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Chikungunya ficou mais mortal que a dengue?

Conversamos com uma grande especialista sobre o aumento expressivo no número de infecções por esse vírus no Brasil e a possível maior agressividade dele

Por Theo Ruprecht
Atualizado em 8 Maio 2023, 18h27 - Publicado em 18 jul 2016, 15h12
André Moscatelli
André Moscatelli (/)
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O Ministério da Saúde divulgou recentemente um dado preocupante: de janeiro a maio deste ano, foram notificados no Brasil 122 726 casos de chikungunya. Esse número é cerca de nove vezes maior do que o observado no mesmo período do ano passado. Atualmente, o estado da Bahia é o que mais preocupa — só lá foram registrados 36 832 episódios.

O chikungunya é um vírus que provoca, além de febre, muitas dores pelo corpo. Mas até então vinha sendo associado a uma mortalidade bem menor do que a da dengue. Acontece que em certos locais do país, como no Rio Grande do Norte, isso se inverteu. Para interpretar todos esses dados e ajudar a entender a epidemia, entrevistamos a infectologista Carolina Lázari, do Fleury Medicina e Saúde (SP). Confira:

SAÚDE: Esse aumento no número de casos de chikungunya de 2015 para 2016 tem alguma justificativa?
CAROLINA LÁZARI: Não há um motivo que já tenha sido documentado cientificamente. Provavelmente o crescimento se deve a múltiplos fatores atuando conjuntamente, como a introdução do vírus em áreas onde a população não havia sido previamente exposta, as condições ambientais favoráveis à multiplicação do mosquito transmissor e a maior experiência dos médicos com a “nova doença”, o que aumenta a chance de que tenham a suspeita e notifiquem os casos. Além disso, há um maior acesso aos exames laboratoriais que a confirmem. Contudo, é importante ressaltar que, se há intensa circulação do vírus, muito provavelmente estamos falhando nas medidas de controle da proliferação do vetor: se não houvesse Aedes aegypti, não haveria novos casos.

Também foram notificados mais mortes do que antes. Isso seria devido à maior quantidade de casos ou o chikungunya está mais agressivo do que antes?
Embora seja razoável afirmar que o número absoluto de óbitos seja maior porque o número de casos é crescente, há evidências de que o número de mortes a cada mil casos notificados tem sido maior do que o registrado em epidemias anteriores em outros países, incluindo os da América Latina. Mas mesmo esses números são difíceis de calcular, uma vez que não sabemos exatamente a dimensão do número total de casos.

Ou seja, é altamente provável que haja subnotificação. Classicamente, sabemos que os casos mais graves e os óbitos são mais frequentemente notificados, o que pode trazer um viés. Por outro lado, não podemos permanecer na incerteza: ainda que sujeitos a desvios relacionados à melhoria da capacidade diagnóstica e da notificação, os dados mostram uma tendência que precisa urgentemente ser investigada, tanto no sentido de refinar os números obtidos, quanto com o intuito de estabelecer causas prováveis caso o comportamento mais letal da doença no Brasil venha a se confirmar.

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O chikungunya é mais agressivo do que a dengue em termos de mortalidade?
Classicamente, não. O vírus da dengue é muito mais propenso a causar síndromes hemorrágicas e choque circulatório, condições graves e com alta letalidade. Já o vírus chikungunya, embora possa trazer sintomas crônicos e limitantes aos doentes, bem como cursar com complicações neurológicas, raramente provoca quadros que levam à morte. Pelo menos pelo que se conhecia sobre o comportamento da doença até agora. Entretanto, os dados publicados por estados onde tem ocorrido o maior número de casos, a exemplo do Rio Grande do Norte, indicam que neste momento e naquela região, o número de óbitos relacionados ao chikungunya foi maior do que aqueles provocados por dengue. Mas por enquanto é pequena a proporção de casos suspeitos de morte associada a essas doenças que já foram confirmados. Portanto, poderemos chegar a conclusões mais plausíveis quando as investigações avançarem e os números de óbitos confirmados forem mais expressivos.

Já há um consenso da ciência se as dores nas articulações vindas do chikungunya podem se tornar crônicas?
Sim, há evidências bastante consistentes. Estudos publicados por pesquisadores que atuaram na Ilha Reunião (costa leste da África), onde ocorreu a maior epidemia de chikungunya antes da introdução do vírus nas Américas, demonstram que a doença articular pode se tornar crônica, inclusive com recorrência dos sinais inflamatórios comuns na fase aguda, e até mesmo apresentar evolução muito semelhante a doenças reumáticas de causa não infecciosa, como a artrite reumatoide, podendo levar a limitações e deformidades articulares permanentes. Dados semelhantes já estão sendo divulgados na Colômbia, onde o vírus chegou há mais tempo que no Brasil, mas ainda com um período menor de  seguimento dos casos, evidentemente.

Como se proteger do chikungunya?
Do mesmo modo que as demais doenças transmitidas por mosquitos, as medidas individuais mais eficazes são aquelas que evitam que a pessoa seja picada, com destaque para o uso de repelentes, seguindo corretamente as recomendações de concentração de princípio ativo e reaplicação do produto. Do ponto de vista de saúde coletiva, são essenciais as medidas de controle de proliferação do vetor, tanto aquelas que podem ser realizadas por cada um em torno de si, quanto àquelas que fazem parte dos programas governamentais, com igual importância. A conscientização da população e o treinamento sobre os sintomas da doença e os sinais que indicam gravidade são fundamentais para que as mortes sejam evitadas.

Quem já foi infectado uma vez pode ter de novo?
Pelo que sabemos até o momento, não.

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