Clique e Assine VEJA SAÚDE por R$ 9,90/mês
Continua após publicidade

Brasil tem primeiros casos da varíola dos macacos; o que muda?

A chegada da doença por meio de viajantes da Europa, onde ocorre um surto, chamaram a atenção. Investigamos o que deveria mudar na prevenção por aqui

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 15 jun 2022, 19h36 - Publicado em 15 jun 2022, 19h34
varíola dos macacos
Vírus da varíola dos macacos captado em telescópio; há grandes chances de doença ser bem controlada no Brasil (Foto: CDC/Divulgação)
Continua após publicidade

O primeiro caso de varíola dos macacos no Brasil foi confirmado oficialmente em 9 de junho na capital paulista. Na sequência, o Ministério da Saúde confirmou mais quatro nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Mas o que isso significa? A preocupação deve aumentar?

Não é para tanto. Importante observar que todos esses casos tiveram histórico de viagem à Europa, em regiões de surto da doença como Portugal (com 138 casos) e Espanha (156).

Por aqui, as primeiras providências tomadas, segundo o Ministério da Saúde, foram o isolamento dessas pessoas e o rastreamento de contatos prévios para impedir que o vírus continue circulando. Essas são as medidas mais importante no momento, segundo a epidemiologista Andrea Paula von Zuben, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e diretora do departamento de vigilância em saúde de Campinas.

“Esse vírus ainda não está presente nos animais brasileiros, então a única possibilidade de contato é entre viajantes. Além da extrema vigilância sobre os casos, é preciso dobrar o cuidado em fronteiras e aeroportos”, completa a professora.

Por esse motivo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou uso de máscaras nesses locais. “É uma doença bastante transmissível, mas que depende de contato íntimo e prolongado. As gotículas expelidas pela fala atingem quem está há menos de um metro por, mais ou menos, 15 minutos. Por isso, máscaras são recomendadas nos aviões principalmente”, explica a epidemiologista da Unicamp.

Compartilhe essa matéria via:

Dando atenção a esses pontos, a tendência é que não haja uma explosão de casos em território brasileiro. “Embora seja uma doença preocupante, não acredito no risco de um surto com grande número de casos por aqui”, completa o infectologista Eduardo Medeiros, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor científico da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI).

Continua após a publicidade

A SPI reforça a necessidade de manter a higiene das mãos, usar máscaras em locais fechados – principalmente aviões – como medida para se prevenir desse e de outros vírus.

O que mais devemos saber sobre o contágio?

A OMS entende que a principal via de transmissão é o contato próximo com alguém infectado, por meio de gotículas respiratórias e fluidos corporais.

“Os sintomas começam leves, com febre e dor no corpo. Então é possível confundir com outra doença”, esclarece Andrea. Esses sinais podem surgir entre três a 21 dias depois da infecção – o tempo pré-sintomático é, aliás, uma janela de chance para o vírus se espalhar antes que o indivíduo se isole.

Quando as feridas surgem – e elas começam por mãos e pés – o risco de contágio aumenta. Atenção: o contato com a secreção que sai dessas lesões é o mais perigoso. Como a pessoa tende a se isolar, quem deve tomar cuidado principalmente são os cuidadores.

+ Leia também: Máscaras: dá para relaxar, mas elas seguem essenciais em locais fechados

Continua após a publicidade

A transmissão via sexual ainda está sendo estudada, mas parece ser mais uma questão de proximidade física do que do sexo em si.

Apesar de a maioria dos casos ter sido diagnosticada em homens jovens que afirmam fazer sexo com outros homens, não foram só eles os acometidos. E não se trata de uma doença sexualmente transmissível “entre homossexuais”, um conceito infundado, que lembra a época do auge do HIV.

É possível, por exemplo, que o primeiro infectado por um animal tenha comparecido a um evento frequentado por um número alto de homens que fazem sexo com outros homens. Daí a doença se espalhou entre eles.

Por que não usar a vacina contra varíola?

A vacina contra a varíola humana oferece proteção cruzada e teria eficácia de 85% contra o monkeypox. No entanto, por se tratar de uma doença erradicada não há remessas do imunizante dando sopa por aí, e as pesquisas estão desatualizadas.

