Vivemos em um país tropical, e o brasileiro ainda não criou o hábito de usar o protetor solar, um ato importante para prevenir o câncer de pele e o envelhecimento precoce.
Um levantamento feito pelo Instituto de Cosmetologia, de Campinas, mostra que o número de pessoas que ignora o produto só cresce. Do ano passado para cá, a quantidade de gente que afirmou não usar protetor solar subiu de 62% para 71%.
E tem mais notícia preocupante: quem tem o hábito de aplicar o produto, no entanto, não sabe como escolher o melhor fator nem a quantidade ideal a ser passada na pele.
Foram ouvidas 1 871 pessoas de todos os estados brasileiros, e do Distrito Federal.
A pandemia contribuiu para o abandono do protetor solar até por quem já o usava. É que, ao permanecer muito tempo em casa, as pessoas deixaram esse hábito de lado. Pelo menos essa foi a justificativa de 63% das pessoas entrevistadas.
“Mas também faltam campanhas de conscientização. O Brasil tem um dos maiores índices de incidência de raios ultravioleta no planeta e, mesmo assim, a população sabe muito pouco sobre os perigos do sol”, afirma o farmacêutico Lucas Portilho, especialista em Ciências Médicas pela Unicamp e coordenador do estudo.
O sol é sinônimo de bem-estar e fonte de vitamina D, mas é preciso aproveitar os benefícios desse astro de forma responsável. “A cultura do bronzeamento ainda é relacionada à beleza e à saúde, mas é justamente o oposto. Se a pele está queimada, é sinal de que ela está sofrendo”, alerta Portilho.
A pesquisa revela que 27% dos brasileiros associam o bronzeamento a um hábito saudável, sem lembrar que o excesso do sol provoca manchas, rugas e aumenta o risco de câncer de pele.
Por que é importante usar protetor solar diariamente?
O hábito é primordial para proteger a pele dos raios ultravioletas, que provocam o envelhecimento precoce e câncer de pele.
Os raios UVB não penetram tanto a pele, e são responsáveis por deixá-la vermelha. Já os raios UVA penetram mais profundamente. “Eles chegam onde está o colágeno e a elastina, que dão sustentação para a nossa pele. Por isso facilitam o surgimento de manchas e rugas”, explica Portilho.
Tanto o UVA quanto o UVB contribuem para o surgimento do câncer de pele.
Qual a quantidade correta de protetor solar?
Para o rosto, o correto é utilizar uma colher de chá cheia de protetor. Essa quantidade deve ser distribuída também na orelha e no pescoço. A indicação é da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SDB).
“Uma outra dica é esticar três dedos da mão e fazer um fio de protetor em cada um deles”, ensina Portilho.
Para o corpo, é um pouco mais complexo. Na realidade, o cálculo exato é feito por metros cúbicos do corpo, o que é impraticável no dia a dia. Por isso, nesse caso, a sugestão é passar o produto de forma generosa.
“É melhor pecar pelo excesso. Sabemos que é um item caro, mas não tem outro caminho”, avalia o pesquisador.
Associações brasileiras e internacionais recomendam uma quantidade média, baseada em diferentes biotipos. Confira:
- Torso: 2 colheres de chá cheias
- Braços: 1 colher de chá para cada um
- Pernas: 2 colheres de chá para cada uma
Dá cerca de 35 ml para o corpo todo.
Faça o teste com as colheres para conseguir se acostumar com essas quantidades. Se achar pouco, é só completar.
Como saber o fator correto?
Descrito como FPS na embalagem, a indicação do fator do protetor solar deve ser feita pelo tom de pele, classificado em fototipos que vão de 1 a 6.
“Na prática, quanto mais clara a pele, maior deve ser o fator”, resume Portilho.
O tipo 1, representado pelas pessoas brancas, de olhos e cabelos claros, deve utilizar no mínimo o FPS 30, mas o melhor mesmo é apostar no 50. Os indivíduos de pele negra têm a vantagem de possuir mais melanina, que serve como uma proteção natural da pele. Mesmo assim, não podem se descuidar.
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Quanto maior o FPS do produto, maior o nível de radiação UVB filtrado por ele, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD).
Segundo a SBD e estudos de associações de países que são menos solares, como o Canadá, hoje, entende-se que qualquer pessoa deve apostar, no mínimo, no fator 30.
De acordo com a legislação brasileira, o fator de proteção realmente oferecido não pode ser inferior a 17% do valor indicado na embalagem. Para garantir isso, a Proteste faz avaliações periódicas com diversas marcas. A proteção UVA também é analisada, e ela deve ser equivalente a um terço do FPS.
O site da associação informa quais fabricantes passaram nos testes, entregando o fator indicado.
De quanto em quanto tempo é preciso reaplicar?
O fator de proteção, o FPS, não tem relação com o tempo máximo de exposição. Cada produto deve informar na embalagem o seu tempo de ação. Há versões que duram até 12 horas.
“Na dúvida, a indicação é reaplicar a cada duas horas”, aponta Portilho.
Roupas bloqueiam os raios solares?
Nem sempre. Há roupas com tramas bem fechadas que ajudam mais, mas não dá para garantir. “Elas podem ser consideradas uma proteção extra”, observa Portilho. “Óculos escuros e chapéu são bem indicados”, completa.
Hoje, existem roupas de banho com proteção UV, que prometem bloquear os raios, uma boa pedida sobretudo para as crianças.
Precisa passar protetor nos dias nublados?
Não é porque não vemos o sol que seus raios não estão chegando até nós. A radiação ultrapassa as nuvens, inclusive. Quem nunca sentiu um mormaço queimando a pele mesmo em um dia mais nublado?
“É mais comum percebê-lo nas cidades praianas, mas na cidade ele também atinge a pele. Não deixe de proteger o rosto e o corpo também nesses dias”, diz Portilho.
Dá para aproveitar o sol sem protetor em algum momento?
Não. É mais saudável se expor ao sol da manhã e do fim de tarde porque os raios são menos agressivos, mas eles também afetam a pele. Não tem como fugir.
Além do protetor solar, não se esqueça de contar com o apoio de roupas e muita água, especialmente se estiver em áreas mais quentes.