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Colar de âmbar não alivia dor de dente e traz riscos aos bebês

Estudo brasileiro conclui que a resina não libera substância associada ao alívio desse incômodo, mas sim uma bactéria que vive na nossa pele

Por Larissa Beani
8 ago 2024, 11h29
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  • Irritação, salivação excessiva, gengivas avermelhadas e inchadas por volta dos seis meses de idade… esses são alguns sinais de que os primeiros dentinhos do seu bebê estão para nascer. Para aliviar o desconforto, muitos pais e mães recorrem ao colar de âmbar, que seria anti-inflamatório. Mas, de acordo com a ciência, o adorno não tem eficácia alguma para este propósito.

    “Muitos acreditam que, ao entrar em contato com a pele, o âmbar liberaria uma substância que alivia os sintomas do bebê, mas, como demonstramos em laboratório, isso não acontece”, explica Tatiana Fidalgo, odontopediatra e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

    A acadêmica liderou um estudo que simulou características da pele humana para observar o funcionamento do adereço. E atestou na prática que ele não funciona. Entenda abaixo. 

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    O que é o colar de âmbar?

    O âmbar é uma resina que leva milhares de anos para ser formada. É muito conhecida por ser capaz de preservar insetos, plantas e até pequenos animais vertebrados por milhões de anos, além de ser um material cobiçado por joalheiros por sua beleza singular.

    Escavações arqueológicas indicam que a humanidade fabrica peças de âmbar desde a Idade da Pedra (período de 10.000 a. C a 2.200 a.C.), e a associação desse material a propósitos místicos e medicinais sempre esteve presente em muitas culturas.

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    Não se sabe ao certo de onde vem ou quando surgiu a história de que o âmbar seria eficaz para o alívio da irritação provocada pela erupção de dentes de leite, mas o fato é que, no desespero para trazer conforto ao bebê, muitas pessoas compram essa ideia (e o produto).

    A justificativa para esse tal efeito seria a existência do ácido succínico no material, que, em tese, seria liberado pelo contato com a pele. O estudo brasileiro, no entanto, mostra que, na prática, isso não acontece.

    O que a ciência diz sobre o colar de âmbar

    Orientados por Fidalgo, pesquisadores brasileiros simularam, em culturas in vitro, o comportamento do âmbar na pele humana. Foram usadas contas de um colar cujo âmbar foi extraído na Lituânia, na região báltica, de onde geralmente vêm os adornos.

    Enquanto algumas contas foram submersas em uma solução salina, imitando o suor humano, outras foram postas em contato com a bactéria Staphylococcus epidermidis, que habita naturalmente a nossa pele desde pequenos. Também houve o cultivo do microrganismo em placas sem as miçangas. As amostras foram analisadas após 24 horas e passados sete dias. 

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    Ao avaliar os conjuntos de contas imersas na solução salina, nada foi detectado após o primeiro dia de testes. Somente após uma semana, foi identificada uma quantidade irrisória de ácido succínico.

    “É como se a criança tivesse que ficar uma semana sem tomar banho para haver uma liberação insignificante da substância pelo contato do suor com o âmbar. Não é plausível nem vantajoso”, crava Fidalgo.

    + Leia também: Dentes de leite: a importância da transição natural para os permanentes

    Já nas amostras que continham a bactéria S. epidermidis, a liberação do ácido succínico foi expressiva — com ou sem as contas. “Ou seja, o que realmente é responsável pela liberação do ácido que alivia a irritação na gengiva são essas bactérias que vivem naturalmente na nossa pele. O âmbar não tem participação nesse processo”, esclarece a odontopediatra.

    Além de não promover benefício algum, a especialista ressalta que o uso dos colares traz risco à saúde dos pequenos. “A peça pode se romper e as crianças podem engolir as contas, causando engasgo e asfixia, que pode levar à óbito”, alerta.

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    Os resultados do estudo, realizado em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foram publicados na revista científica International Journal of Paediatric Dentistry

    Como aliviar dor de dente em bebês

    O que, então, os pais podem fazer para aliviar o incômodo dos pequenos? Segundo Fidalgo, as ações devem se limitar à oferta de mordedores e de alimentos gelados.

    Temperaturas mais frias induzem uma ação anti-inflamatória que ajuda a diminuir o incômodo”, explica a pesquisadora. “Os pais podem apostar em frutas geladas durante o período de introdução alimentar e até o ‘peitolé’, picolé feito com leite materno.”

    + Leia também: Escovando os dentes do bebê: quais os cuidados necessários

    De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), para fazer o peitolé (também apelidado de tetolé), basta extrair o leite, colocá-lo em uma forma de sorvete sem bisfenol A e levá-lo ao congelador. “Há de se tomar os mesmos cuidados de higiene na extração e no armazenamento do leite materno recomendados para doação do leite humano”, ressalta a entidade.

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    Além de evitar os colares de âmbar, também é desaconselhável utilizar pomadas analgésicas, pois elas podem provocar reações alérgicas ou mesmo oferecer risco de toxicidade.

    Nesta fase em que os dentinhos começam a nascer, é importante consultar um odontopediatra, profissional capacitado para orientar os primeiros cuidados com a higiene bucal das crianças.

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