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Velhos, sim… Doentes, não! A nova cara e os desafios da velhice

Decisão da OMS de incluir a velhice na sua lista oficial de doenças — que acaba de ser revertida — suscita debates sobre os novos significados dessa fase

Por André Bernardo
Atualizado em 17 dez 2021, 14h25 - Publicado em 17 dez 2021, 14h24
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  • O príncipe Philip do Reino Unido, de 99 anos, morreu na manhã de 9 de abril de 2021. O Palácio de Buckingham não entrou em detalhes sobre a causa de sua morte. Disse apenas que ele “faleceu pacificamente” no Castelo de Windsor, uma das residências oficiais da família real.

    Dois meses antes, o marido da rainha Elizabeth II tinha passado mal e precisou ser internado. No dia 1º de março, foi submetido a uma cirurgia no coração. Ficou hospitalizado quase um mês. Na hora de preencher seu atestado de óbito, o médico da realeza declarou que ele morreu de… “idade avançada”.

    A Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu incluir a velhice na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) no dia 28 de maio de 2019, durante a 72ª Assembleia Mundial de Saúde. O encontro aconteceu em Genebra, na Suíça, e reuniu representantes de 194 países, incluindo o Brasil.

    Ficou acertado que o código R54, até então empregado para casos de senilidade, seria substituído pelo novíssimo MG2A, usado para pacientes que, a exemplo do príncipe britânico, morreram em idade avançada.

    O motivo da troca, explica Bernardino Vitoy, especialista em saúde familiar e comunitária da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), teria sido a “conotação negativa” da palavra senilidade.

    A mudança, que passaria a valer dia 1º de janeiro de 2022 com prazo de três anos para ser devidamente implementada, desagradou especialistas de diversos campos.

    O médico gerontólogo Alexandre Kalache, ex-diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida da OMS, classifica a decisão de “aberração” e “retrocesso”.

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    “Da mesma maneira que ninguém morre de infância ou de adolescência, ninguém morre de velhice”, argumenta o presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil (ILC-BR). “Velhice é apenas o número de anos que uma pessoa vive. Não tem a ver com sua capacidade física, cognitiva ou funcional”, crava.

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    A geneticista Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco da Universidade de São Paulo (USP), concorda. “O envelhecimento é um processo natural e, cada vez mais, vemos pessoas com 70, 80 ou 90 anos ativas e saudáveis. O que vamos fazer? Classificá-las todas como doentes?”, indaga a autora de O Legado dos Genes — O Que a Ciência Pode Nos Ensinar sobre o Envelhecimento (Objetiva).

    A CID é um manual que, além de doenças, engloba sintomas, lesões e anomalias, e contabiliza quase 55 mil códigos. Criada em 1893, encontra-se em sua 11ª edição — a anterior é de 1993. Se a ideia era botar na lista uma condição mais propícia com o avançar da idade, os experts vinham sugerindo, em vez de velhice, “fragilidade”.

    “Frágil é toda pessoa idosa que perdeu sua independência ou autonomia”, define Ivete Berkenbrock, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). “Ou seja, é incapaz de tomar decisões, como escolher onde morar e o que vestir, ou executar tarefas como dirigir ou tomar banho”, completa.

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    No entendimento da SBGG, a velhice não deve ser confundida com problema de saúde. É uma etapa da vida. “O envelhecimento é um processo contínuo, individual, inevitável e heterogêneo”, afirma Ivete. Não à toa, acrescenta, é comum encontrar pessoas com 60 e 70 anos apresentando limitações físicas e cognitivas, e outras com 80 ou 90 esbanjando vigor e independência.

    Mas a partir de quando viramos idosos? “No Brasil, é quem tem 60 anos ou mais. Na Itália, com 75. Mas, na maioria dos países desenvolvidos, é a partir de 65”, esclarece a geriatra.

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    A OMS não dava sinais de que voltaria atrás na resolução. Vitoy lembra que, em 2018, quando a proposta foi lançada, a entidade recebeu mais de 10 mil contribuições de especialistas e associações de diversos países.

    Ainda hoje, a OMS dispõe de um canal em seu site para sugestões ou comentários. Além disso, vem promovendo reuniões, seminários e audiências públicas online para discutir o assunto.

