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Autor de estudo com contraceptivo masculino explica polêmica

Conversamos com um dos responsáveis pela pesquisa que analisou o potencial de um anticoncepcional masculino. Por que o estudo parou? Ele vai continuar?

Por Karolina Bergamo
Atualizado em 6 ago 2018, 10h27 - Publicado em 23 nov 2016, 12h03
 (Ilustração: Rodrigo Damati/)
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A interrupção de um estudo que testava a eficácia e segurança de anticoncepcional masculino causou rebuliço pela internet. O motivo da polêmica? A ordem de parar a pesquisa — tomada por um grupo independente que revisava os resultados de tempos em tempos — veio em decorrência de efeitos colaterais apresentados pelos homens, muitos dos quais se assemelhavam a sintomas observados entre mulheres que tomam a pílula contraceptiva, aprovada mundo afora.

A pergunta que surgiu foi: por que o sexo feminino pode sofrer com essas reações, mas os marmanjos não? Já explicamos que a situação não é tão simples assim, porém resolvemos conversar diretamente com um dos autores desse estudo. Esse especialista é o bioquímico Douglas Colvard, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Contracepção (CONRAD, na sigla em inglês). Na entrevista abaixo, ele dá sua opinião sobre os motivos por trás da interrupção (a decisão não partiu dele ou dos outros autores) e inclusive revela quais os próximos passos rumo a um anticoncepcional masculino eficaz e seguro.

Por que a pesquisa foi interrompida?

Enquanto o estudo estava acontecendo, nossa equipe tinha que relatar os progressos pelo menos a cada ano para o conselho de revisão. Número de participantes, resultados e efeitos colaterais eram abordados. Foi durante uma das revisões regulares que se observou uma maior frequência e gravidade de efeitos colaterais, como oscilações de humor, depressão e aumento da libido. Eles foram maiores do que o previsto com base em estudos anteriores, menores, mas com o mesmo fármaco ou medicamentos similares.

Qual é a comissão que tomou a decisão de interromper?

Trata-se do Painel de Revisão de Projetos de Pesquisa (RP2) do Departamento de Saúde Reprodutiva e Investigação da Organização Mundial da Saúde (OMS), um comitê externo de revisão por pares que fornece uma análise de monitoramento de todos os estudos clínicos em andamento. Outro grupo independente, o Comitê de Segurança e Monitoramento de Dados do estudo (DSMC), também estava envolvido na revisão do estudo desde o início.

Haverá mais testes com o contraceptivo usado no estudo?

A combinação examinada não foi concebida como um produto potencial para estar comercialmente disponível, mas sim como um teste para comprovar a segurança e a eficácia contraceptiva da substância. Por causa dos resultados, essa combinação particular de hormônios usada não está apta para continuar em outras avaliações. [Nota da redação: isso não quer dizer que outras combinações, com doses diferentes, não serão examinadas no futuro]

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O financiamento para o desenvolvimento de contraceptivos masculinos é limitado em todo o mundo, uma vez que a maioria das farmacêuticas deslocou seus recursos para outras atividades mais rentáveis e o apoio governamental é escasso. Com base no amplo interesse público e engajamento que todos nós vimos nas últimas semanas, isso representa uma clara oportunidade para defender um aumento de financiamento para continuar a pesquisa que irá atender às necessidades dos homens que querem ter o controle de sua fertilidade.

Conversamos com um urologista brasileiro sobre os efeitos colaterais apresentados durante a pesquisa. Ele não viu razão para o estudo ter sido descontinuado, uma vez que a maioria das reações foi considerada leve. O que você tem a dizer sobre a visão desse especialista?

A maioria dos efeitos colaterais foi considerada “leve” ou mesmo “moderada” pelo fato de que poucos homens abandonaram a pesquisa por causa delas, além de terem aceitado bem o método, conforme indicado nos questionários. No entanto, um dos dois grupos de revisão — que tinha a responsabilidade de fornecer monitoramento independente de segurança — considerou que o risco de efeitos colaterais graves era maior que os benefícios de alcançar dados clínicos mais elaborados que obteríamos se tivéssemos conduzido o experimento até a conclusão planejada.

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O que é importante saber sobre os resultados do estudo?

Em primeiro lugar, ele mostrou alta eficácia contraceptiva antes de ser interrompido precocemente devido a efeitos colaterais, a maioria dos quais são comuns com métodos de controle de natalidade hormonal. Além disso, o trabalho foi importante porque os homens precisam de mais opções de controle de natalidade seguras, reversíveis e que não interferem com o prazer sexual. Por último, ele mostra que é necessário mais financiamento para organizações como o CONRAD para continuar esse tipo de investigação, que é muito impactante no planejamento familiar.

A alegação de que o estudo foi interrompido porque os participantes não conseguiam lidar com os efeitos colaterais poderia prejudicar o seguimento dessa linha de pesquisa? Quais são os impactos da divulgação de informações incorretas nesse caso?
Eu acho que há quase tantos artigos tentando disseminar as interpretações erradas como existem artigos que buscam uma avaliação mais equilibrada dos resultados. O veículo Snopes publicou um dos textos mais equilibrados nesse sentido. Sim, houve decepção por parte da comunidade de pesquisa quando as injeções foram encerradas, já que muitas partes queriam que o estudo tivesse sucesso. Esse grande interesse nos resultados positivos, em todo o mundo, demonstra uma clara necessidade da existência de melhores opções contraceptivas para os casais. É bom lembrar que outros cientistas e organizações também estão buscando alternativas para a contracepção masculina. Espera-se que estas pesquisas tenham resultados mais positivos.

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