Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super Black Friday: Assine a partir de 5,99

Câncer de mama: amamentar protege contra tipo agressivo da doença

Pesquisa apresentada no congresso europeu de oncologia explica como o aleitamento materno ajuda a reduzir o risco de tumores triplo-negativos

Por Larissa Beani Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 out 2025, 11h25 - Publicado em 20 out 2025, 12h00
porque amamentaçăo é importante
Amamentar é benéfico tanto para o bebê quanto para a mãe (Ilustração: Priscila Barbosa/SAÚDE é Vital)
Continua após publicidade

Além de ser um ato de cuidado entre mãe e filho, a amamentação também é um fator de proteção contra o câncer de mama. Pesquisas estimam que cada ano de aleitamento materno reduz em cerca de 5% o risco de desenvolver a doença.

Agora, a ciência deu mais um passo e revelou um dos motivos pelos quais isso acontece.

De acordo com estudo realizado por pesquisadores australianos, mulheres que se tornaram mães e amamentaram seus filhos têm mais células imunológicas do tipo CD8⁺ T, que protegem o corpo contra o desenvolvimento de tumores malignos nas mamas, inclusive o triplo-negativo, que é um dos mais agressivos.

“Mulheres que tiveram filhos têm mais células T no tecido mamário comparadas a mulheres que não tiveram filhos e esses efeitos permanecem por décadas”, afirma, em coletiva de imprensa, Sherene Loi, oncologista do Peter MacCallum Cancer Centre, na Austrália, que liderou a pesquisa.

O estudo foi publicado nesta segunda-feira (20), na Nature, e apresentado no domingo no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo)*, realizado em Berlim, na Alemanha.

Clique aqui para entrar em nosso canal no WhatsApp

 

Para chegar a essa conclusão, os autores realizaram uma série de análises que incluiu sequenciamento do RNA (análise de parte do material genético) de células da mama e exames de imagem de 170 amostras saudáveis, além de experimentos com animais. Os dados coletados foram, então, validados com informações de mais de 1 mil pacientes de diferentes perfis.

Continua após a publicidade

Como resultado, observou-se que as mamas de mulheres que já tiveram filhos tinham mais células CD8⁺ T e também uma maior memória de defesa imunológica, já que as células encontradas persistiram por décadas após o parto.

Em testes com animais, o ciclo de gestação, a lactação e a involução (processo em que a mama volta ao seu estado original depois da fase de amamentar) aumentaram a concentração de células protetoras, que previvem o câncer de mama triplo-negativo e aumentam o número de células de defesa capazes de entrar nos tumores e combatê-los (processo chamado de infiltração linfocítica).

loi-esmo
Sherene Loi, oncologista do Peter MacCallum Cancer Centre, em coletiva de imprensa durante o congresso Esmo 2025 (ESMO 2025/Divulgação)

Em outras palavras, mesmo entre aquelas mulheres que tiveram filhos, amamentaram e, ainda assim, tiveram esse tipo de câncer de mama, foi observado o benefício de ter mais células CD8⁺ T nas mamas. Isso, segundo o estudo, se reverte em mais chances de sobrevivência quando o tumor é diagnosticado nos primeiros estágios da doença.

A descoberta de que o histórico reprodutivo da paciente molda respostas imunológicas de longo prazo nas mamas é inédita.

Continua após a publicidade

“Essa mudança de paradigma destaca o histórico reprodutivo, associado a reprogramação imunológica, como um potencial alvo para prevenção e para potencializar imunoterapias contra o câncer de mama triplo-negativo”, escrevem os autores no resumo do estudo.

+ Leia também: Por que é tão diferente tratar um câncer de mama no SUS e na rede privada?

Imunoterapias para o triplo-negativo

O estudo pode contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção e de novos tratamentos contra o câncer de mama triplo-negativo.

O tumor recebe esse nome quando ele não possui nenhum dos três principais marcadores para o diagnóstico e combate da doença:  receptores de estrogênio, receptores de progesterona e a proteína HER2.

