têm eficácia em sintomas ansiosos e maior número de casos estudados quanto à segurança para o recém-nascido.

    A paroxetina, a sertralina e o escitalopram têm sido as medicações mais escolhidas e cabe ao psiquiatra escolher o mais adequado, sempre após avaliação clínica individual.

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    A depressão pós-parto prejudica a amamentação?

    Segundo alguns estudos, a DPP pode ser mais grave e mais prolongada (se não tratada corretamente) em mulheres que estão amamentando. Outro aspecto relevante estudado na atualidade é a associação entre depressão pós-parto e a concentração do leite materno.

    Embora não totalmente estabelecido, alguns estudos mostraram que a resposta endócrina à lactação pode ser diferente nas mulheres deprimidas, com níveis mais baixos de ocitocina e hormônio tireoidiano (T4), levando-as a secretar menos leite, com possibilidade de desmame precoce.

    Problema é subdiagnosticado e subtratado

    Apenas 18% das mulheres com depressão na gestação e no puerpério buscam tratamento. Isso acontece em parte porque alguns sintomas se confundem com a gestação normal ou com o pós-parto imediato (alterações de sono, apetite, cansaço, preocupações excessivas) e em parte em razão da crença de que esses devem ser períodos de satisfação e não de tristeza na vida da mulher.

    Muitos quadros acabam não sendo diagnosticados pelos profissionais de saúde porque tais estados de exaustão da depressão são considerados “normais”. E, durante as avaliações de pré-natal, costuma-se dar pouca importância à saúde mental.

    Conclusões

    * Joel Rennó Júnior é professor do departamento de psiquiatria da FMUSP, diretor do Programa Saúde Mental da Mulher (ProMulher) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da FMUSP e coordenador da Comissão de Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)

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    (Este texto foi produzido em uma parceria exclusiva entre VEJA SAÚDE e Brazil Health)

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