    Mas, com esta edição de VEJA SAÚDE já impressa e em distribuição pelo país (a vantagem da versão digital é justamente poder atualizar o conteúdo), a OMS cedeu às críticas e aos argumentos e optou por não incluir mais “velhice” na lista da CID. Em seu lugar, propõe colocar ageing associated decline in intrinsic capacity, o que poderia ser traduzido por “envelhecimento associado à capacidade intrínseca em declínio”.

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    A mudança de última hora é considerada uma vitória por instituições como a SBGG e o ILC-BR. “É um dia histórico”, comemora Kalache. Segundo o médico, se a decisão não fosse alterada, a luta continuaria. “Porque não basta viver muito, temos que viver bem. Queremos todos envelhecer com dignidade”, declara.

    foto da modelo ana luna cabelo branco com camiseta
    (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)

    Os novos velhos

    O código da CID é usado toda vez que o médico precisa fazer um atestado, solicitar um exame ou internação ou declarar um óbito. Mas uma reclassificação da velhice (ou de algum termo semelhante) como doença poderia ter outras consequências. Uma delas é mascarar o diagnóstico e o registro de problemas de saúde, comprometendo até os dados epidemiológicos.

    Em vez de especificar que o paciente tem (ou tinha) doença cardiovascular, oncológica ou neurológica — as responsáveis por 75% das mortes após os 60 —, o profissional poderia reduzir tudo isso a uma “idade avançada”. Outro risco é turbinar a indústria antienvelhecimento: se velhice é doença, logo é passível de tratamento, o que dá margem a um sem-número de poções mágicas sem comprovação.

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    O pior dos efeitos colaterais, porém, seria aumentar o preconceito contra idosos. No Brasil, o termo ageism, criado pelo psiquiatra Robert Butler (1927-2010) em 1969, ganhou diferentes traduções, como etarismo, idadismo e idosismo.

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    Segundo levantamento da OMS com 83 mil pessoas em 57 países, 16,8% dos brasileiros acima dos 50 já sofreram preconceito ou discriminação etária.

    “O que explica a ‘velhofobia’ é, talvez, o fato de ninguém querer ficar velho”, reflete a antropóloga Guita Debert, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “A velhice amedronta porque ninguém quer ficar dependente de filhos ou cuidadores”, analisa.

    Há dois grupos de preconceito contra o idoso. A discriminação pessoal ocorre quando se trata alguém mais velho de maneira infantilizada ou se parte do princípio de que ele não vai entender nada nem é capaz de tomar decisões. E a institucional dá as caras quando um empregador não contrata, treina ou promove pessoas acima de certa idade, por exemplo.

    “Nas empresas, isso pode ser expresso em piadinhas de cunho etário ou mesmo na falta de oportunidades profissionais”, nota a psicóloga Fran Winandy, do blog Etarismo nas Organizações. Uma das vítimas foi a atriz italiana Isabella Rossellini. Modelo da Lancôme por quase 15 anos, foi demitida da marca aos 43 — por estar “velha demais” para vender cosméticos — e, sinal dos tempos, recontratada aos 65.

    O idosismo também vem à tona no discurso das autoridades. “O que assistimos durante a pandemia foi lamentável”, diz a juíza Andréa Pachá, autora de Velhos São os Outros (Intrínseca). Sobretudo no início da Covid-19, ouvimos políticos verbalizando que a doença não era preocupante porque ameaçaria apenas os idosos. “Uma velhice digna exige, antes de tudo, que se enxergue o idoso sem preconceito”, defende Andréa.

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    Romper com a discriminação depende de mudanças sociais e culturais e da própria capacidade de o público 60+ reconquistar lugares ao sol — na universidade, no mercado de trabalho, na comunidade. Exemplos de produtividade ou reinvenção não faltam. Que o diga Cora Coralina (1889-1985). Viúva e mãe de seis filhos, ela trabalhou como lavradora e doceira até se projetar como poeta.