Em coletiva de imprensa, Rosamund Lewis, especialista no assunto da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirmou que há uma única vacina aprovada com indicação para prevenir a varíola dos macacos, mas trata-se de um produto novo.

Continua após a publicidade

“Eles ainda não passaram pelas etapas de regulação e não há capacidade de produção”, reforça a médica. Rosamund ainda diz que os investimentos nesse tipo de pesquisa são limitados porque a varíola foi erradicada há 40 anos. “Esperamos que isso mude para que mais países tenham acesso às vacinas”, conclui a representante da OMS.

O órgão relata que a indústria está se movimentando para ter doses que protejam pessoas do grupo de risco, como os imunossuprimidos, e profissionais de saúde que podem ter contato com o vírus.

+ Leia também: Varíola dos macacos: o que sabemos (e não sabemos) sobre o monkeypox

Por aqui, nesse momento, um imunizante ainda não seria totalmente necessário.

“Sair vacinando não faz sentido em regiões sem circulação natural desse vírus. Seria a mesma coisa que fazer campanha contra febre amarela em países que não têm o mosquito (aedes aegypti). Se perdermos o controle por aqui e a doença se espalhar, no entanto, essa conversa pode mudar”, explica Andrea.

Continua após a publicidade

Qual a situação no mundo?

A varíola dos macacos não é uma doença nova. Ela foi descoberta em 1958, em uma colônia de macacos que viviam num laboratório na Dinamarca (de onde veio o nome). A primeira infecção em humanos foi diagnosticada em 1970 no Congo, país que até hoje concentra o maior número de casos.

O ineditismo é o vírus ter chegado a 1 285 pessoas (desde maio) em países que nunca conviveram com ele, como os da Europa e da região das Américas. 

O continente africano convive com a varíola do macaco há bastante tempo – ela é considerada endêmica em 11 países de lá. Desde janeiro, a OMS registrou 1 536 casos e 72 mortes desde janeiro. Isso, aliás, chama a atenção para a questão das doenças negligenciadas, que atingem países pobres e recebem menos investimentos em pesquisas para tratamento e prevenção.

Esse não é o primeiro surto fora do continente. Em 2003, 70 casos ocorreram em uma mesma região dos Estados Unidos, depois que roedores importados de Gana infectaram esquilos de estimação.

Por que a varíola dos macacos está se espalhando agora? 

Algumas teorias estão em estudo. Uma postula que a população está mais suscetível, já que praticamente todos os menores de 50 anos não foram vacinados para a varíola humana, que garantia proteção cruzada no passado. 

Outra é a possibilidade de um evento super espalhador, como uma festa. Isso seria mais fácil no momento atual, de retomada intensa de deslocamentos internacionais, retorno de aglomerações e relaxamento de medidas preventivas como o uso de máscaras

Continua após a publicidade

Há de se destacar ainda que é normal que doenças emergentes surjam. Nas últimas décadas, a circulação de pessoas entre países cresceu consideravelmente, o que facilita o espalhamento de agentes infecciosos.

+ Leia também: Conheça a história da família de vírus da qual a varíola dos macacos faz parte

No mais, com a pandemia, as autoridades passaram a monitorar novas infecções com mais atenção. Qualquer novo surto, então, ganha mais visibilidade, inclusive da imprensa. 

“Temos duas situações nesse sentido: a varíola dos macacos e a hepatite de origem desconhecida. Além da questão da circulação maior, também diagnosticamos e identificamos o patógeno mais rápido hoje em dia”, comenta Salvador.

Por fim, as mudanças climáticas e a perda de vegetação natural facilitam o contato entre animais silvestres e espécies que interagem com o homem. Se espera um aumento das doenças infecciosas para os próximos anos por conta disso. 

BUSCA DE MEDICAMENTOS Informações Legais

DISTRIBUÍDO POR

Consulte remédios com os melhores preços

Favor usar palavras com mais de dois caracteres
DISTRIBUÍDO POR
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 9,90/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 14,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.