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Crianças estariam expostas a substâncias que bagunçam os hormônios

Novo estudo acusa, no corpo de jovens brasileiros, uma alta concentração de moléculas que afetam o equilíbrio hormonal. Uma causa seria o uso de cosméticos

Por Maria Tereza Santos
26 jun 2018, 13h29
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  • Disruptores endócrinos são substâncias químicas não produzidas pelo organismo e que podem provocar alterações no equilíbrio hormonal de uma pessoa. Pois pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, em colaboração com companheiros norte-americanos, descobriram que crianças brasileiras apresentam altos níveis de algumas dessas moléculas – em especial das comumente encontradas em cosméticos e produtos de cuidado pessoal.

    No experimento, foram analisadas amostras de urina, coletadas em 2012 e 2013 nas cinco regiões do país, de 300 voluntários entre 6 e 14 anos. Os cientistas focaram nos pequenos, porque mudanças na produção e no funcionamento de hormônios durante o desenvolvimento trariam repercussões mais graves.

    Em comparação com pesquisas de outros países, notou-se uma maior concentração de partículas a exemplo de parabenos e benzofenonas. “Compostos como os parabenos, as benzofenonas, o triclosan e o triclocarban são frequentes em produtos relacionados ao cuidado pessoal”, diz o farmacêutico Bruno Alves Rocha, um dos autores do trabalho, em comunicado ao Jornal da USP.

    Ainda de acordo com o texto do Jornal da USP, crianças das regiões Norte e Nordeste foram as que mais apresentaram taxas consideráveis desse tipo de disruptor endócrino. “Talvez por serem regiões mais quentes, as pessoas usem mais protetor solar. Mas não sabemos”, especula Rocha.

    Calma lá: isso não significa que o filtro solar deve ser banido. É uma questão de, antes de comprar o pote, conversar com um profissional para levar as melhores opções para casa – e, claro, ver se realmente é necessário aplicar diariamente outros produtos de beleza em crianças.

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    Para além dos cosméticos

    Outro ponto preocupante encontrado pelos pesquisadores foi a detecção de uma alta quantidade de bisfenol A, um tipo de disruptor endócrino que chegou a ser proibido na produção de mamadeiras no Brasil em 2012. Ainda assim, ele foi detectado em 98% das amostras de urina.

    Essa molécula aparece em diversos lugares, como em latas de alimentos, garrafas de água, papel térmico (que nem o de notas fiscais). Apesar do achado, os níveis da substância nas amostras brasileiras foram similares aos de países como Estados Unidos e Canadá, e muito menores do que os observados na Índia e China.

    Um diferencial da pesquisa foi justamente analisar a presença de vários disruptores endócrinos (foram 40 no total) e a possível interação entre eles no organismo da garotada. Até porque, embora muitos dessas substâncias já sejam regulamentadas no nosso país, o valor máximo permitido em produtos tende a se basear em análises de um ou outro composto isoladamente.

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    “Mas a pessoa não está exposta a apenas um determinado parabeno, e sim a vários tipos dele, aos bisfenóis, e assim por diante. Numa somatória, com certeza isso tem um efeito. E mostramos no nosso trabalho que a coexposição é algo a ser levado em conta”, afirma Rocha.

    Ao chafurdar os dados, foi identificado que as amostras de urina com maior concentração de vários disruptores endócrinos eram também as que costumavam conter mais 8-OHDG. Oi?

    Essa é uma molécula que se origina nas células quando o DNA sofre danos, uma condição que pode favorecer o surgimento de vários tipos de doença. Os resultados sugerem, portanto, que a exposição simultânea a inúmeros disruptores endócrinos tem potencial para destrambelhar as células dos pequenos.

    É claro que não dá para, com base na investigação, cravar que esse ou aquele produto vai causar uma enfermidade. Até porque, entre outras limitações, no artigo as crianças não foram acompanhadas para detectar eventuais repercussões claras na saúde. De qualquer forma, alguns levantamentos já pedem uma dose de cautela com os disruptores endócrinos – e, por exemplo, sempre vale a pena levar o jovem ao dermatologista para ver quais produtos realmente valem a pena passar na pele.

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