    Em 1965, aos 76 anos, publicou seu primeiro livro, que mereceu elogios até do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), que a chamou de “diamante goiano”. “Eu sou aquela mulher a quem o tempo muito ensinou…”, escreveu Cora no poema Ofertas de Aninha, de 1983. “Aprendi que mais vale lutar do que recolher dinheiro fácil. Antes acreditar do que duvidar.”

    Autora de sete livros sobre envelhecimento — o mais recente, A Invenção de uma Bela Velhice (Record) —, a antropóloga Mirian Goldenberg diz que aprende todos os dias com seus amigos nonagenários: ser dona do próprio tempo, ter propósito na vida, aprender a dizer não…

    “Todos eles têm coração de estudante. A Thais, de 96 anos, está aprendendo italiano. A Nalva, de 93, tem aulas de pintura. E o Guedes, de 98, estuda Os Lusíadas. Não desperdiçam tempo ou energia com o que não tem importância”, conta a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

    foto de ana luna com a camiseta
    (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)

    O mundo é dos idosos

    Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16% dos brasileiros tinham 60 anos ou mais em 2019 — 34 milhões em um universo de 210,1 milhões de habitantes. Projeções estimam que, em 2100, esse número saltará para 72,4 milhões. Daqui a uns 80 anos, o percentual de idosos deve bater 30%, mais que o dobro do que haverá de crianças e adolescentes.

    “Tanto no Brasil quanto em outros países, o envelhecimento da população se dá de forma acelerada”, afirma Rita Martorelli, analista de projetos sociais do Departamento Nacional do Serviço Social do Comércio (Sesc). “Isso pode ser explicado pela queda na taxa de natalidade e pela redução na de mortalidade. Vivemos em uma sociedade mais envelhecida”, resume.

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    Duas pesquisas ajudam a traçar o perfil do nosso idoso. Uma delas, feita pela SBGG em parceria com a Bayer, entrevistou 2 mil pessoas de dez capitais em 2017 e revelou que 54% daqueles com 55 anos ou mais não se sentiam velhos.

    No dia a dia, 76% realizavam alguma atividade que desafiava o cérebro (leitura, por exemplo), 51% iam ao médico mais de uma vez por ano, 23% se alimentavam de maneira saudável e 17% faziam exercícios físicos regularmente. Por outro lado, 29% admitiam sentir medo da solidão, 21% temiam a incapacidade de enxergar ou de se locomover e 18% se preocupavam com o desenvolvimento de doenças graves.

    “São muitos os desafios que a velhice impõe ao indivíduo. E o principal é o psicológico. Para envelhecer bem, é preciso não ter preconceito contra envelhecer”, aponta a geriatra Maisa Kairalla, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

    “Na teoria, a gente começa a envelhecer a partir dos 27 anos. Mas, na prática, é desde o momento em que nasce. Quanto antes a gente se preparar para envelhecer bem, melhor”, recomenda a colunista de VEJA SAÚDE.

    A outra pesquisa a mapear como vivem e se sentem os brasileiros com 60 anos ou mais é do Sesc de São Paulo e da Fundação Perseu Abramo — ela ouviu 2,3 mil pessoas nessa faixa numa amostra de 4,1 mil.

    Entre os principais achados, 86% dos participantes acham que envelhecer é um privilégio, 78% não têm medo da morte e 75% acreditam que viver o momento presente é mais importante do que se preocupar com o futuro.

    Em casa, os hobbies favoritos são TV (93%), rádio (71%) e leitura (61%). Ao ar livre, caminhada (46%), alongamento (16%) e bicicleta (13%). Se pudessem, 27% deles viajariam mais. O que os impede? Falta de dinheiro (37%), de saúde (18%) e de companhia (7%).

    “A velhice, por si só, não é um problema. Mas o medo de envelhecer pode transformá-la em um problema”, avisa o geriatra Newton Luiz Terra, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). “Idoso é quem ainda sente amor, tem planos para o futuro e aprende coisas novas todos os dias. Velho é quem só sente saudade, vive de recordações e acha que sabe tudo”, diferencia o autor de Só É Velho Quem Quer (Editora da PUC-RS).

