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Bem-Estar

Precisamos falar sobre Burnout

Esgotamento físico e mental associado ao trabalho: é assim que o burnout, uma pane no cérebro que já consome três em cada dez brasileiros, é descrito

por André Bernardo Atualizado em 8 out 2019, 15h31 - Publicado em
20 Maio 2019
10h35

Como o burnout começa

A jornalista Izabella Camargo, de 38 anos, não vai esquecer o dia 14 de agosto de 2018. Logo pela manhã, quando fazia a previsão do tempo em um telejornal em rede nacional, sofreu um apagão no ar e não se lembrou do nome da capital do Paraná, onde nasceu.

“Durante seis anos e meio, trabalhei de madrugada. Tentava dormir às 5 da tarde para acordar meia-noite. No final, tomava remédio para dormir e para acordar”, recorda. Nesse mesmo dia, já no consultório médico, Izabella caiu no choro ao receber o diagnóstico: síndrome de burnout. Ela havia ultrapassado a linha, tantas vezes tênue, em que o cérebro começa a pifar.

De origem inglesa, a palavra burnout pode ser traduzida como “queimar-se por completo”. O termo foi criado pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger (1926-1999) em 1974. Nessa época, ele trabalhava 12 horas por dia e, à noite, chegava a atender até dez usuários de drogas por hora numa clínica para dependentes químicos. Vítima de esgotamento físico e mental, caiu de cama.

Dormir pouco ou mal contribui para o surgimento ou o agravamento do burnout”, explica a neurologista Dalva Poyares, vice-presidente da Associação Brasileira de Medicina do Sono. Que o diga Izabella. “O sono é como uma conta-corrente. Se você gasta mais do que ganha, seu saldo fica devedor”, ela compara.

Como a síndrome do esgotamento profissional não exige notificação compulsória, o Ministério da Saúde não consegue dizer quantos brasileiros a encaram hoje. Mas uma pesquisa da International Stress Management Association (Isma-BR) calcula que 32% dos trabalhadores no país padecem dela — seriam mais de 33 milhões de cidadãos. Em um ranking de oito países, ganhamos de chineses e americanos e só ficamos atrás dos japoneses, com 70% da população atingida.

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“A sensação de quem sofre de burnout é a de ter passado dos limites. E não dispor de recursos físicos, psíquicos ou emocionais para fugir daquele beco sem saída”, descreve a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR.

Qualquer um está suscetível

Dois anos. Esse foi o tempo que a publicitária Roberta Carusi, de 48 anos, levou para descobrir do que sofria. Até receber o diagnóstico, peregrinou por 13 médicos, de endócrino a cardiologista. O que eles diziam? De tudo um pouco: estresse, depressão, pânico… Houve até quem atribuísse os sintomas — visão turva, dores no corpo e cabeça pesada — à idade!

“Cheguei a trabalhar de 18 a 20 horas por dia, sem direito a folga, férias ou sábado e domingo. Perdi as contas de quantas festas de aniversário cancelei ou de quantos telefonemas, de chefe ou cliente, atendi de madrugada. Não tinha opção: ou entrava no jogo ou era mandada embora”, relata.

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Detectar o burnout, admitem os especialistas, pode ser mais complexo do que parece. Não existem exames de sangue e de imagem ou testes de resistência física para flagrá-lo. O diagnóstico vem de uma escuta atenta do paciente e de uma avaliação minuciosa de suas condições de trabalho. Isso é determinante para não confundi-lo com outras desordens mentais.

“Burnout é um estresse ocupacional”, sublinha a psicóloga Marilda Lipp, presidente do Instituto de Psicologia e Controle do Stress, em São Paulo. “O indivíduo começa a enfrentar a síndrome quando sair para o trabalho se torna um sacrifício, desconfia que sua função não tem a menor importância ou sente que a dedicação ao que faz é maior do que a satisfação que tira dele”, dá as pistas.

Por se tratar de um tilt nervoso ligado a atividades profissionais, há quem diga que estudantes, donas de casa e desempregados estão imunes. Será? “Infelizmente, o trabalho doméstico não é reconhecido como trabalho. Hoje muitas donas de casa andam estressadas e ninguém sabe o motivo”, reflete o sociólogo do trabalho Ângelo Soares, da Universidade do Quebec, no Canadá.

