Você já deve ter ouvido que a cor do catarro, ou muco, expelido durante uma doença respiratória indica se é preciso ou não tomar antibióticos.
Os mais claros denotariam um quadro leve ou viral, enquanto os verdes e amarelados sugeririam a presença de bactérias. Pois um novo estudo mostra que isso pode não fazer tanto sentido assim.
O trabalho, conduzido por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, dos Estados Unidos e publicado no periódico científico JAMA, avaliou pouco mais de 500 crianças, de 2 a 11 anos, diagnosticadas com sinusite aguda. Os pesquisadores descobriram duas coisas importantes.
Primeiro, que crianças sem a presença de bactérias na secreção nasal (28% do grupo avaliado) se beneficiaram bem menos do tratamento com antibióticos do que aquelas comprovadamente infectadas.
Segundo, que a cor da secreção nasal não fez diferença na eficácia dos antimicrobianos prescritos.
Os autores avaliam que as conclusões podem contribuir para reduzir o tratamento excessivo com antibióticos em pacientes pediátricos.
O uso indiscriminado desse tipo de remédio contribui para o fenômeno da resistência bacteriana, quando os micro-organismos desenvolvem mecanismos para driblar os medicamentos criados para matá-los, dificultando o tratamento de uma infecção.
“O estudo mostra que só a presença da coloração não justifica o uso do antibiótico, algo que concordo. Para usar esse tipo de fármaco, não basta o catarro estar amarelo, é necessário ter outros indícios, como febre, mal estar ou um quadro mais arrastado, por exemplo”, conclui o pneumologista Marcelo Rabahi, do Hospital Israelita Albert Einstein, em Goiânia.
Outros especialistas concordam.
“A coloração e a consistência do muco, quando avaliadas juntamente com a história clínica e o exame, podem fornecer informações valiosas. Entretanto, é importante ressaltar que outros fatores alteram a cor da secreção, como a presença de células inflamatórias”, afirma Ana Helena D’Arcadia de Siqueira, pediatra do Hospital Sírio-Libanês.
A ideia da análise era ajudar a distinguir melhor as formas de tratamento da doença e de outras infecções que atingem a parte superior do trato respiratório.
A semelhança entre os sintomas pode levar ao diagnóstico incorreto e à aplicação desnecessária de medicamentos. Os autores sugerem a adoção de testes diagnósticos para identificar a presença de patógenos antes de prescrever fármacos.
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O que é o catarro?
Também chamado de muco ou secreção, o catarro, apesar de ser considerado um fluido desagradável, é um importante fator de proteção do corpo.
Sua produção, pelas vias aéreas ou pelo pulmão, está associada a uma reação de defesa do corpo contra agentes perigosos, como vírus e bactérias ou substâncias presentes na poluição do ar.
Certamente, você já reparou nos pelinhos que todos temos no nariz. Esses cílios são a primeira barreira contra a invasão por germes. No entanto, alguns micro-organismos são capazes de atravessá-los.
Nesse momento, entram em ação células que ficam em diferentes pontos, incluindo a mucosa interna do nariz, a traqueia e os brônquios, que fazem parte do aparelho respiratório.
“Algumas dessas células produzem o muco, como uma nova camada para impedir a agressão do tecido. Quando o ataque é intenso, a resposta também será, e acaba se produzindo muito catarro”, afirma Rabahi.
Uma infecção, por exemplo, pode levar inicialmente ao surgimento de uma secreção clara, quase transparente, que ajuda a limpar o nariz e outras estruturas nasais.
Entre dois ou três dias, ela pode mudar de cor, ficando branca, amarela ou verde, pela presença de bactérias ou outros motivos, como o supramencionado acúmulo de células inflamatórias.
Vale dizer que não temos catarro só no nariz ou na garganta. Ele pode aparecer em outras mucosas úmidas do corpo, como seios da face, estômago e intestinos. Além de estratégia de defesa, é também uma forma de lubrificar os tecidos.
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Quando há um problema?
Diversos fatores podem levar ao aumento da produção de catarro, como mudanças de temperatura, baixa umidade do ar, exposição à poeira, pólen e fumaça ou a presença de uma infecção.
“Resfriados, gripes e bronquiolites, bem como doenças respiratórias como rinite e sinusite podem resultar em congestão nasal e acúmulo de muco”, diz Ana.
Os sinais de alerta mais evidentes são o aumento de volume e mudanças de textura, como um aspecto mais espesso, ou de coloração, de transparente para branco, amarelo ou verde, por exemplo.
“A inflamação prolonga o quadro, com uma produção intensa que dura mais dias. Já a febre é um indício de que a bactéria ou o vírus está se espalhando, o que aumenta o sinal de alerta”, diz Rabahi.
Nesse contexto, são comuns sintomas de coriza, como nariz entupido ou escorrendo e aquela sensação incômoda que acontece quando o excesso de catarro acumulado na parte de trás do nariz desce pela garganta, geralmente associada à tosse.
Como tratar o excesso de muco
Para aliviar os sintomas, o tratamento mais recomendado é a limpeza nasal utilizando soro fisiológico morno. “Esse procedimento ajuda a diluir o excesso e a facilitar a eliminação, prevenindo a proliferação de bactérias e infecções secundárias”, afirma Ana.
A pediatra recomenda ainda a adoção de outras medidas, como evitar contato com substâncias que possam provocar alergia, aumentar a ingestão de líquidos para manter o corpo hidratado e preservar a mucosa úmida.
É importante buscar ajuda quando o incômodo for significativo, porque o excesso de catarro não apenas gera desconforto: também pode agravar doenças respiratórias preexistentes.
“Em casos específicos, o uso de nebulizadores pode ser indicado. A avaliação médica é fundamental quando os sintomas persistem ou quando há piora no estado geral do paciente, febre alta e persistente, aumento da tosse e secreção nasal”, acrescenta a médica.
Amarelo, verde, marrom: o que a cor do catarro indica?
O muco normal é claro ou transparente.
Em quadros inflamatórios gerados por um resfriado, por exemplo, ele pode ganhar uma tonalidade amarelada, devido a proteínas liberadas pelas células.
A cor esverdeada, por sua vez, é um indicativo (mas não uma conclusão) de infecção bacteriana, como sinusite, pneumonia ou bronquite.
Pessoas que fumam de maneira consistente podem apresentar secreção de cor escura, como marrom ou preto.
A presença de sangue é um sinal de alerta para possíveis sangramentos nas vias aéreas superiores ou no pulmão, o que pode ser ainda mais grave.
No entanto, como o estudo publicado no JAMA aponta, identificar a origem do problema pela cor do catarro não é muito assertivo, e também não é algo tão corriqueiro da prática médica como antigamente.
Saber o que causa uma infecção é um passo essencial para escolher de maneira mais assertiva as melhores armas do arsenal farmacológico para o tratamento.
Por isso, o mais correto é pedir testes de diagnóstico molecular, como aqueles utilizados amplamente durante a pandemia de Covid-19, que são bastante precisos na detecção exata de um micro-organismo.