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    Newton, Ivete e Maisa são representantes da especialidade médica dedicada ao envelhecimento, a geriatria. Uma área que, a despeito da crescente demanda, ainda tem um número tímido de profissionais por aqui. De acordo com análise do Conselho Federal de Medicina (CFM), dos 502,4 mil médicos existentes no país, 2 143 são geriatras — ou seja, apenas 0,5% do total. Desses, 58% são mulheres e quase 60% trabalham no Sudeste.

    “Quando entrei na faculdade, não pensava em fazer geriatria. Mas, lá dentro, descobri no contato com os pacientes que cada idoso tem uma história, e, na nossa especialidade, você não trata a doença, você cuida de uma pessoa com uma história”, relata Mariana Bellaguarda Sepulvida, coordenadora do Serviço de Geriatria do Hospital São Luiz de São Caetano do Sul (SP). “Todos os dias, aprendo algo com meus pacientes. E aprendo a me colocar mais no lugar deles. Além disso, descobrir o que os leva ao médico ou ao hospital pode ser desafiador, como montar um quebra-cabeça.”

    Infraestrutura amigável

    O hospital onde Mariana trabalha está prestes a receber o nível intermediário do selo Hospital Amigo do Idoso. O certificado é concedido pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo a centros que adotam boas práticas no atendimento a quem tem mais de 60 anos. De fato, nem todo hospital ou posto de saúde está preparado para receber esse público.

    De um lado, falta o olhar especializado para questões como a fragilidade, a cognição e o maior risco de quedas. Do outro, pacientes se queixam de que os profissionais não lhes dirigem a palavra, preferindo conversar sobre o tratamento com acompanhantes ou cuidadores.

    O conceito de “amigável” também pode ser aplicado a bairros, comunidades ou municípios. Atualmente, 1,1 mil cidades de 44 países já foram certificadas pela OMS como amigas das pessoas idosas.

    Só no Brasil, são 18. A primeira delas foi Porto Alegre, em 2015. “Para receber essa classificação, a prefeitura precisa tomar uma série de providências, como respeitar o horário de silêncio, promover a acessibilidade nas calçadas e criar áreas verdes de descanso”, explica Léo Voigt, secretário de Desenvolvimento Social da capital gaúcha.

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    Há outras políticas públicas voltadas à já chamada “terceira idade” no Brasil. Na Paraíba, o governo estadual criou o programa habitacional Cidade Madura, em 2014, para idosos de baixa renda. Cada condomínio oferece, além de 40 casas, pista de caminhada, horta comunitária e academia ao ar livre. O programa já existe em seis municípios do estado e, em breve, chega a mais dois.

    “As casas e os apartamentos podem se tornar perigosos para os idosos. Pisos escorregadios, armários altos, iluminação inadequada… O imóvel perfeito é aquele que garante a segurança do morador”, diz o engenheiro biomédico Norton Mello, Ph.D. em gestão de saúde e autor do livro Senior Living (Estilo Editorial), sobre tendências nesse ramo.

    No Rio de Janeiro, a prefeitura da capital criou a Academia da Terceira Idade (ATI). O programa existe desde 2009 e a primeira unidade foi inaugurada em Copacabana. Hoje, são mais de 400, todas em áreas ao ar livre como praias, praças e parques e equipadas com até sete aparelhos cada uma, como simulador de caminhada e aparelho multifuncional.

    Em algumas delas, professores de educação física, técnicos de enfermagem e integradores sociais orientam os frequentadores de segunda a sexta, das 7 às 10 horas da manhã.

    Outra iniciativa reconhecidamente bem-sucedida é a Universidade Aberta à Terceira Idade. Criado em 1994, o programa USP 60+ chegou a receber, antes da pandemia, uma média de 10 mil alunos por ano — a grade inclui desde disciplinas regulares até palestras, oficinas e excursões.

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    Ano passado, abriu 6 mil vagas em mais de mil cursos online. “Nosso programa é inovador porque promove o encontro dentro de sala de aula entre o aluno longevo e o da graduação. Entre outros ganhos, essa intergeracionalidade melhora a autoestima, reduz o estresse e estimula a socialização”, explica o médico Egídio Dórea, coordenador do projeto.

