Alzheimer: 7 dicas para se comunicar com alguém com demência
Fala direta e palavras gentis são essenciais para cultivar laços durante o tratamento e se fazer compreender
Quando se fala em Alzheimer, os prejuízos à memória são a primeira coisa que vem à cabeça. Mas essa doença neurodegenerativa também afeta outros domínios da mente, como o comportamento e a linguagem.
“Conforme a doença avança, a pessoa passa a vivenciar o mundo de forma diferente e, portanto, também muda a forma como interage com ele”, explica Luciane Ponte de Mello, psicóloga e membro da gestão da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).
“Os cuidadores devem estar atentos a essas mudanças para se adaptar da melhor forma à linguagem de quem vive com o diagnóstico“, orienta a especialista. E a ciência pode ajudar a criar estratégias para essa nova realidade.
Orientar para conectar
Um estudo realizado por pesquisadores espanhóis, publicado recentemente no periódico Health Communication, se debruçou sobre o assunto para identificar quais são as melhores formas de se comunicar com quem tem a doença.
A investigação tinha duas frentes: uma que avaliava o conhecimento dos cuidadores sobre a importância e as particularidades da comunicação com quem tem o diagnóstico, e outra que observou os próprios pacientes para determinar como mudanças na entonação e na velocidade da fala afetam o entendimento da conversa.
Ao todo, participaram 252 cuidadores, dos quais 132 eram familiares e 120, profissionais. A grande maioria dos profissionais (90%) concorda que a comunicação tem um papel chave no cuidado de pessoas com demência e que a forma como falamos pode afetar as emoções delas.
Entre familiares, uma porcentagem de cerca de 80%, afirmaram prestar atenção na forma como conversam com seus parentes com Alzheimer e percebem como isso influencia o nível de atenção deles.
Ainda assim, os autores da pesquisa observaram que 93,7% dos cuidadores não profissionais precisam de mais informação sobre esse assunto.
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O que fazer ou não fazer
Para avaliar as melhores formas de se comunicar com os pacientes, o estudo também incluiu um experimento com 60 pessoas com Alzheimer, que foram comparadas a 30 indivíduos saudáveis.
Em testes auditivos, os voluntários ouviam, repetidamente, as mesmas instruções, mas ditas com entonações diferentes. A atividade cardíaca, a respiração e as respostas do sistema nervoso periférico eram acompanhadas a cada palavra escutada. Também foi utilizado um sistema de reconhecimento facial observar as emoções dos participantes.
Assim, os pesquisadores concluíram que cuidadores e pessoas próximas devem evitar falar rápido, com tom paternal e com entonação monótona, ou seja, sem ressaltar palavras que são importantes para a conversa.
Segundo a pesquisa, é preciso se comunicar de maneira amorosa, sem perder a segurança; articular bem as palavras; falar de forma sucinta, dando uma informação de cada vez; e, preferencialmente, usar um tom de voz de médio a grave, evitando agudos.
A seguir, confira mais dicas para conversar com quem tem Alzheimer.
1. Seja direto
Uma das dicas mais importantes é falar de forma sucinta e bem articulada, para que a pessoa consiga entender o máximo possível do que você quer dizer.
“Evite dar muitos direcionamentos de uma só vez, use frases curtas e dê novas informações aos poucos. Por exemplo, para ir ao almoço, primeiro avise-o que vocês vão a cozinha. Ao chegar na cozinha, fale sobre o almoço”, ilustra Mello.
Também evite dar muitas opções ou fazer perguntas muito amplas. “‘Você quer vestir calça ou bermuda?’ é melhor do que simplesmente perguntar ‘o que você quer vestir?’, porque a pessoa pode não encontrar as palavras para expressar o que ela deseja”, explica a psicóloga.
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2. Fale com carinho
“Muitas vezes, a forma como a gente fala pode importar mais do que o que dizemos”, afirma Mello.
Para quem tem Alzheimer, uma entonação da voz mais amorosa e paciente ajuda a manter uma conexão de afeto que foi construída ao longo dos anos e a fazer novos laços.
Por outro lado, demonstrar irritação e agressividade torna o ambiente mais hostil e afasta as chances de manter uma conexão entre paciente e familiar ou profissional.
3. Atenção à linguagem corporal
Além das palavras, também nos comunicamos por gestos e olhares.
“Perceber o humor do indivíduo é essencial para entender o que ele quer comunicar e como ele está se sentindo, principalmente quando a comunicação verbal deixa de ser muito mais clara”, aponta Danielle Akemi Neves Xavier, fonoaudióloga especializada em Gerontologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
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4. Estimule na medida certa
Use o que está ao redor para puxar assunto e bater um papo. Vale contar histórias ao mostrar fotos, ouvir músicas que conectem vocês, ler livros e usar outros objetos que estimule o vínculo entre o cuidador e o paciente.
“Mas não tente testar a memória de quem vive com Alzheimer”, adverte a psicóloga Luciane Mello. “No geral, isso gera situações em que a pessoa se sente perdida, desorientada ou até ridicularizada por não conseguir lembrar de detalhes de algum evento ou quem é certa pessoa.”
Outra abordagem inconveniente é recordar a pessoa de traumas vividos. “Se o paciente pergunta por alguém que já faleceu, por exemplo, não convém fazer a pessoa reviver o luto. É melhor dizer que a pessoa mudou ou foi viajar para evitar que quem tem demência sofra novamente com a notícia”, aconselha a psicóloga.
5. Ambiente adequado
Locais mais tranquilos e silenciosos vão ajudar cuidadores e pacientes a se comunicarem melhor.
“O Alzheimer está muito associado à perda auditiva e, progressivamente, à dificuldade de processar os sons. Por isso, o silêncio vai ajudar o indivíduo a compreender e prestar atenção na conversa no melhor nível que conseguir, de acordo com o estágio da doença”, orienta a fonoaudióloga.
6. Socialize
O isolamento social é um dos fatores de risco para o desenvolvimento de Alzheimer — e também deve ser evitado durante o tratamento. “Acolha a pessoa em reuniões familiares, não ignore a presença dela. Isso não é de bom tom”, pontua Mello.
Encontros em casa e caminhadas são um estímulo ao corpo e à mente.
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7. Procure especialistas
Compartilhe suas dúvidas e dificuldades com os profissionais que acompanham o caso. Em geral, o tratamento deve ser feito com uma equipe multiprofissional, que geralmente inclui neurologistas, geriatras, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, entre outras especialidades.
Nos primeiros estágios do declínio cognitivo, é comum que parentes e amigos observem mudanças de comportamento, humor mais irritadiço e depressivo. Por isso, psiquiatras e psicólogos podem ajudar no diagnóstico e tratamento da doença.
Fonoaudiólogos atuam na avaliação da fala e da escuta dos pacientes e também tem papel na prevenção da condição. A perda auditiva é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de Alzheimer.
“Identificar e tratar esse déficit ajuda a prevenir ou adiar o aparecimento da demência, melhorando a socialização de quem tem ou não a doença”, pontua Danielle Xavier.
Uma maneira de encontrar especialistas e conhecer outras famílias que cuidam de pessoas com Alzheimer é por meio dos canais da Abraz.
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