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Covid-19: por que a perda de olfato acontece e como tratar

Um dos sintomas da infecção pelo coronavírus, a perda de olfato pode persistir mesmo após a cura da doença. Entenda os motivos e como é tratada

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 14 dez 2020, 16h04 - Publicado em 10 dez 2020, 12h02
ilustração de um nariz com perda de olfato por causa do coronavírus
Há tratamento para perda de olfato persistente após a Covid-19.  (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
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A perda de olfato é um dos sintomas mais característicos da contaminação pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). E, diferentemente do que se vê em outras enfermidades respiratórias (rinite, sinusite, resfriados), na Covid-19 essa falha ocorre de forma abrupta e intensa.

O otorrinolaringologista Gilberto Ulson Pizarro, do Hospital Paulista, em São Paulo, explica que a causa ainda não está totalmente clara — assim como muita coisa que envolve a Covid-19, já que a doença é nova e complexa. “Já é possível afirmar que o coronavírus afeta as células responsáveis pelo olfato e pelo paladar”, diz.

Esse impacto culmina não apenas no sumiço total ou parcial da capacidade olfativa, mas também na dificuldade em distinguir corretamente os odores, levando o portador a sentir cheiros inexistentes naquele momento — como o de fumaça. “Isso demonstra que as células olfativas não estão funcionando corretamente”, raciocina o médico.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, com camundongos, primatas não humanos e pessoas já trouxe indícios de como esse mecanismo se dá na prática, como você pode ler aqui.

Assim como a maioria dos sintomas, a perda de olfato costuma se resolver um tempo depois que o paciente se cura. No entanto, parte dos infectados permanece por um período maior sem esse sentido, o que gera bastante incômodo.

O tratamento para a perda de olfato

Os infectados pelo Sars-CoV-2 que deixam de sentir cheiros são tratados por otorrinolaringologistas com um protocolo usado mundialmente em qualquer caso, independentemente do diagnóstico de Covid-19.

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Pizarro explica que, primeiramente, aplica-se um teste da Universidade da Pensilvânia (EUA), baseado em quatro cartelas com 40 odores diferentes. “Assim, dá para identificar de forma precisa o tipo de cheiro que foi perdido e acompanhar, com a mesma cartela, a evolução da recuperação”, ensina.

“Se o problema persistir, que é o que tem ocorrido com parte dos portadores do coronavírus, é possível indicar uma terapia também realizada no mundo todo, conhecida como treinamento olfatório”, acrescenta o otorrino.

A ideia dessa “reabilitação” é estimular várias regiões do nervo olfatório. Funciona assim: o paciente leva para casa recipientes com certos ingredientes dentro, como hortelã. Ele não consegue enxergar o conteúdo, apenas sentir o aroma. Todo dia ele precisa cheirar os frascos por 10 segundos e tentar identificar o que tem ali – a resposta fica embaixo do pote. Se o indivíduo não acertar a identificação, segue com o treinamento duas vezes ao dia.

Se algum dos cheiros for reconhecido (mesmo que de forma leve, como se estivesse bem distante), o médico conta que o paciente também deve continuar focado no treino porque é isso que fará seu olfato evoluir. “É como se fosse uma fisioterapia”, compara. Ora, você pode até fazer determinado movimento com o pé na terceira sessão, mas continuará o processo para aprimorar. No caso do olfato, esse aperfeiçoamento consiste em sentir os cheiros com clareza, sem qualquer dúvida e sem erros em relação à distância em que está o recipiente, por exemplo.

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Se o sentido não retornar corretamente ou não evoluir como o esperado, os especialistas lançam mão de remédios para auxiliar na recuperação.

O tratamento pode ser realizado normalmente em casa, desde que haja acompanhamento. “Ele não requer internação ou isolamento. Mas, sem auxílio médico, não é possível identificar quais percepções foram afetadas e em quais intensidades. Sem essas informações, a terapia não é eficaz”, alerta Pizarro.

O quão comum é a perda de olfato na infecção pelo coronavírus?

Pizarro relata que as informações sobre a incidência divergem. Os dados divulgados em agosto do Estudo de Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil (Epicovid19-BR), conduzido pela Universidade Federal de Pelotas (Ufpel), mostrou que 57% dos infectados relataram alteração na capacidade de sentir cheiros e gostos. Até aquele momento, os cientistas haviam entrevistado quase 90 mil pessoas pelo Brasil.

Já uma análise feita em hospitais da China, França e Alemanha, com 394 indivíduos que pegaram o Sars-CoV-2, revelou que 41% (161) sofreram com essa situação.

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Outra pesquisa, feita pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) e pela Academia Brasileira de Rinologia (ABR), constatou que, de 253 pacientes analisados, 90% (227) apresentaram o sintoma. Dentre eles, 53% (121) se recuperaram totalmente, 34% (76) tiveram recuperação parcial e 13% (30) não recuperaram o sentido até o fim da avaliação.

O otorrino conta ainda que, até novembro deste ano, 180 indivíduos procuraram o Ambulatório de Olfato do Hospital Paulista. “Todos pegaram coronavírus e registraram algum grau de danificação do olfato, sendo que 4,5% (oito) tiveram sumiço total desse sentido e 18% (32), redução parcial”, complementa.

O restante se recuperou rapidamente após tratamento ou de forma natural. “Em média, o comprometimento dura de 15 dias a um mês, mas o período oscila bastante, dependendo do grau dos sintomas”, conclui o profissional.

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