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Vacina do HPV: “a melhor cura para o câncer é não ter o câncer”

Líder da empresa que produz o imunizante reforça seu papel na proteção da nova geração

Por Diogo Sponchiato
21 abr 2023, 09h13
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O vírus HPV está ligado a lesões genitais e casos de câncer de colo de útero, pênis, garganta... (Fotos: arinarici - Getty Images (vírus) e xefstock - Getty Images (redoma)/SAÚDE é Vital)
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O Brasil dispõe, desde 2014, de uma vacina contra o HPV no sistema público de saúde — ela é fornecida gratuitamente, em um esquema de duas doses, a meninas de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14.

O imunizante, criado pela farmacêutica MSD e produzido no país numa parceria com o Instituto Butantan (SP), tem a missão de evitar que alguns tipos do vírus provoquem tumores, como o de colo de útero.

Só que as taxas de vacinação andam patinando por aqui: estima-se que apenas 40% das garotas tomaram a segunda dose.

Reverter essa situação é crucial para reduzir, nas próximas gerações, o número preocupante de casos de câncer associados ao vírus sexualmente transmissível.

E é sobre esse e outros tópicos que conversamos com Rob Davis, o CEO global da MSD, em passagem pelo Brasil. Confira como foi:

VEJA SAÚDE: A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem um plano de erradicação do câncer de colo de útero, cuja principal causa é o HPV. Como produtor da vacina contra o vírus, acredita que esse objetivo é viável?

Rob Davis: Eu definitivamente acredito que a meta é alcançável, mas isso vai exigir o compromisso, numa perspectiva global, de farmacêuticas como a MSD, que tem um papel protagonista por produzir a principal vacina contra o HPV, e também o compromisso dos governos e da população.

As pessoas precisam entender que o HPV é a maior causa de câncer de colo de útero. E não só isso. O vírus também está envolvido com tumores de cabeça e pescoço, que aparecem mais em pessoas do sexo masculino do que no feminino.

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Então essa é uma iniciativa neutra do ponto de vista de gênero e de alcance mundial, e há um entendimento crescente de que podemos bater a meta na prevenção do câncer de colo de útero e de tumores de cabeça e pescoço associados ao vírus. Existem estudos clínicos e evidências do mundo real comprovando e reforçando isso.

Já há mercados em que alcançamos a taxa de 90% na cobertura vacinal contra o HPV, que é o ponto a partir do qual consideramos ser possível eliminar o câncer de colo de útero.

Nosso desafio é aumentar as taxas de vacinação e ampliar o número de pessoas com o esquema de imunização completo. A melhor cura para o câncer é não ter o câncer.

O Brasil tem sofrido com a queda na cobertura de várias vacinas, incluindo a de HPV. Qual é o seu diagnóstico a respeito e o que acha que devemos fazer para reverter esses índices?

O Programa Nacional de Imunizações brasileiro é um dos melhores do mundo, um exemplo para outros países. Sabemos, porém, que é preciso aumentar a cobertura de vacinação, que sofreu um declínio após a pandemia.

Mas vocês têm, aqui no Brasil, a infraestrutura, a história e a confiança das pessoas a favor disso.

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+ Leia também: A batalha pela vacinação

O Instituto Butantan acaba de inaugurar o Museu da Vacina, e, na abertura, pude perceber o compromisso que o prefeito de São Paulo, o governador do estado e o Ministério da Saúde, todos eles, têm em comum.

Eles compartilham a mesma mensagem, que é: “a ciência importa, siga a ciência”.

Está muito claro para os representantes do Estado, no nível local, regional e nacional, o poder da vacinação, e vejo uma mensagem consistente de apoio a ela.

Na minha perspectiva, o Brasil sabe o que fazer, vocês já tiveram algumas das melhores taxas de vacinação no mundo.

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O que agora precisam fazer é assegurar que as pessoas se informem e se eduquem sobre as vacinas e as doenças que elas protegem, que entendam, por exemplo, o papel do HPV no câncer. É preciso ecoar os fatos e a importância da prevenção para nós, como indivíduos.

Então todos os elementos estão aqui, o que precisamos é trabalhar juntos para garantir que os objetivos sejam alcançados.

Que tipo de trabalho em conjunto já está sendo feito nessa direção?

Temos no Brasil uma parceria muito importante desde 2013 com o Instituto Butantan para a produção da vacina do HPV. É uma das nossas parcerias público-privadas (PDP) de maior sucesso em todo o mundo.

O Brasil foi o primeiro país com quem fizemos esse tipo de acordo. O Butantan é um parceiro estratégico para nós, já estamos trabalhando numa vacina para varicela e ficamos bastante empolgados com os estudos clínicos do instituto com a vacina da dengue.

Nós temos nossa própria vacina para essa finalidade, uma espécie de irmã da do Butantan, financiada pelo governo americano, e, como ambas possuem uma estrutura semelhante, talvez possamos ajudar a levar a vacina daqui para o resto do mundo.

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Esse é um grande exemplo de liderança do Brasil na área.

A OMS chegou a ventilar a ideia de recomendar apenas uma dose da vacina do HPV para tentar alcançar maiores índices de cobertura pelo mundo. Qual a sua posição a respeito?

Nossa visão sobre esse posicionamento é: nós vamos seguir a ciência, e acreditamos que todo mundo deveria seguir a ciência.

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Ainda não temos evidências clínicas suficientes de que uma única dose da vacina seja eficaz para a devida proteção contra o HPV. E, como empresa, quando tivermos isso, aí, sim, podemos apoiar essa recomendação.

O que temos de evidência hoje, considerando inclusive que a vacina está no mercado há 14 anos, é que o regime de duas ou três doses do produto, dependendo do local onde é aplicada, é efetivo para a prevenção. Então vamos deixar a ciência ditar o que deve ser feito.

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Porque, se nos movermos rápido demais e depois constatarmos que essa indicação é equivocada, teremos um custo significativo para a saúde pública e as pessoas.

Então é melhor aguardar e ter certeza primeiro. Até porque, considerando nossa cadeia de suprimentos, a capacidade de produção das doses da vacina não será um problema.

Proteção ampliada

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(ícones: editoria de arte/Veja Saúde/SAÚDE é Vital)

A MSD lançou no Brasil uma nova vacina contra o HPV, a Gardasil-9. “Ela traz uma extensão da proteção já oferecida pela vacina Gardasil-4 [a versão quadrivalente disponível no SUS], ampliando a cobertura para outros cinco tipos do vírus”, resume Rob Davis.

A ideia é fechar ainda mais o cerco contra os patógenos associados ao câncer: os subtipos virais “extras” contemplados estariam por trás de um acréscimo de 20% nos casos de tumor de colo de útero.

O novo imunizante chega primeiro ao setor privado — o público-alvo é de adultos ou pais e mães que queiram vacinar os filhos com a versão ampliada. No SUS, o enfoque ainda é melhorar a adesão à vacina quadrivalente.

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