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O mundo também é dos vírus. E o virologista e especialista em coronavírus Paulo Eduardo Brandão, professor da Universidade de São Paulo (USP), guia nosso olhar sobre esses e outros micróbios que circulam por aí.
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Anticorpos, antivírus, antivacinas: o que você precisa saber

Como nossa imunidade reage ao coronavírus e a outras ameaças? O que as vacinas fazem? E os antivirais? Entenda de vez com nosso colunista

Por Paulo Eduardo Brandão
Atualizado em 19 nov 2020, 11h10 - Publicado em 16 nov 2020, 18h46
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  • Quando um vírus tem sucesso em infectar nosso organismo, os primeiros anticorpos que surgem em nossa defesa são as imunoglobulinas M (IgM) e, dias depois, as imunoglobulinas G (IgG). São termos que ficaram mais conhecidos na pandemia do coronavírus, mas que ainda geram muita confusão.

    Quando um exame aponta IgM contra certo vírus, significa que a infecção está acontecendo agora. Se temos só o IgG, é como se ela já tivesse passado e deixado uma cicatriz. Não importa qual for, o ponto é que esses anticorpos específicos são ávidos por abraçar o vírus e impedir que ele se prenda à célula, cortando o ciclo de reprodução viral logo em sua primeira fase.

    Além dos anticorpos, que são proteínas, contamos com células de defesa como linfócitos e macrófagos que participam da caçada ao vírus.

    A ideia das vacinas, que não é nada nova na história da medicina, é permitir que o sistema imune aprenda a produzir anticorpos e células para bloquear vírus, bactérias e protozoários, sem que tenhamos as doenças em si. Algumas vacinas visam impedir a infecção, como a da raiva, enquanto outras conseguem diminuir a transmissão da doença, caso da gripe e, tudo leva a crer, da Covid-19.

    E como é que mostramos um vírus ao sistema imune sem causar doença? Podemos fazer vacinas com apenas uma ou outra proteína viral, como as chamadas vacinas de subunidades, que usam a proteína em formato de espinho do coronavírus, por exemplo; com vírus inteiros inativados ou mesmo vírus atenuados (amansados); e com vírus não patogênicos que podem carregar proteínas do vírus de interesse, as vacinas vetoriais.

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    Hoje também podemos utilizar partes do genoma viral para ensinar nossas células a produzirem a proteína do agente infeccioso e montar uma defesa, como fazem as vacinas de DNA ou de RNA. Cada tipo de imunizante funciona melhor para certos tipos de vírus. Para saber qual é o melhor, só perguntando ao sistema imune. Ou seja, testando.

    Décadas de uso das vacinas comprovam sua segurança e eficácia. A varíola só foi erradicada graças a elas. Vacinas não causam autismo, como grupos pregam equivocadamente por aí. Mas só funcionam mesmo se todos entendermos que se vacinar é também um sinal de altruísmo. Nos vacinamos para proteger a nós e aos outros.

    Os antivirais em cena

    Quando os vírus conseguem escapar do sistema de prevenção e contenção, recorremos a medicamentos conhecidos como antivirais. Cada fase do ciclo de vida do agente infeccioso pode ser alvo de um antiviral. Alguns inibem a multiplicação do seu genoma ou induzem erros na sua replicação; outros sequestram as proteínas virais; e tem aqueles que mantêm os vírus presos dentro das células e os impedem de sair para infectar novas células.

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    Mas, como cada vírus tem um estilo de vida próprio, não há como esperar que antivirais ou outros medicamentos usados para tipos diferentes de micro-organismos sejam eficientes em todas as situações. De novo, só testando para saber.

    Às vezes, o que testamos em laboratório em frascos nem sempre dá certo quando usado em pacientes. Foi o que aconteceu com a cloroquina, com a ivermectina e até com um antiviral genuíno, o remdesevir. Eles inibiram o novo coronavírus em células isoladas mantidas em laboratório, mas, nos estudos clínicos (em gente como a gente), não só foram ineficazes como demonstraram efeitos adversos.

    Mesmo pesquisas com camundongos e primatas não humanos podem não ser precisas e o produto, na vida real, não reproduzir seu impacto inicial. Como se diz nesse campo de trabalho, “camundongos mentem e macacos exageram”.

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    Escreveu o chinês Sun Tzu em A Arte da Guerra (clique para comprar): “Conhecer-se e a seu inimigo permite ganhar todas as batalhas; conhecer-se, mas não a seu inimigo, leva a derrotas e vitórias; não conhecer a si mesmo nem a seu inimigo leva só a derrotas”. Não há como vencer as doenças virais sem conhecer os vírus e sem saber como nosso organismo reage a eles. Investir em ciência é o caminho para vencermos todas as batalhas.

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