Crossfit é perigoso? Entenda
Muita gente ainda desconhece a prática e tem dúvidas quanto a seus riscos
O crossfit é uma modalidade de atividade física que se tornou muito popular nos últimos anos.
Apesar de não ser mais uma grande novidade, ainda tem gente que pensa que ele é algo difícil e “só para marombas”. Na verdade, trata-se de uma uma metodologia completa e até inclusiva. Mas é essencial que seja praticado da forma correta.
O que é crossfit?
Ao pé da letra, Crossfit, com C maiúsculo, é a marca que criou esse estilo de treino, que mistura fundamentos do levantamento de peso olímpico, da ginástica artística e de exercícios aeróbicos, como corrida e remo.
Ele pode ser definido como um treino funcional com grande variação de movimentos em alta intensidade, com foco na movimentação funcional.
“Tudo no nosso cotidiano depende do trabalho de múltiplos músculos e articulações, e você treinar esses grupos ajuda na criação e na manutenção do condicionamento físico”, explica o personal trainer Joel Fridman, dono do primeiro box — como são chamadas as academias de crossfit — do país, o CrossFit Brasil, fundado em 2009 em São Paulo.
Benefícios do crossfit
O principal deles, como adiantamos, é a funcionalidade: fazer um levantamento de peso que recruta a região lombar, pernas e glúteos, por exemplo, melhora a capacidade de sentar, levantar e pegar coisas do chão.
Erguer um halter em cima da cabeça mexe com as estruturas do corpo que nos permitem colocar um livro na estante ou um item no armário. Conseguir fazer essas coisas sem um grande esforço significa qualidade de vida no dia a dia.
“O crossfit foi desenhado por um homem que usou o esporte para minimizar sequelas de uma doença. A modalidade devolve às pessoas capacidades que elas achavam que não tinham mais, gerando autonomia”, explica a educadora física Maria Clara Saueia, proprietária do box Crossfit Saurus, na capital paulista. Seu estúdio trabalha não apenas com adultos mas também com turmas “master” (acima de 50 anos) e “kids” (de 3 a 10 anos).
Além disso, o método une exercícios completos (e complexos) em circuitos intensos usando pesos livres, o que ativa hipertrofia muscular e aptidão cardiovascular ao mesmo tempo.
A prática de movimentos difíceis tem vantagens por si só. “Quanto maior a complexidade, maior a demanda para o sistema nervoso, as adaptações no corpo e o desenvolvimento de músculos, flexibilidade, coordenação e da capacidade cardiorrespiratória”, explica Fridman.
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Como é o treino de crossfit?
A aula geralmente é dividida em três partes.
Primeiro, um aquecimento, focado em acordar as regiões que serão trabalhadas naquele dia. Depois, uma parte técnica, em que o instrutor (ou coach) ensina e demonstra movimentos e os alunos tem um tempo para aprender, repetir ou aprimorar a execução daquele passo.
Por fim, vem o treino do dia (também chamado WOD, work of the day), que pode envolver vários mini circuitos em uma duração fixa ou um circuito maior para realizar no menor tempo. A terceira etapa é bem intensa, para suar a camisa mesmo.
Formalmente, não existe contraindicação para a prática, pois todos os movimentos podem ser adaptados às limitações de cada um. Por isso, volta e meia viralizam nas redes vídeos de praticantes grávidas, idosos ou mesmo de pessoas com deficiência física.
É verdade que o crossfit causa lesões?
Se praticado da forma correta, é mito. Se não, verdade. É que a complexidade de movimentos, o grande trunfo da modalidade, pode também ser sua maior armadilha.
Levantamento de peso olímpico e ginástica exigem exercícios difíceis, precisos e exigentes, assim como remo não é o mais simples dos aeróbios.
Numa academia, fazer exercícios nas máquinas ajuda a minimizar a chance de erros. Mas no crossfit, como os exercícios são livres, é essencial uma prática responsável e supervisionada, principalmente no início.
“Ele não é mais perigoso ou lesiona mais do que outros treinos, desde que seja praticado da maneira correta, o que muitas vezes não acontece. Tem muita gente que faz de uma forma inadvertida, e a segurança depende de boa postura, coordenação e supervisão”, explica o ortopedista Marcos Vaz de Lima, chefe do Grupo de Traumatologia do Esporte da Santa Casa de São Paulo.
Uma revisão de 65 pesquisas, feita pelo Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), constatou que o risco de lesão é baixo — varia de 1,9 a 3,1 a cada mil horas praticadas. No futebol, para ter ideia, esse número salta para 7,8.
O ortopedista Jan Sprey, professor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e praticante de crossfit, também investigou o assunto em seu mestrado. Ele entrevistou 600 praticantes da modalidade pelo Brasil e concluiu que apenas 31% deles haviam sofrido alguma lesão desde o início dos treinos. A mesma taxa no futebol pula para 70%.
Mesmo com esses dados, existe uma lógica em associar o crossfit a uma prática mais perigosa quando não se conhece a rotina de um box. Afinal, boa parte dos praticantes treina seis vezes na semana.
“Levando em conta a mesma quantidade de horas praticadas, o crossfit não lesiona mais que outras modalidades. Mas, como é um treino empolgante, que forma comunidades, as pessoas praticam com maior frequência, então ficam proporcionalmente mais expostas a lesões”, analisa o ortopedista especialista em dor e medicina esportiva Guilherme Noffs, de São Paulo.
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Os machucados mais comuns e como evitar
As lesões mais comuns ocorrem no ombro, joelho e coluna vertebral, com destaque para a lombar. Os problemas podem envolver desde luxações simples até ruptura de tendões ou mesmo hérnia de disco.
O ideal é estar 100% recuperado de uma lesão para voltar a treinar, e esse retorno deve ser progressivo e supervisionado.
Sempre que pensamos em trabalho físico, envolvendo músculos e articulações, existem variáveis a ser consideradas para ter segurança: velocidade, amplitude de movimento, carga, repetições e descanso para recuperação e adaptação muscular.
“Os exercícios de crossfit podem ter impacto, mudança brusca de direção e, às vezes, até movimentos de torção. É preciso ter uma técnica apurada, porque, quanto maior a intensidade do treino, maior o risco de errar na técnica e se lesionar”, explica Sprey.
E aí surge a principal variável para evitar machucados nessa prática: escolher um bom box, que possua um treinador apto a ensinar o be-a-bá com paciência, corrigindo a prática de perto e adaptando os passos para a realidade de cada aluno.
Infelizmente, nem todos os lugares são assim, por isso é legal conversar com praticantes, fazer uma aula teste e sentir o clima do lugar e do coach antes de se matricular.
Lembrando que evoluir com calma é a chave para ficar menos vulnerável a lesões.
Claro, ficar bom em qualquer modalidade leva tempo. Mas, principalmente no Crossfit, não dá para ir com sede demais ao pote. Uma técnica correta é crucial para que os resultados do treino sejam mais positivos do que negativos.