A maioria dos casos de Covid-19 é leve e nem precisaria de assistência médica. Isolamento, repouso e muita hidratação dão conta do recado. Só que cerca de 20% das pessoas pioram e necessitam de atendimento rápido. No pior momento da pandemia e em meio a notícias de hospitais lotados e novas variantes, paira a dúvida: o que fazer, então, ao suspeitar da doença?
Em linhas gerais, o importante é monitorar a evolução do quadro atentamente desde o princípio. A mortalidade entre jovens aumentou no país, e os médicos têm notado que alguns aparecem no pronto-socorro já em estado crítico. A demora na busca por ajuda é tida como uma das responsáveis por essa mudança de perfil do paciente com sintomas mais graves da Covid-19.
“Algumas vezes, a pessoa chegam ao hospital já precisando de ventilação mecânica, apesar da baixa idade e da ausência de doenças crônicas”, comenta o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
Por outro lado, o atendimento precoce não raro acaba funcionando como desculpa para promover um “tratamento precoce” com medicamentos comprovadamente ineficazes.
Diante de tantas dúvidas e angústias, preparamos um guia para pessoas em diferentes situações.
Os primeiros sintomas da Covid-19
As mais diversas queixas foram relacionadas ao coronavírus. As mais comuns no começo da doença são tosse, febre, dor no corpo, dor de cabeça, diarreia e alterações de olfato e paladar. Se começar a sentir algum desses, a SBI recomenda se consultar com o médico para fazer o diagnóstico.
O ideal é buscar esse contato com o especialista por telefone ou telemedicina, para evitar deslocamentos. A partir da conversa e da avaliação à distância, ele conseguirá decidir se é o caso de permanecer em casa, manejando os sintomas, ou ir para um ambulatório.
Para quem não consegue recorrer à telemedicina, a SBI orienta a buscar hospitais públicos e privados, além das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA), que possuem centros de triagem para a Covid-19.
Só tenha em mente que, mesmo após uma consulta presencial, é provável que você volte para casa e fique aguardando os sintomas desaparecerem. “Em casos leves, o tratamento indicado é o mesmo para outras infecções virais: repouso, hidratação e remédios para amenizar febre e dores”, opina Weissmann.
O que não vale é fazer o teste por conta própria. “A falta de orientação médica na escolha do tipo e na interpretação dos resultados pode causar mais preocupação do que ajudar”, completa o infectologista. Mesmo o RT-PCR, que é o padrão do diagnóstico, tem resultados falso-positivos e, principalmente, falso-negativos.
Os sinais de alerta
É muito importante ficar de olho no próprio estado. “Se sintomas como febre e dor melhoram, há grandes chances de o quadro progredir bem, sem maiores complicações”, aponta Alexandre Zavascki, infectologista do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre (RS)
A piora — que atinge uma minoria de infectados e ocorre por volta do sétimo dia de doença — pode ser relativamente silenciosa a princípio. Nesse estágio, a inflamação sai do controle e a oxigenação do sangue cai, porque o pulmão não está funcionando bem.
“A falta de ar só aparece mais tarde”, alerta Zavascki. Antes dela, a pessoa tende a apresentar um cansaço fora do normal, ou uma tosse persistente. Outros sinais de alerta são febre por mais de três dias, alterações de consciência, confusão mental ou um sentimento de piora progressiva. Fique de olho.
Para flagrar o agravamento da Covid-19 cedo, dá para lançar mão do oxímetro. O preço do equipamento varia, mas fica na casa dos 200 reais. “A oximetria pode ser feita diariamente, de preferência duas vezes ao dia, com o paciente sentado, em repouso e com o dedo quente”, ensina Weissmann. Se os resultados ficarem abaixo de 92%, é necessário procurar o pronto-atendimento.
Se você não puder comprar um, vale conversar por telefone com o médico e ver se ele recomenda uma visita ao hospital ou a um consultório para fazer essa avaliação.
Demora pode custar caro
Se os indícios citados acima surgirem, o quadro vira uma urgência médica e exige atenção imediata. É aqui que mora o problema. Como no ano passado as principais vítimas eram idosos e portadores de doenças crônicas, ainda paira entre indivíduos mais novos e saudáveis a ideia de que o coronavírus não oferece qualquer risco a eles.
E, na maioria dos casos, de fato a Covid-19 não irá se agravar entre essa turma. Mas essa confiança faz com que os mais jovens demorem para levar a sério certos sintomas, o que diminui as chances de vencer a infecção e aumenta a de apresentar sequelas.
“Em casos graves, quanto mais cedo o indivíduo receber o oxigênio e o tratamento para combater a inflamação exacerbada, melhor”, orienta Zavascki.
Mas, então, por que não antecipar o uso de certos remédios ou apostar o tal kit-Covid? Porque, quando a doença é leve, eles não oferecem benefícios, e podem até causar danos. Remédios como cloroquina e ivermectina não interferem no curso da doença e podem contribuir com o atraso no atendimento, já que fica a esperança do “kit” fazer efeito.
“Não há o que fazer, exceto acompanhar”, diz Zavascki. Recentemente, um coquetel de anticorpos batizado de REGN-COV2 foi aprovado emergencialmente no Brasil para casos mais leves. Só que ele é caro e ainda não está de fato disponível em nosso país.