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Para cravar a presença do burnout, a pessoa deve apresentar três características. A primeira é exaustão. Não estamos falando daquele cansaço que evapora após o fim de semana. “Exaustão é um esvaziamento físico e mental que não passa com folga, férias ou licença médica”, esclarece Ana Maria.

A segunda característica é o ceticismo. “Quem tem burnout queimou todas as pontes atrás de si. Está sem perspectivas”, aponta a psicóloga.

A terceira e última é a sensação de ineficácia: por mais que você seja o primeiro a chegar e o último a sair da empresa, não produz o que gostaria.”O sujeito está presente fisicamente, mas ausente emocionalmente. As luzes estão acesas, mas não há ninguém em casa”, arremata a presidente do Isma-BR.

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Roberta não esperou ser mandada embora. Pediu demissão antes. Mas já era tarde. Três dias depois, em maio de 2014, passou mal em um restaurante e foi parar no pronto-socorro. Cinco anos depois, agradece por ter tido burnout.

“Trabalhadores são vistos como peças de engrenagem. Se dão defeito, são trocados. Muitos amigos publicitários sofreram infarto ou AVC por trabalhar tanto quanto eu. Diante disso, não encaro o burnout como castigo ou fracasso, e sim como uma segunda chance”, afirma Roberta, que conta sua história no livro [amazon_textlink asin=’B07K5QNP96′ text=’No Limite do Stress — Tudo Que Aprendi com Meu Burnout e Que Pode Ser Útil para Você’ template=’ProductLink’ store=’v0858-20′ marketplace=’BR’ link_id=’c6ac5a45-fb58-4d2c-b884-8d7bfc7b208e’].

Veja mais: Epidemia de cansaço: o mundo está sem energia

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(Ilustrações: Victor, Pressureua e Enis Aksoy/Getty Images)
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Todo o corpo padece

Além do esgotamento mental, o burnout tem outras repercussões pelo organismo

Coração: Muito estresse por longos períodos eleva a pressão e ameaça o peito.

Pulmões: A respiração perde o ritmo ideal. Asmáticos penam com mais crises.

Músculos: Contrações involuntárias, tiques e dores podem virar parte da rotina.

Olhos: O estado emocional faz a pessoa apresentar visão turva ou embaçada.

Pele: Lesões de dermatite e psoríase tendem a se manifestar em meio ao nervosismo.

Veja mais: Encontrado forte elo entre dor crônica e ansiedade ou depressão

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Quem são os profissionais mais acometidos

A jornalista Izabella Camargo voltou ao batente no dia 29 de outubro de 2018. Melhor dizendo: tentou voltar. Depois de dois meses e 15 dias de licença médica, foi dispensada. Seu problema, enfatiza, não surgiu do nada. Nos últimos quatro anos, sentia falta de ar, dor no peito e crise nervosa.

“Tudo na vida tem limite. Numa estrada, se você ultrapassa o limite de velocidade, põe em risco sua vida e a dos outros. Por isso, me arrependo de ter dito sim quando precisava dizer não. Por que é tão difícil reconhecer que não somos uma máquina?”, indaga.

O ponto é que ninguém está a salvo do burnout. Médicos, enfermeiros e cuidadores estão entre as profissões mais acometidas. “O esgotamento é tanto que o profissional pode passar a tratar como objeto o paciente de quem deveria cuidar”, observa o psicólogo do trabalho Fernando Gastal de Castro, autor do livro Fracasso do Projeto de Ser — Burnout, Existência e Paradoxos do Trabalho (clique aqui para comprar).

A responsabilidade para com o outro, as dificuldades no sistema de saúde e as longas horas de expediente ou plantão motivaram até a criação de uma iniciativa, a Se Cuida, Doutor, da farmacêutica Bayer, para conscientizar os profissionais de medicina sobre o problema.

Os campeões do burnout, porém, são os agentes de segurança: policiais militares, vigias noturnos e guardas penitenciários. “Além da tensão do trabalho em si, muitos moram em comunidades carentes e têm medo de ser reconhecidos ali. Chegam a secar os uniformes no motor da geladeira para não se expor”, revela Ana Maria.

