O câncer já foi — muitas vezes, ainda é — a doença inominável, tão temida a ponto de não querermos expressá-la em voz alta.
Guardo na memória o período em que meu avô foi diagnosticado com um tumor gástrico e nem a família nem os médicos se sentiam confortáveis em revelar o que ele tinha de fato. Esse medo é compreensível: estamos diante de um grupo de enfermidades complexas e ainda ligadas a taxas assombrosas de mortalidade e redução da qualidade de vida.
Câncer se tornou sinônimo de sofrimento. Talvez a lembrança que mais me atormente é a de uma parente que faleceu em decorrência de um câncer antes dos 40 anos de idade, num processo rápido e desolador. Já faz duas décadas que isso aconteceu e sua imagem fragilizada ainda me vem à mente, alardeando que a vida não raro pode ser cruel.
Mas o jogo está virando! E a evolução no tratamento do câncer, que continua mobilizando bilhões de dólares em pesquisas pelo mundo, é uma realidade palpável, com um futuro promissor.
Graças ao conhecimento científico e ao desenvolvimento de tecnologias, o inominável passa a ter nome e sobrenome: sabemos que as características genéticas e moleculares de um tumor podem mudar radicalmente a terapia, ampliando as chances de vitória sobre a doença.
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Nessa nova era, que alguns pacientes já vivenciam, contamos com anticorpos que, tais quais mísseis teleguiados, despejam quimioterápicos dentro das células tumorais, poupando os arredores saudáveis; com medicamentos que ativam nosso sistema imune para bombardear os tecidos tomados pelo inimigo; e com uma técnica engenhosa que reconfigura células de defesa em laboratório para, de volta ao organismo, caçar sem trégua o adversário.
Tudo isso, somado ao arsenal clássico — que também contempla inovações —, nos faz (re)acender a esperança de salvar mais vidas e mitigar sofrimentos. E não para aí, como mostra nossa reportagem de capa: em breve, veremos outras soluções desenhadas a partir da manipulação genética entrando na guerra a essa legião de doenças que, em comum, leva a mesma designação e a alcunha de problema de saúde pública.
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Claro, uma batalha dessa magnitude nunca será simples, e a revolução só se concretiza quando as terapias de ponta chegam ao público que precisa delas.
E, mesmo com um armamento tão poderoso acessível, não dá para esquecer que cada um de nós é convocado (sempre) a tomar atitudes, como blindar-se dos fatores de risco e manter as consultas médicas em dia visando ao diagnóstico precoce.
É assim, com os flancos expostos, que o antes inominável está cada vez mais cercado.