Um Prêmio Nobel coroa a carreira de cientistas que legaram contribuições seminais ao entendimento do mundo e ao bem-estar da humanidade. As descobertas e as realizações do seleto grupo de laureados mudaram, de alguma forma, os rumos da história — e a vida das pessoas. Para um jornalista que cobre saúde, é um privilégio passar mais de uma hora conversando com uma dessas mentes brilhantes.
Pois tive essa sorte ao entrevistar o imunologista americano Jim Allison, que recebeu a distinção em Medicina em 2018. Numa videochamada — eu em São Paulo, ele no Texas, onde continua na ativa —, o pai da imunoterapia moderna contra o câncer falou de seu percurso como cientista, do intrigante universo do sistema imunológico, das vitórias contra os tumores, dos desafios que eles ainda nos impõem…
Um papo fascinante, que virou Páginas Amarelas na revista-irmã VEJA. Aprendi muita coisa naquela conversa.
Primeiro: a magnitude da pesquisa básica, aquela feita na bancada do laboratório com células e moléculas. Sem as revelações e insights que ela proporciona, provavelmente não teríamos nenhum novo tratamento salvando vidas hoje.
Segundo: mesmo um Prêmio Nobel se curva com humildade diante da complexidade do corpo humano, um comportamento crítico e estimulante para encontrar saídas em meio aos labirintos da biologia.
Terceira lição: “Podemos falar em cura”, me disse Allison em relação às novas terapias contra o câncer. Pesquisadores e profissionais sérios costumam usar o termo com extrema parcimônia, mas, como esclareceu o Nobel, o fato é que pessoas em remissão de um tumor antes irremediável por mais de dez anos podem ser consideradas curadas.
Essa, aliás, foi a razão pela qual o imunologista levou o prêmio da academia sueca: ele desvelou os mecanismos que permitiram criar uma nova classe de medicamentos, os imunoterápicos, que liberam as células de defesa do corpo para reconhecer e contra- atacar o câncer. Com esse recurso, pacientes sem expectativas viram doenças encolherem e sumirem.
É emocionante! Na nossa entrevista, publicada em janeiro deste ano, o professor falou do que poderíamos esperar quanto ao futuro do tratamento. Um desses avanços já está desembarcando no Brasil: uma terceira classe de imunoterápicos que vem reforçar o arsenal contra uma legião de males cada vez mais acuada pela medicina, apesar das dores e tristes surpresas que ainda provoca, sobretudo a quem não tem acesso a um cuidado de ponta.
Mas podemos falar com esperança: graças a gênios como Allison e a profissionais e gestores de saúde empenhados e bem-intencionados, a palavra “cura” poderá se tornar uma realidade ainda mais democrática.
Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsAppLonga história
A luta da medicina contra o câncer esteve em evidência — e nas capas — em VEJA SAÚDE (e na antiga SAÚDE É VITAL!) desde as primeiras edições no início da década de 1980.
Acompanhamos, portanto, cada passo na evolução da prevenção, do diagnóstico e do tratamento — inclusive o despertar da imunoterapia.
Falamos de soluções high-tech, mas também de quão imprescindíveis são o acolhimento e o suporte ao paciente. E, na novíssima edição, você confere outro capítulo dessa história, assinado por Larissa Beani.