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Cirurgia bariátrica não é “último recurso” para obesidade, dizem especialistas

Primeiro Encontro Nacional de Pacientes Bariátricos traz aulas de médicos e depoimentos de pacientes para esclarecer mitos sobre o tratamento da obesidade

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 7 ago 2024, 11h45 - Publicado em 6 ago 2024, 09h18
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  • “Eu não enxergava um futuro. Aí fiz a cirurgia bariátrica e perdi 76 quilos com o tempo. Foi um divisor de águas na minha vida”. Foi assim que a carioca Thayna Fumero descreveu sua experiência com o procedimento no Primeiro Encontro Nacional de Pacientes Bariátricos, realizado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) no último sábado, 3 de agosto.

    Além de depoimentos de pacientes, o evento inédito, feito em parceria com VEJA SAÚDE, trouxe o que há de mais novo sobre o procedimento e discutiu o cenário atual do tratamento da obesidade por meio de aulas e debates com especialistas.

    Um mito desfeito logo nas primeiras apresentações é o de que haveria um abuso na realização de cirurgias bariátricas no país. Em sua apresentação, o cirurgião do aparelho digestivo Felipe Rossi, de São Paulo, destacou que, para cada 100 pacientes com indicação clara dessa técnica, apenas dois efetivamente se submetem a ela no Brasil.

    “Isso acontece por causa da desinformação e também pelo preconceito que envolve a obesidade. As pessoas ainda acham que a doença é causada por preguiça e que, portanto, bastaria força de vontade para vencê-la”, argumentou. Ledo engano.

    Obesidade é doença e deve ser encarada como tal

    As consequências da obesidade foram um dos principais temas do encontro, realizado no Teatro Unip, em São Paulo, com o apoio de Medtronic, Johnson & Johnson MedTech, Marlex, Belt Nutrition e Panther Healthcare.

    O endocrinologista João Eduardo Salles, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, explicou como o organismo atua por diferentes vias para impedir a perda de peso no longo prazo. Quando começamos a emagrecer bastante, por exemplo, ele dispara uma enxurrada de hormônios para aumentar a fome e restringir o gasto calórico.

    Salles ainda fez uma provocação: “Hoje nós tratamos as doenças associadas à obesidade, como diabetes e hipertensão, com vários remédios. Mas não fazemos o mesmo com a obesidade em si, não há nem medicamentos modernos para ela no SUS. Até quando?”

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    Aliás, neste sentido, foi destacado no evento que a cirurgia bariátrica é capaz de atuar tanto na obesidade quanto no controle do diabetes e da pressão alta. E não só pela perda de peso.

    “O intestino é o órgão que mais produz hormônios. Ao mexer positivamente nisso, a operação ajuda a melhorar o metabolismo como um todo“, apontou Marcos Leão, cirurgião bariátrico da Bahia e ex-presidente da SBCBM, em sua apresentação.

    O controle adequado da obesidade traz inclusive uma redução no risco de tumores malignos. “Há pelo menos 13 tipos de câncer inequivocamente ligados à obesidade, e provavelmente existem muitos mais”, afirmou o cirurgião Paulo Kassab, da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em sua palestra. Ele também compartilhou estudos mostrando que a cirurgia bariátrica diminui o aparecimento da doença neste contexto.

    +Leia também: Em 20 anos, 75% dos adultos brasileiros terão obesidade e sobrepeso

    Bariátrica não precisa ficar por último

    Diante dessas evidências atuais, uma discussão quente é sobre o momento ideal para realizar esse procedimento.

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    A resposta para isso varia e está em debate na ciência, principalmente diante também do avanço em paralelo dos novos medicamentos contra a obesidade. Porém, a cirurgiã Carina Fernandes deixou claro em sua palestra que é mito que a cirurgia bariátrica deve ser a última opção.

    Segundo ela, o imaginário popular ainda acredita que a técnica é restrita a casos gravíssimos de obesidade — o que, inclusive, pode adiar a indicação para um momento em que seus benefícios não seriam mais tão potentes. “Sobram mitos na área. Precisamos enfrentar esses estigmas”, ressaltou.

    Antônio Carlos Valezi, presidente da SBCBM, explica que o procedimento é indicado a pacientes com índice de massa corpórea (IMC) acima de 40 kg/m², acima de 35 kg/m² na presença de comorbidades graves ou ainda acima de 30 kg/m² em indivíduos com diabetes. Neste último caso, ela é chamada de cirurgia metabólica. 

    Cuidados antes e depois da bariátrica

    Apesar das vantagens que traz, é inegável que a intervenção traz desafios próprios, e efeitos que precisarão ser manejados.

    A suplementação, por exemplo, entra como parte do cotidiano. E a alimentação, principalmente no pós-operatório, precisa ser regrada e ajustada.

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    Sobre esse último ponto, aliás, a nutricionista Tarcila Campos gravou um vídeo para as redes sociais de VEJA SAÚDE. Confira:

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    As principais complicações, contudo, surgem quando a indicação da cirurgia não é correta, quando a avaliação pré-operatória é insuficiente e apressada ou quando o acompanhamento depois do procedimento é deixado de lado.

    Apoio psicológico, nutricional e prática de exercícios são fundamentais, porque a cirurgia não elimina a gordura diretamente. O que a técnica faz é controlar a fome e, com isso, facilitar a adoção de hábitos saudáveis.

    Como escolher o médico e o método?

    Outro risco apontado durante o Primeiro Encontro Nacional de Pacientes Bariátricos é a aposta em métodos cirúrgicos que ainda não são consagrados ou mesmo autorizados pelos órgãos regulatórios. Seja pelo custo, seja por promessas infundadas, tem gente que investe em técnicas alternativas dessa cirurgia, o que favorece complicações.

    Como evitar esses problemas? Antes de tudo, é importante optar por um bom profissional. O cirurgião bariátrico Luiz Vicente Berti, de São Paulo, conversou com VEJA SAÚDE e deu algumas dicas sobre isso no vídeo abaixo:

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    Outro ponto importante para não se frustrar é manejar as expectativas. A bariátrica pode ser um recurso interessante, mas exige cuidados e não faz milagre, como bem apontou o psiquiatra Hélio Tonelli no encontro.

    “Sozinha, a cirurgia bariátrica não vai melhorar a empregabilidade ou o relacionamento de ninguém. Ela vai ajudar o paciente a alcançar um bom peso e seus objetivos”, reforçou. 

    A vida, com suas muitas dificuldades, vai seguir. O que nos leva para o momento final do evento, quando Antonio Carlos Valezi revelou o motivo de o símbolo da sociedade ser uma borboleta: “A borboleta passa por uma metamorfose. E vocês, pacientes aqui presentes, fizeram essa mudança. Saíram de uma condição de saúde ruim para uma qualidade de vida muito maior”.

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