Normalmente, uma gestação humana dura entre 38 e 40 semanas. Mas não dá para dizer que é raro que se complete antes disso: até 18% dos bebês no mundo todo acabam nascendo antes da hora. Por não terem completado seu desenvolvimento no período ideal, os prematuros que sobrevivem podem vir de fábrica com problemas cognitivos, respiratórios ou cardíacos – o que demanda atenção especial logo nos primeiros momentos de vida.
Apesar de exames neonatais ajudarem a acompanhar o crescimento do bebê, ainda não há como prever o exato momento em que uma mulher entrará em trabalho de parto. Saber se a gravidez é viável ou não o mais rápido possível, porém, é essencial para agilizar certas medidas preventivas – tanto para a saúde da mãe como para a da própria criança.
Pensando nisso, pesquisadores norte-americanos descobriram uma forma de calcular os riscos de se ter uma gestação incompleta. Segundo seu estudo, publicado no jornal Scientific Reports, é possível encontrar particularidades no muco cervical de gestantes que deram à luz antes das 37 semanas para aquelas que cumpriram o tempo programado. Características dessa secreção, produzida no colo uterino, podem indicar se o parto tem chances de acontecer antes da hora.
Experimentos anteriores conduzidos pelo mesmo grupo do MIT (Massachusetts Institute of Technology) mostraram que entre 25 e 40% dos nascimentos prematuros têm a mesma origem. A culpa é das infecções causadas por micróbios, que ignoram as proteções mucosas do organismo e atingem o útero da mulher. A ideia, então, era comparar as mucosas de mulheres grávidas – e ver o quanto elas permitem a passagem desses pequenos invasores.
Para isso, foram coletadas amostras de dois grupos de gestantes. O primeiro, de baixo risco, começou a visitar mais o médico por volta das 30 semanas de gravidez, dando à luz depois das 37 semanas. O restante das cobaias, do grupo de alto risco, entrou em trabalho de parto pela primeira vez entre 24 e 34 semanas de gravidez. Alarme falso ou não, todas as crianças desse grupo nasceram antes das 37 semanas.
Os pesquisadores, então, testaram a densidade do muco cervical de cada grávida. Usando pequenas esferas, com 1 micrômetro (10-6 m) de tamanho, eles perceberam que os mucos de cada grupo tinham porosidades e aderências diferentes – já que as microesferas se moviam em velocidades distintas.
Depois, repetiram o mesmo teste, dessa vez usando peptídeos. Passar por entre o muco das mães de bebês prematuros, para essas partículas, foi uma tarefa bem mais fácil. Segundo Katharina Ribbeck, co-autora do estudo, essa característica tornaria certas mulheres mais vulneráveis às bactérias e, assim, aumentaria suas chances de dar à luz antes do tempo.
Atualmente, a maneira mais comum de se calcular o risco de nascimento prematuro é medir o comprimento da cervical do útero – tamanhos mais curtos representam risco maior. Outro método envolve a análise da fibronectina fetal, material que prende o bebê às paredes do útero.
No entanto, nenhum deles se mostrou definitivo: mesmo apresentando padrões normais para esses dois critérios, mães ainda podem ter filhos prematuros. Ribbeck defende que os testes de muco podem ser feitos ainda em estágios iniciais da gravidez, como parte dos exames de rotina. Fazendo isso, conseguiria-se mapear com precisão uma das possíveis causas dos partos prematuros, preparando melhor a mãe para esse cenário.
Esse conteúdo foi publicado originalmente na Superinteressante.