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Segundo a Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda, só em 2017, 178,4 mil trabalhadores, a despeito do ramo, foram afastados de suas atividades por causa de transtornos mentais e comportamentais. E a tendência, avalia Ângelo Soares, é piorar. O impacto negativo do trabalho sobre a saúde se acentua desde a Revolução Industrial, mas, dos anos 1980 pra cá, quando o lema “Fazer mais com menos” passou a imperar, a situação degringolou.

Para complicar, vivemos numa era em que o celular e as redes sociais diluem a fronteira entre a vida pessoal e a profissional. “A precarização do trabalho é um horror para a saúde mental. Daqui a 20 ou 30 anos, o burnout vai ganhar proporções epidêmicas”, prevê o sociólogo.

Veja mais: Navegue nas redes sociais sem botar a saúde em risco

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Fora do Brasil a situação não é diferente. No Japão, já inventaram até uma palavra para designar quem morre de tanto trabalhar: “karoshi”. Um caso emblemático foi o da publicitária Matsuri Takahashi, de 24 anos, que tirou a própria vida no Natal de 2015. No bilhete que deixou para a mãe, escreveu: “Por que tudo tem que ser tão difícil?”. Matsuri fazia quase 100 horas extras por mês!

“Não é só o empregado que necessita de médico. A empresa precisa também. É por isso que existe o diagnóstico organizacional”, explica Paulo Sardinha, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos. “O ideal é que, duas vezes por ano, a empresa faça um checkup da gestão e da situação dos funcionários. Lembrando que o segundo semestre tende a ser mais estressante, porque há menos tempo para bater as metas.”

Para convencer os funcionários a ir para casa, empresas no Japão adotaram a estratégia de apagar todas as luzes do escritório às 19 horas. Na França, onde o burnout adoece 12% dos trabalhadores, a tática é outra: as pessoas estão dispensadas de responder a e-mails corporativos fora do expediente.

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“De que adianta incluir ginástica laboral na rotina da empresa se ela impõe metas abusivas ou não oferece condições factíveis de trabalho? É como enxugar gelo. Na maioria das vezes, o empregador põe a culpa no empregado e exime a empresa de toda e qualquer responsabilidade”, critica Gastal de Castro.

De forma espontânea ou nem tanto, os contratantes terão de rever o modus operandi. Até porque mais pessoas com burnout significa menos produtividade.

O esgotamento na história

1869: O americano George Beard descreve a neurastenia como exaustão generalizada e culpa a civilização moderna por ela.

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1936: Charles Chaplin escreve e protagoniza Tempos Modernos, filme clássico sobre a jornada exaustiva de trabalho.

1974: Vítima do problema, o alemão Herbert Freudenberger faz a primeira descrição científica da síndrome de burnout.

1981: A psicóloga americana Christina Maslach cria um questionário para identificar o grau de estresse ocupacional.

1999: O Ministério da Saúde brasileiro inclui o burnout na lista de doenças relacionadas ao trabalho.

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O ranking do transtorno

Conheça as profissões mais assoladas pelo burnout no mundo

  1. Agentes de segurança (policiais, vigilantes, guardas municipais…)
  2. Controladores de voo
  3. Motoristas de ônibus
  4. Executivos
  5. Atendentes de telemarketing
  6. Profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, cuidadores…)
  7. Bancários
  8. Professores
  9. Jornalistas
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Você vive para trabalhar?

Não é só a carga de trabalho que entra na equação do esgotamento. Ela inclui a forma com que a gente lida com o que faz. Então responda: perfeccionismo é uma virtude ou um defeito? Segundo a psicóloga Marilda Lipp, é defeito na certa. “Perfeccionistas são exigentes consigo mesmos e com os outros, não toleram erros e dificilmente se satisfazem com os resultados alcançados”, esmiúça.

A administradora Helloá Castro, de 24 anos, concorda em gênero, número e grau. Quando recebeu o diagnóstico de burnout, trabalhava de dia e estudava à noite. “Fazia tudo errado: levava trabalho para casa, passava noites em claro e, para suportar a dor e me manter alerta, me enchia de analgésico e cafeína. Não deu outra: pifei”, recorda.

