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Como as vacinas para a Covid-19 ficaram prontas tão rápido?

Pode confiar! As primeiras vacinas aprovadas para conter o Sars-Cov-2 foram desenvolvidas em menos de um ano, mas sem abrir mão de segurança e eficácia.

Por Maria Tereza Santos
Atualizado em 12 mar 2021, 12h24 - Publicado em 28 dez 2020, 15h47
terceira dose da vacina
Pessoas idosas passam pelo processo de envelhecimento do sistema imunológico. Daí porque há queda de proteção nelas. (Ilustração: Edson Lovatto/SAÚDE é Vital)
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Em menos de doze meses, algumas vacinas contra Covid-19 já foram aprovadas e estão sendo aplicadas em dezenas de países. Mesmo passando por estudos rigorosos, ainda há desconfiança sobre a segurança e eficácia delas. Afinal, é possível desenvolver uma vacina em tão pouco tempo?

Antes de mais nada, saiba que não existe um tempo pré-determinado para desenvolvimento de imunizantes. A duração do processo depende de muitas variáveis: sucesso das pesquisas pré-clínicas, ainda em laboratório, recrutamento dos voluntários, vacinação, monitoramento, avaliação dos órgãos regulatórios e por aí vai.

“Produzir vacinas é um investimento de risco. Estimamos que entre 7 e 10% das que começam a ser elaboradas chegam a ser aprovadas e distribuídas”, aponta a epidemiologista Denise Garrett, vice-diretora do Sabin Vaccine Institute, nos Estados Unidos.

Até então, a vacina que ocupava o posto de mais veloz era a da caxumba, que levou quatro anos para surgir, nos anos 1960, quando a fase de testes era mais simples e curta. A do ebola, mais recente e feita de acordo com os protocolos atuais, levou cinco anos.

Uma combinação de fatores fez com que as recém-nascidas batessem esses recordes. Primeiro, o fato de que estamos vivendo a maior pandemia da história desde a gripe espanhola, no início do século passado. Até agora, mais de 1,5 milhão de pessoas morreram e não há tratamento específico contra a doença.

“Numa situação dessas, os laboratórios não caminham como em um passeio no parque. Eles correm como se estivessem nas Olimpíadas, querendo chegar primeiro e rápido”, brinca Denise.

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Ou seja, se antes os investimentos eram feitos vagarosamente e com cautela por conta do risco, a urgência atual fez governos e entidades privadas não medirem esforços para custear o trabalho de cientistas.

“Dessa forma, foi possível avançar rapidamente. Nunca se viu tantas empresas farmacêuticas envolvidas em uma vacina. Chegamos a ter mais de setenta interessadas”, relata a especialista.

Fora que a dedicação dos pesquisadores e o aporte financeiro ajudaram a tirar do anonimato tecnologias novas, mais rápidas e simples, como as vacinas de vetor viral (AstraZeneca, Janssen e Sputnik V) ou de RNA mensageiro (Pfizer e Moderna). Elas são desconhecidas do público, mas não chegaram ontem.

“Essas novas plataformas estão sendo estudadas há décadas. O que aconteceu foi que a pandemia acelerou esse uso, dessa maneira conseguimos mais de um imunizante seguro e eficaz em menos de um ano”, explica a expert.

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Por que ainda existem doenças sem vacina?

Talvez você esteja se perguntando: se foi possível fazer um imunizante tão rápido contra um vírus que surgiu há um ano, porque os cientistas simplesmente não fabricam vacinas para tantas outras doenças?

Além de o cenário de surto ajudar a apressar a corrida, existem algumas especificidades do novo coronavírus que encurtaram o caminho. Uma delas é a baixa taxa de mutações do Sars-Cov-2, que acontecem, mas não a ponto de atrapalhar o desenvolvimento da vacina.

“Ele muda numa taxa aproximadamente quatro vezes menor que o HIV e duas vezes menor que o vírus influenza, causador da gripe”, compara a epidemiologista.

Os pesquisadores também não gastaram tanto tempo para descobrir qual parte do agente precisava ser neutralizada para impedir sua disseminação no corpo.

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Veja: há uma proteína específica no Sars-Cov-2 que se liga às células do nosso organismo. É a chamada espícula ou spike. “Esse é o alvo das vacinas. E, por sorte, foi fácil identificá-la”, afirma a profissional.

Além das mutações dos vírus, os mecanismos de ação de outros agentes infecciosos podem dificultar a criação de vacinas contra eles. “A malária, por exemplo, é provocada por um protozoário que se esconde muito bem do sistema imunológico”, exemplifica a vice-diretora do Sabin.

Para doenças não-infecciosas, a criação de uma vacina é ainda mais complicada, já que elas não surgem apenas por conta de um intruso (como um vírus ou bactéria). Ainda não temos nenhuma do tipo aprovada, apenas pesquisas, em especial para o câncer.

A segurança das vacinas foi testada

Apesar da velocidade, todas as etapas dos estudos das doses já aprovadas contra a Covid-19 foram cumpridas como manda o protocolo, que é sempre o mesmo. São três fases de testes em humanos, sendo a terceira, em dezenas de milhares de pessoas, a definitiva para atestar segurança e eficácia.

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“Aliás, essa fase foi ainda mais rigorosa”, revela Denise. Normalmente, os órgãos regulatórios exigem apenas seis semanas de observação dos voluntários para verificar a ocorrência de efeitos adversos, que é o período em que eles costumam ocorrer.

“Nos Estados Unidos, o FDA [Food and Drug Administration Agency, órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos] exigiu que esse tempo fosse estendido para oito semanas”, informa.

É importante frisar que existe, sim, a possibilidade de efeitos colaterais graves surgirem agora que a imunização em massa foi iniciada. Entretanto, o normal é que sejam pouquíssimos casos em meio a milhões de pessoas – o risco de algo do tipo é bem menor do que o de morrer ao contrair a Covid-19.

Depois da aprovação esse risco também é monitorado, na chamada fase 4 dos estudos, o teste “da vida real”. Até agora, quase cinco milhões de pessoas já receberam as vacinas contra o Sars-Cov-2 e o único acontecimento preocupante foram quatro reações alérgicas graves, em indivíduos que foram prontamente tratados e se recuperaram bem.

“Não houve atalhos, não se pulou nenhuma etapa de verificação de segurança e eficácia. Tudo foi feito dentro do rigor científico”, finaliza Denise.

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