Coquetel de vírus pode ser arma contra superbactérias
Estudo conduzido por pesquisadores australianos mira em agentes capazes de infectar e matar bactérias
As bactérias resistentes aos antibióticos representam uma grave ameaça à saúde pública. O problema global, que se espalha silenciosamente dentro e fora de ambientes hospitalares, poderá tornar infecções comuns cada vez mais difíceis de tratar.
Buscando reverter esse cenário, cientistas de diversas partes do mundo trabalham em soluções mais práticas, considerando que o desenvolvimento de um novo antimicrobiano é um longo processo, que pode durar até 15 anos.
A nova aposta de experts Universidade Monash e do hospital The Alfred, na Austrália, envolve uma combinação de vírus capazes de infectar e destruir bactérias, os chamados bacteriófagos, também chamados de fagos.
A utilização desse tipo de vírus como recurso em pesquisas no enfrentamento da resistência antimicrobiana não é bem uma novidade na literatura científica, como explica o médico infectologista Carlos Kiffer, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
+ Leia também: Vírus que matam bactérias ganham força contra infecções letais
“Pesquisadores no mundo têm tentado desenvolver fagos para auxiliar no combate a bactérias resistentes. A ideia é que eles ajudem a controlar infecções por estas bactérias, especialmente quando há resistência a múltiplos antimicrobianos e a opções de tratamento são falhas ou até mesmo inexistentes”, resume Kiffer.
Porém, os estudiosos australianos apresentam novidades no trabalho publicado no periódico Nature Microbiology.
O coquetel de vírus
O tratamento sugerido na nova pesquisa envolve um coquetel de cinco fagos desenvolvido especificamente para combater o complexo Enterobacter cloacae (ECC), um grupo de bactérias que causa infecções graves e difíceis de tratar. A terapia recebeu o nome de Entelli-02.
+ Leia também: Como descartar remédios para não contaminar o meio ambiente
O professor da Unesp destaca diferenciais da análise. “Os cientistas fizeram testes pré-clínicos de eficácia. Mostraram que funciona para um grupo de bactérias tanto em estudos in vitro quanto em estudos com modelos animais”.
O coquetel final contém cinco bacteriófagos que podem matar uma ampla gama de isolados de Enterobacter e, assim, reduzir as cargas bacterianas em camundongos infectados em mais de 99%.
“Outro diferencial é que os pesquisadores usaram um ‘processo’ que pode servir de exemplo a outros produtores de fagos em diferentes locais do mundo. No entanto, vale lembrar que há ainda muitas limitações”, pontua Kiffer.
Entre as ponderações, o professor da Unifesp ressalta que os fagos são vírus direcionados a bactérias específicas: o que funciona para uma pode não funcionar para outra. Além disso, as regras regulatórias de produção e uso destes produtos ainda são incipientes.
“Ainda há muita dúvida sobre segurança em larga escala e efeitos de longo prazo do seu uso. Produção em larga escala provavelmente será muito difícil e deve ser um problema a ser resolvido no futuro, caso se mostre eficácia e segurança de uso”, conclui.
Hipertrofia muscular: o que é, como ela acontece e quais erros evitar







