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Bactérias multirresistentes são identificadas fora do ambiente hospitalar

Pesquisadores brasileiros alertam para o perigo de esses micro-organismos nocivos estarem circulando na população em geral

Por Karina Toledo (Agência Fapesp)
Atualizado em 25 nov 2019, 14h31 - Publicado em 22 ago 2019, 17h52
tomar muito antibiótico faz mal
A principal medida para deter a evolução das bactérias é reduzir o consumo de antibióticos, utilizando esses medicamentos apenas quando for extremamente necessário. (Ilustração: Erika Onodera/SAÚDE é Vital)
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Bactérias da espécie Klebsiella pneumoniae estão entre os micro-organismos que mais causam infecções hospitalares e também entre os que mais têm desenvolvido resistência a antibióticos. Pertence ao grupo, por exemplo, a KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase), que ganhou a alcunha de superbactéria por produzir uma enzima capaz de inativar os fármacos mais potentes para o tratamento de infecções graves.

Um estudo recente apoiado pela Fapesp e publicado no Journal of Global Antimicrobial Resistance mostrou que patógenos multirresistentes – inclusive as produtoras de KPC – já não são um problema restrito ao ambiente hospitalar no Brasil. Ao analisar espécies de K. pneumoniae na urina de 48 pessoas diagnosticadas com infecção urinária na região de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, cientistas observaram que 29 amostras (60,4%) continham versões da bactéria não suscetíveis a três ou mais classes de antibióticos e, portanto, consideradas multirresistentes.

“Ficamos surpresos ao encontrar bactérias com tanta multirresistência e virulência em pessoas que não estavam hospitalizadas Algumas tinham perfil genético caraterístico de cepas causadoras de infecção hospitalar”, disse à Agência Fapesp André Pitondo da Silva, professor da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) e coautor do artigo.

Pitondo-Silva coordena um projeto que tem como objetivo comparar o perfil molecular de espécimes de Klebsiella isolados em pacientes de hospitais das cinco regiões brasileiras (Londrina, Brasília, Teresina, Manaus e Ribeirão Preto) e de outros países dos cinco continentes (Nova Zelândia, Canadá, Holanda, África do Sul e Índia). As amostras da comunidade ribeirão-pretana foram obtidas por acaso, quando os pesquisadores coletavam bactérias isoladas em pacientes de um hospital local. O trabalho se iniciou quando Pitondo-Silva ainda era da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), da Universidade de São Paulo (USP).

“Nesse hospital parceiro, há um laboratório de análises clínicas particular que atende moradores de diversos municípios do entorno, além de ser responsável pelos exames dos pacientes internados. Quando nos enviaram as amostras de K. pneumoniae, percebemos que nem todas tinham informações sobre a ala de internação. Ao questionarmos os funcionários, fomos informados que as amostras eram de pessoas que não estavam hospitalizadas. Surgiu, então, o interesse de estudar essas bactérias da comunidade e compará-las com as do ambiente hospitalar”, contou.

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Como para os casos estudados não existiam prontuários médicos, não foi possível levantar o histórico de saúde desses indivíduos. “Nossa hipótese é que já tenham sido hospitalizados no passado e, durante a internação, foram colonizados por essas bactérias multirresistentes”, disse Pitondo-Silva.

Bactérias oportunistas

A K. pneumoniae pode integrar a microbiota de um indivíduo durante anos, sem causar problemas. Porém, quando há queda na imunidade – em decorrência de uma doença, de um tratamento ou do envelhecimento – o micro-organismo pode se manifestar de diversas formas. Exemplos: infecções pulmonares e urinárias, feridas (cirúrgicas ou escaras) e até mesmo sepse.

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“No caso de pacientes com infecção urinária recorrente, o risco é o quadro evoluir para pielonefrite [doença inflamatória que afeta os rins], podendo causar comprometimento renal. Portanto, quando esses pacientes retornam ao hospital, disseminam no local os micro-organismos multirresistentes”, afirmou Pitondo-Silva.

A principal forma de contaminação é o contato com fluidos do paciente infectado, que ocorre por meio de sondas e cateteres, por exemplo. “Quando bactérias MDR são identificadas em hospitais, principalmente as produtoras de KPC, são adotados protocolos rigorosos para evitar a disseminação, podendo até mesmo limitar a visitação ao paciente”, disse Pitondo-Silva.

Conhecer as características moleculares das bactérias encontradas nos hospitais de diferentes regiões do Brasil e do mundo ajuda a entender como os genes de resistência e virulência estão se disseminando e como a espécie está evoluindo, informações essenciais para o controle de infecções e o tratamento correto.

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“É muito importante investigar a quais antibióticos a bactéria é suscetível, porque administrar o medicamento errado chega a piorar o quadro clínico”, alertou Pitondo-Silva.

Este conteúdo foi produzido originalmente pela Agência Fapesp

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