Não é só o perfeccionismo que prepara o terreno para o burnout. De acordo com o psicanalista Bernard Miodownik, da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro, tem outro traço de personalidade que presta contribuição: “É aquele estado psíquico em que o sujeito precisa se ver sempre reconhecido nos seus feitos e tem uma necessidade de se mostrar indispensável, não só para manter o emprego, mas para se satisfazer”.

Perfeccionistas, competitivos, impacientes… Dá para dizer que alguns trabalhadores estão mais propensos a entrar em colapso laboral do que outros? Para o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, há, sim, um grupo de risco. “Ele envolve pessoas que trabalham longe da família, lidam com situações de perigo ou têm o rendimento avaliado por produtividade”, exemplifica.

Em compensação, algumas características, que podem ser desenvolvidas e estimuladas, nos blindam do burnout. É o caso da resiliência. No sentido literal, trata-se da propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original depois de submetidos a uma deformação elástica. No figurado, é a capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar às mudanças.

“Resilientes são aqueles indivíduos que, em vez de se deixar intimidar ou desistir dos seus objetivos, lançam mão das adversidades para crescer. Têm tolerância ao estresse e capacidade de adaptação”, define Ana Maria. E, no mundo ideal, exercem essa qualidade sem desrespeitar seus limites.

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Os indutores da crise

O que levar em conta para saber se o seu trabalho é tóxico ou saudável a você

Sobrecarga: Horas extras frequentes e metas irrealistas compõem um ambiente insalubre.

Autonomia: Não dispor de liberdade para fazer ou delegar as coisas também é problema.

Recompensa: O bicho pega quando, apesar dos esforços, não há reconhecimento.

Valores: É terrível quando se faz ou se vende algo no qual você mesmo não acredita.

Concorrência: O clima faz diferença. Competição e desconfiança podem acabar com a pessoa.

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Como prevenir o burnout e evitar novas crises

Alimentar nosso lado resiliente é uma das principais orientações para prevenir o burnout. Impor limites é outra. “Não há um limite-padrão de tolerância. Cada indivíduo tem o seu e reage de maneira diferente”, pontua o médico João Silvestre da Silva Júnior, diretor da Associação Nacional de Medicina do Trabalho.

Mais um conselho fundamental é tatuar na mente o lema “Trabalhe para viver, não viva para trabalhar”. Pode ser difícil, mas temos que buscar um espaço nobre na agenda para hobbies, amigos e família.

Para não sofrer recaídas, Helloá, que criou no Facebook a página Vencendo o Burnout, procura evitar “situações-gatilho”, como chegar atrasada a compromissos, assumir responsabilidades das quais não sabe se vai dar conta e procrastinar a entrega de tarefas. Fora isso, trocou as bebidas energéticas por suco de maracujá e chá de camomila e disse adeus à mania de perfeição. “Aprendi a me perdoar quando erro”, conta.

Existe vida após o burnout

Cura é uma palavra que não consta no vocabulário de quem vivenciou ou vivencia essa pane cerebral. “Não tem cura, mas tem tratamento”, afirma Izabella Camargo.

Domar o burnout exige criar sensibilidade e dispor de estratégias para não cruzar aquela fronteira de novo. “O melhor tratamento é evitar as situações que o predispõem”, reforça Nardi.

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Feito o diagnóstico, um dos primeiros passos é procurar a psicoterapia. A linha adotada, explica Luiz Francisco Júnior, do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, não importa tanto: pode ser psicanálise, psicodrama, analítica, comportamental ou Gestalt.

“Não há uma abordagem mais eficaz que a outra. O importante é o paciente se identificar com ela”, diz o psicólogo. Em linhas gerais, a psicoterapia vai acolher o paciente e auxiliá-lo a driblar os gatilhos e traçar planos para o futuro. Tipo: “Já pensou em pedir transferência de setor? Trocar de empresa? Ou até mudar de profissão?”. “A psicoterapia depende, porém, da disposição que o indivíduo tem de mudar”, frisa Francisco Júnior.

