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Atividade física ligada ao trabalho pode fazer mal à saúde cardiovascular

Estudo europeu associa o esforço físico durante o expediente a maior risco de infarto, AVC e outros problemas do tipo. Entenda o que está por trás disso

Por Gabriel Toueg
Atualizado em 28 abr 2021, 18h10 - Publicado em 28 abr 2021, 18h05
Foto de empreiteiro em obra
Atividades físicas ocupacionais trazem componentes diferentes das realizadas no tempo livre. (Foto: Becca Tapert/Unsplash/Divulgação)
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Um longo estudo dinamarquês, publicado recentemente no European Heart Journal, chegou a conclusões que parecem paradoxais: enquanto a atividade física realizada em períodos de lazer foi associada a um menor risco de problemas cardiovasculares e morte, a feita durante o trabalho acabou ligada a uma maior probabilidade desses desfechos negativos. Vamos entender o levantamento e seus resultados.

A pesquisa foi conduzida com 104 046 voluntários entre 20 e 100 anos. Os participantes responderam questionários sobre o que faziam nos horários de lazer e de trabalho. A frequência de atividade física de cada um foi classificada entre baixa, moderada, alta ou muito alta.

Ao longo de dez anos, 9 846 participantes morreram (9,5% do total) por causas diversas. Os pesquisadores também registraram eventos cardiovasculares graves em 7 913 pessoas (7,6%). Eles incluem infartos e AVCs fatais e não fatais.

Os cientistas contemplaram ainda questões como idade, sexo, estilo de vida, condições de saúde e níveis socioeconômicos dos participantes, para evitar que eles interferissem nas conclusões. “Isso significa que as relações que encontramos não são explicadas por nenhum desses fatores”, diz Andreas Holtermann, um dos autores do estudo e professor do Centro Nacional de Pesquisa para o Ambiente de Trabalho em Copenhague, na Dinamarca.

De acordo com essa investigação, frequências de atividades físicas moderadas, altas e muito altas nos momentos de lazer estão associadas a reduções de 26%, 41% e 40% no risco de morte, respectivamente. Por outro lado, volumes elevados ou muito elevados de atividades físicas no trabalho foram ligadas aumentos de 13% e 27% no risco de morte, respectivamente.

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O estudo não examinou as razões por trás desses dados tão diferentes, mas Holtermann arrisca um palpite. De acordo com ele, trabalhos mais físicos não são iguais a um esporte. “Ficar levantando peso por muitas horas aumenta a pressão arterial continuamente, o que está relacionado ao risco de doenças cardíacas”, argumento. E o funcionário nem sempre tem autonomia para parar e repousar quando necessário. Já o exercício físico no lazer é mais regulável.

Paulo Guerra, presidente da Sociedade Brasileira de Atividade Física e Saúde (SBAFS), reforça que a ausência de um controle adequado pode ajudar a explicar os dados. “Em atividades físicas ocupacionais, às vezes falta planejamento, orientação profissional e até cuidados com o uso de roupas adequadas”, explica. “Um pedreiro, por exemplo, não consegue determinar a quantidade de peso a ser levantada, o tempo de descanso e mesmo os gestos corporais”, arremata. Isso sem falar do estresse de qualquer serviço.

Outra possibilidade aventada por Holtermann é a de que certas atividades físicas laborais não aumentam o ritmo cardíaco ao ponto de trazer benefícios claros. Mas elas ainda assim deixam os funcionários cansados e acreditando que não precisam se exercitar no tempo livre.

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De acordo com o especialista dinamarquês, uma ideia é reorganizar a atividade ocupacional para que ela, digamos, imite os aspectos benéficos do exercício de lazer. Em um comunicado de divulgação dessa pesquisa, a Sociedade Europeia de Cardiologia afirma que “várias abordagens estão sendo testadas, como a rotação entre as estações de trabalho em uma linha de produção para que os funcionários façam uma mistura saudável entre sentar, ficar em pé e levantar peso durante um turno”, explica a entidade.

“Precisamos encontrar maneiras de tornar o trabalho ativo bom para a saúde”, arremata Holtermann.

Só cabe ressaltar que essa é uma pesquisa de observação, que apenas associa fatores. Portanto, não dá pra ter certeza se de fato a atividade física causa o aumento no risco de eventos cardiovasculares — ou se há algo desconhecido por trás dessa relação.

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