    Ter onde morar, praticar atividade física e estar sempre aprendendo podem parecer regalias, mas são direitos. Direitos nem sempre respeitados.

    “A maior conquista do Estatuto do Idoso foi dar visibilidade à velhice e falar dos direitos daqueles que têm o privilégio de viver mais. Não acho que precise de ajustes. Há leis em excesso no país. O que falta é dar efetividade aos direitos, e isso se faz por meio de políticas públicas”, observa a juíza Andréa Pachá.

    foto de ana lunca com a camiseta com slogan
    (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)

    Aposentar? Nem pensar

    Quem vê o médico Luiz Schirmer atendendo pacientes em uma clínica em Florianópolis não imagina que, nas horas livres, ele tem um hobby pra lá de inusitado: paraquedismo.

    Mineiro de Betim, ele começou a saltar aos 17 anos, quando ingressou no Exército, e, aos 83, já acumula mais de 4 mil saltos, no Brasil e no exterior. Schirmer é um dos seis personagens do documentário Envelhescência (2015) — o título, elaborado pelo sociólogo Manoel Berlinck (1937-2016), é uma fusão de “envelhecimento” e “adolescência”.

    Não por acaso, Edméa, outra personagem do filme, começou a surfar aos 58, Judith fez a primeira tatuagem aos 72 e Edson formou-se em medicina aos 82.

    “Admiro muito quem carrega consigo um espírito jovem”, conta o cineasta Gabriel Martinez, que já prepara um segundo documentário sobre o tema, Além do Aposento, ainda sem previsão de estreia. “Todos eles me ensinaram a olhar a vida com leveza e a nunca deixar de fazer o que eu gosto.”

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    Dicas para viver mais e melhor, provando que velhice não é sinônimo de doença nem de declínio, existem muitas. “Ter bom humor, cultivar relações sociais e desenvolver resiliência são primordiais para envelhecer bem”, afirma a psicóloga Maria Celia de Abreu, autora de Velhice — Uma Nova Paisagem (Ágora), que reúne reflexões do filósofo Mario Sergio Cortella, de 67 anos, do médico Drauzio Varella, de 78, entre outras personalidades.

    E eles, os idosos, o que têm a dizer sobre a velhice? Para Cláudia Dias Baptista de Souza, a Monja Coen, de 74 anos, cuidar da saúde do espírito é tão importante quanto da saúde do corpo. “Espiritualidade não significa tornar-se membro de uma religião. Mas viver uma vida plena de bondade, compaixão e respeito. Ao fazer o bem, nos sentimos bem”, diz a líder zen-budista, que tem 3 milhões de seguidores no Instagram.

    Para o jornalista e escritor Zuenir Ventura, de 90 anos, o segredo da longevidade é ser otimista. “Um anjo torto disse para o Drummond ao nascer: ‘Vai, Carlos! Ser gauche na vida’. Já o meu ordenou: ‘Vai, Zuenir, ser careca e otimista’”, diverte-se o imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e autor da comédia musical Barbaraidade, em parceria com dois outros escritores experientes, Luis Fernando Verissimo, de 85, e Ziraldo, de 89. “Só que meu otimismo não é daqueles que veem luz no fim do túnel quando são os faróis de um carro na contramão”, ressalva.

    Já o desenhista Mauricio de Sousa, de 86, explica que sentir-se realizado profissionalmente, trabalhando ao lado de quem ama, como as filhas Mônica, Magali e Marina, fontes de inspiração para suas personagens, é determinante para um envelhecimento feliz. “Quando você trabalha no que gosta, nem sente o tempo passar. E, se o seu trabalho ajuda a tornar as pessoas mais felizes, melhor ainda”, relata o empresário, que, durante a pandemia, assumiu os cabelos brancos.

    Ao ser indagado sobre “quando” pretende se aposentar, leva um susto: “Sai pra lá, rapaz! O que eu vou fazer em casa aposentado? Só criar mais personagens? Não, nada disso. Ainda tenho muito a fazer”. Está aí uma frase para estampar o peito de qualquer um que já vivencia ou vai vivenciar essa tal de velhice.

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    (Foto: Tomás Arthuzzi/SAÚDE é Vital)

    A biologia da maturidade

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