Nos casos em que os sintomas se agravam ou a pessoa já não consegue mais dormir ou controlar os nervos, o médico poderá prescrever medicamentos. “O tempo de tratamento varia caso a caso. Pode ser seis meses, pode ser a vida toda”, diz Nardi.

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Não adianta, porém, fazer terapia e tomar remédio e, depois de um tempo, voltar para o mesmo tipo de trabalho, com metas inatingíveis, horários malucos e tensão à espreita. “O trabalho deve ser adaptado ao trabalhador, e não o inverso. Se permanecer exposto às más condições, seu estado vai piorar e prejudicar a resposta a qualquer tratamento”, lembra Silva Júnior.

Nesse contexto, a empresa também sai perdendo se não revisar seus conceitos. Além da alta rotatividade e da baixa produtividade, ela pode ser acionada na Justiça. Se comprovar que adquiriu o burnout naquele ambiente de trabalho — por meio de um laudo técnico que ateste causalidade —, o funcionário está apto a exigir indenização por danos morais e materiais.

“Se a incapacitação for definitiva, ele poderá pleitear até pensão mensal vitalícia”, orienta o advogado Marcelo Válio, autor de [amazon_textlink asin=’8536198729′ text=’Síndrome de Burnout e a Responsabilidade do Empregador’ template=’ProductLink’ store=’v0858-20′ marketplace=’BR’ link_id=’a831b4de-71fc-4ef4-ae08-bbdd604e1ca2′].

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De emprego novo, Izabella Camargo procura estar atenta aos gatilhos para não cair nas ciladas do passado. “Se começo a não me sentir bem, paro tudo, fecho os olhos e respiro fundo”, conta a jornalista, que lança em breve o livro Dê Tempo ao Tempo, para o qual entrevistou de cientistas a religiosos, e participa da produção de um documentário em parceria com a publicitária Jak Rocha (outra vítima de burnout) sobre o problema que mudou a vida de ambas.

“Quero continuar a missão que comecei no dia da minha demissão. Para cada pessoa que diz que burnout não passa de frescura, três me procuram nas redes sociais pedindo ajuda. O que parecia ser o fim se transformou em um novo começo”, conta Izabella, embaixadora de uma causa que precisa ecoar pela sociedade.

Veja mais: Transtorno de ansiedade: sem tempo para o agora

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Burnout tem tratamento

Os três pilares que podem compor a contenção e a prevenção das crises

1. Psicoterapia

Caso note esgotamento físico e mental, sensação de impotência e falta de perspectivas, o trabalhador deve procurar um psicólogo ou psiquiatra. Na maioria dos casos, o tratamento se baseia em sessões de psicoterapia.

Não importa a linha: cognitivo-comportamental, analítica, psicanálise, psicodrama ou Gestalt. O importante é o sujeito se identificar com a abordagem. Juntos, paciente e terapeuta vão traçar estratégias e planos.

O psicólogo pode ainda indicar técnicas de relaxamento ou exercícios respiratórios para controlar os sintomas. Alguns minutos por dia já são bem-vindos.

2. Remédios

Entram em cena quando as manifestações se intensificam ou ficam incapacitantes. Nesse caso, o médico poderá receitar antidepressivos e ansiolíticos para combater episódios de depressão e crises de ansiedade. Não há um tempo-padrão de tratamento. Varia muito de paciente para paciente.

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Como a falta de sono ou mesmo distúrbios que atrapalham um repouso pleno podem estar envolvidos com o quadro, o profissional também poderá avaliar a indicação de medicamentos que melhorem a qualidade do descanso noturno, essencial para repor as energias.

3. Estilo de vida

Depende muito de nós evitar e vencer o burnout. E alguns hábitos são encorajados por estudiosos e pessoas que passaram pela experiência.

Anote aí: procure não trabalhar mais de oito horas por dia; tente fazer intervalos de até 15 minutos a cada duas horas no emprego; tire férias todos os anos; cultive um ou mais hobbies; tenha vida social; valorize o tempo com a família; aprenda a relativizar seus problemas; avalie o retorno social ou emocional que o trabalho lhe dá; pratique exercícios regularmente; reserve um tempo para comer direito; e fuja do álcool e de outras drogas.

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