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As novas recomendações americanas para rastrear o câncer de pulmão

Entidade amplia o grupo de pessoas que deve fazer exames anuais para essa doença. Fumantes mais jovens e que consomem menos cigarro entram na lista

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 10 Maio 2021, 12h14 - Publicado em 15 mar 2021, 12h46
Desenho de pulmão azul
O rastreamento do câncer de pulmão pode salvar vidas. (Ilustração: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)
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O câncer de pulmão é o que mais mata no mundo porque, além de relativamente comum, não costuma manifestar sintomas nos estágios iniciais. Daí porque a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF, na sigla em inglês) está sempre atualizando suas orientações sobre exames de detecção precoce para essa doença. E, com base em evidências científicas sólidas, uma nova recomendação acaba de ser publicada, ampliando o número de pessoas que deveriam se submeter ao rastreamento.

No documento de 2021, publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), a entidade aconselha que fumantes (ou pessoas que pararam há menos de 15 anos) entre 50 e 80 anos e com um histórico de 20 “anos-maço”, façam anualmente uma tomografia computadorizada de tórax com baixa dose de radiação. Um “ano-maço” significa consumir um maço por dia durante um ano, ou uma quantidade equivalente – dois maços diários por dez anos, por exemplo. O foco está nos tabagistas, porque 80% dos casos diagnosticados estão associados ao cigarro e aos seus derivados, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Em 2013, a mesma USPSTF só aconselhava o rastreamento a fumantes (ou, de novo, quem parou há menos de 15 anos) entre 55 e 80 anos, com um histórico de 30 “anos-maço”. Na prática, as novas diretrizes incluem 14,5 milhões de americanos nessa triagem anual. É um aumento de 81% em relação à orientação anterior.

“Analisamos novas evidências que mostram que o rastreamento pode ajudar mais pessoas com alto risco de câncer de pulmão”, disse, em comunicado, o médico Michael Barry, membro da USPSTF e professor da Universidade Harvard. “Ao examinar indivíduos mais jovens e que fumaram menos cigarros, podemos salvar mais vidas”, completa. Para chegar a essa conclusão, os especialistas revisaram 223 estudos, que englobam aproximadamente 86 mil participantes.

Essas recomendações beneficiam especialmente mulheres e negros, grupos que tendem a desenvolver esse câncer mais cedo e com menor exposição ao tabaco, em comparação com homens brancos. Os motivos por trás disso ainda não são claros.

Apesar de sugerir a tomografias a mais pessoas, a USPSTF não indica um rastreamento à toda a população. Por quê? Os exames têm um custo e não são isentos de riscos. Portanto, não faz sentido receitá-los a quem possui um risco baixo de sofrer com o câncer de pulmão.

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“A exposição à radiação ionizante pode alterar nosso material genético”, explica o pneumologista Gustavo Faibischew Prado, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Ou seja, ficar repetindo esses testes elevaria um pouco a probabilidade de apresentar outros cânceres.

Fora isso, a tomografia às vezes detecta sinais suspeitos que não obrigatoriamente significam um câncer — há casos de infecção ou inflamação que se assemelham a um tumor nesse exame. O problema é que, para confirmar o diagnóstico, o profissional precisará realizar uma biópsia, que ocasionalmente provoca complicações. Ou seja, o uso indiscriminado da tomografia expõe parte da população a técnicas desnecessárias e potencialmente nocivas.

De acordo com as novas diretrizes, 1,7% dos voluntários analisados no National Lung Screening Trial (NLST) passaram por procedimentos invasivos em consequência de resultados “falso-positivos”.

Em resumo, o rastreamento é positivo — mas a apenas entre quem possui uma indicação clara.

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E o Brasil?

Segundo o Inca, mais de 31 mil casos de câncer de pulmão surgem no Brasil por ano. Mas o número é questionado por causa da subnotificação e dos baixos índices de diagnóstico. A título de comparação, os Estados Unidos detectaram, em 2020, aproximadamente 229 mil casos da doença.

Atualmente, não há uma diretriz nacional sobre o rastreamento do câncer de pulmão no Brasil — embora os médicos daqui tendam a seguir indicações da USPSTF.

De qualquer forma, adotar uma recomendação mais ampla de exames traz desafios únicos no nosso contexto. “Devemos considerar a desigualdade de acesso aos serviços de saúde e aos equipamentos nas diferentes regiões do país”, afirma Prado, que também é membro da Comissão de Câncer da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Ainda segundo Prado, arcar com os custos financeiros e estruturais de um programa de rastreamento não é moleza: “Não é só fazer o exame de imagem e emitir um laudo”.

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Desigualdades no tratamento

No evento Radar do Câncer de Pulmão no Brasil, o oncologista Felipe Roitberg, do Hospital Sírio-Libanês, ressaltou que o único tratamento medicamentoso amplamente disponível pelo SUS para pacientes com esse tipo de câncer é a quimioterapia. Ocorre que, nos últimos anos, surgiram tratamentos bem mais eficazes, como as terapias-alvo e a imunoterapia.

A inclusão dessas drogas mais modernas na rede pública esbarra principalmente em questões burocráticas e financeiras, o que prejudica os pacientes sem convênio médico, que não conseguem bancar tratamentos caros.

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