O Rio Grande do Sul segue enfrentando a pior catástrofe climática de sua história. Com cheias recorde que afetaram o interior pelos rios Jacuí e Taquari, chegando também à região metropolitana de Porto Alegre no estuário do Guaíba, estima-se que mais de meio milhão de pessoas já foram impactadas. Em meio à urgência, autoridades sanitárias também acendem o alerta para doenças que podem ser contraídas nas águas da enchente, em especial a leptospirose.
Com vários hospitais do RS tendo que ser evacuados em razão das cheias, o sistema de saúde gaúcho vive um cenário de superlotação e possível escassez de insumos que lembra os piores dias da pandemia de Covid-19. Por isso, conhecer os sinais dessas doenças torna-se fundamental para entender quando buscar ajuda, evitando uma sobrecarga ainda maior dos serviços de saúde.
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O que é a leptospirose
A leptospirose é uma doença provocada pelo contato direto ou indireto com a urina de animais contaminados pela bactéria Leptospira. Em períodos de enchente, é extremamente comum que esse contágio se dê com ratos como intermediários, devido ao extravasamento das redes de esgoto.
A infecção ocorre pelo contato da água contaminada com feridas na pele ou mucosas. Mas mesmo a pele íntegra pode ser afetada em casos nos quais a pessoa fica imersa por longos períodos, como pode ocorrer em quem está ilhado.
É importante notar que a leptospirose nem sempre provoca sintomas imediatamente após o contágio. O mais comum é que a incubação leve em torno de 7 a 14 dias, mas pode demorar até um mês para os primeiros sinais aparecerem.
Febre, dor de cabeça, dores musculares, náuseas, vômitos e diarreias são sintomas comuns a essa doença, que pode progredir e causar hemorragias e comprometimento pulmonar se não for tratada – quadros potencialmente fatais.
Como os sintomas iniciais da leptospirose são muito parecidos com outras doenças, como a dengue, ela pode ser confundida com outros quadros. Por isso, pessoas que tiveram contato com as águas da enchente devem informar imediatamente ao médico que isso ocorreu, para acelerar a investigação e confirmação do diagnóstico.
Doenças de enchente além da leptospirose
Embora seja a mais comum, a leptospirose não é o único problema que pode vir das águas sujas em uma cheia. Outros vírus e bactérias também podem circular por ali, levando a problemas seja pela ingestão acidental da água ou pelo contato do líquido com ferimentos na pele e mucosas.
Em lugares nos quais houve extravasamento da rede de esgoto, é importante ficar atento também à possibilidade de contágio por hepatite A e hepatite E, cólera e tétano.
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Embora a sazonalidade esteja se confirmando com uma redução nos casos de dengue desde abril, também não se pode descartar que o acúmulo de água parada acabe provocando um novo surto da doença nas cidades afetadas, em função da proliferação dos mosquitos. Nesse caso, tudo também vai depender da temperatura, já que o RS se aproxima de meses mais frios, hostis ao Aedes aegypti.
Falta de água potável também exige atenção
Muitas cidades gaúchas também estão enfrentando problemas no abastecimento de água, o que pode levar a dificuldades na higienização e preparo dos alimentos. Na dúvida sobre a procedência ou a qualidade da água, é fundamental filtrá-la ou fervê-la antes do uso para consumo, para evitar infecções gastrointestinais.
Autoridades também apontam uma solução emergencial caso não haja qualquer possibilidade de filtragem ou fervura: deixar a água suja decantar, separar o líquido sem detritos e então realizar a desinfecção usando uma pequena quantidade de solução de hipoclorito de sódio a 2,5%, popularmente conhecido como água sanitária.
Neste caso, deve-se usar duas gotas de hipoclorito de sódio para cada litro de água, deixando a solução agir por meia hora antes do consumo. Não se deve utilizar a substância desinfetante em concentrações maiores, para prevenir que ela própria cause danos à saúde.