“Não ter essas características é o que limita o uso de terapias-alvo convencionais e o que torna este um dos subtipos de câncer de mama mais agressivos e desafiadores”, explica Luciana Landeiro, oncologista da Oncoclínicas que esteve presente no congresso europeu.

Para tratar este câncer, têm sido cada vez mais comum o uso de imunoterapias, ou seja, de medicamentos que impulsionam o próprio sistema imune do paciente para atacar o câncer. “A imunoterapia mudou o jogo no triplo-negativo”, avalia a oncologista brasileira, especialista em cânceres de mama e ginecológicos.

Continua após a publicidade

Ainda assim, há muito a aprimorar neste campo. “Nem todas as pacientes respondem e há efeitos colaterais que exigem equipe experiente”, pondera Landeiro. “O futuro está em combinações inteligentes [de tratamento] e no uso de anticorpos conjugados a drogas (ADC), ampliando a eficácia com mais personalização.”

Para os médicos australianos, saber como a amamentação pode influenciar positivamente a imunidade das mamas pode abrir caminho otimizar as imunoterapias existentes.

“Seria interessante descobrir por que a amamentação provoca o aumento e a resistência das células CD8⁺ T, causando o efeito protetor”, comenta Benjamin Fairfax, oncologista da Universidade de Oxford e especialista em imunologia do câncer, que não participou do estudo.

+ Leia também: O novo guia de prevenção ao câncer

Por que amamentar?

A amamentação é um dos gestos mais poderosos de cuidado e de promoção da saúde, tanto para a mãe quanto para o bebê”, ressalta Landeiro. Redução do risco de câncer e de diabetes, além de melhor recuperação no pós-parto, são os principais benefícios às mulheres, enquanto que, para as crianças, o aleitamento materno é essencial para a formação da imunidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) recomendam a amamentação exclusiva a bebês de até 6 meses e, depois dessa idade, manter o aleitamento junto com a introdução de alimentos até pelo menos dois anos de idade.

Continua após a publicidade

O estudo apresentado na Esmo não avaliou por quanto tempo é preciso amamentar para reduzir o risco de câncer de mama. “O que vemos em bases de dados é que as mulheres amamentam, em média, por seis meses.”, explica Loi. “Amamentar um pouco é melhor do que nada, mas organizações ao redor do mundo recomendam que o aleitamento se estenda por até um ano para diminuir o risco de câncer de mama“.

Mas manter o aleitamento não é só uma questão de vontade da mulher. “Isso passa por políticas públicas que garantam licença-maternidade adequada, ambientes de trabalho que acolham a mulher lactante e profissionais de saúde capacitados para orientar e oferecer suporte desde o pré-natal“, lista Landeiro.

A oncologista brasileira destaca que o assunto é do interesse de toda a população. “Amamentar deve ser visto como uma responsabilidade compartilhada entre sociedade, família e instituições, e não como um dever solitário da mulher”, pontua. “Quando ela é apoiada de forma integral, se sente mais segura e tende a amamentar por mais tempo.”

A proposta é reforçada pela 5ª edição do Código Europeu Contra o Câncer (Ecac, na sigla em inglês) lançado também durante o congresso da ESMO. Criado pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc), da OMS, o documento recomenda que as mulheres amamentem pelo tempo máximo possível — e que políticas públicas sejam criadas para facilitar esse processo.

Desincentivar o uso de produtos alimentícios que substituam a amamentação sem indicação médica, aplicar políticas que garantam licença parental e deem flexibilidade no trabalho para que a mulher possam amamentar, criar espaços e redes de apoio favoráveis ao aleitamento são algumas das ações necessárias, segundo o novo código europeu.

Continua após a publicidade

*A jornalista viajou à Berlim a convite da Galápagos Newsmaking e da Bayer.

 

Compartilhe essa matéria via:

 

 

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

Sua saúde merece prioridade!
Com a Veja Saúde Digital , você tem acesso imediato a pesquisas, dicas práticas, prevenção e novidades da medicina — direto no celular, tablet ou computador.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
De: R$ 26,90/mês
A partir de R$ 9,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.