A ecoansiedade e o medo do futuro
Os últimos meses despertaram preocupações totalmente justificáveis. Só que elas podem desencadear um sofrimento fora de controle
Ondas de calor, enchentes, cidades devastadas, milhares de mortos… Difícil não ficar ao menos apreensivo com as notícias atuais.
O sentimento tem até nome, ecoansiedade.
Não se trata de uma patologia, mas de um termo que representa a preocupação relacionada às mudanças climáticas e à degradação do meio ambiente.
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“Assim como a depressão está muito relacionada ao passado, aqui o problema é o que nos espera no futuro”, comenta o psiquiatra Alexandre Valverde, mestre em filosofia contemporânea.
Para ele, trata-se de um sofrimento que merece ouvidos.
“Pessoas que se sentem assim são um termômetro social, que indica que estamos no caminho errado”, afirma. O médico compara a situação com a de Cassandra de Troia, personagem que tentou alertar a cidade grega sobre sua iminente invasão, mas foi desacreditada. Deu no que deu.
Tragédia no Sul do Brasil
Em setembro, enquanto o Brasil torrava entre secas e dias quentes, o Rio Grande do Sul novamente sofreu com temporais, enchentes e ciclones extratropicais.
Até o fechamento desta edição, mais de 50 moradores do estado tinham morrido em decorrência de desastres naturais relacionados à chuva neste ano — metade desses óbitos no país.
Os gaúchos também atingiram sua maior marca de emissão de decretos de emergência. Foram quase 450 em 2023, o maior número em sete anos.
Fenômenos do tipo já ocorriam na região, mas têm se intensificado nos últimos anos. E, diferentemente do que pregam os governantes, não vieram de surpresa: especialistas fizeram alertas sobre o assunto há meses.