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O repórter André Biernath desenterra o passado e vislumbra o futuro da arte (e da ciência) da Medicina
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Só agora?! Cientistas encontram um novo órgão do corpo humano

Descoberta do interstício pode revolucionar a forma como encaramos o funcionamento de diferentes partes do organismo na saúde e na doença

Por André Biernath
Atualizado em 29 mar 2018, 16h15 - Publicado em 29 mar 2018, 15h56
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  • Você, sua mãe, o Donald Trump e qualquer outro ser humano que habita este planeta é um aquário ambulante: 60% do nosso organismo é feito  de água. Claro que esse líquido todo não está reservado num único lugar, mas se espalha por diversos compartimentos e espaços. E um dos principais reservatórios de H2O, o interstício, sempre foi tratado como algo de menor importância pela ciência. Mas um novo estudo mostra que ele é mais relevante do que se imaginava e pode ser considerado como mais um órgão do corpo humano.

    Essa história começou em 2015, quando os médicos americanos David Carr-Locke e Petros Benias faziam um exame de imagem para visualizar os ductos biliares de um paciente que estava com câncer. Esses tubos são responsáveis por transportar a bile, uma substância que ajuda na digestão, da vesícula biliar para o intestino delgado. Durante o procedimento, eles notaram a existência de uma estrutura desconhecida por ali.

    Para matar a curiosidade, a dupla entrou em contato com o patologista Neil Theise, da Universidade de Nova York, também nos Estados Unidos. O especialista resolveu realizar outros testes e, estranhamente, aquelas novas partes do corpo tinham simplesmente desaparecido no novo exame do professor.

    Eureka!

    Foi nesse exato momento que aconteceu o pulo do gato: a diferença entre a primeira e a segunda análise estava no método usado. Carr-Locke e Benias se valeram de uma técnica avançada de nome rebuscado: laser confocal endomicroscópico.

    Enquanto isso, Theise tinha utilizado o processo de estudo anatômico tradicional, que envolve fixar uma lâmina do tecido e desidratá-lo. Porém, ao retirar toda a água daquela amostra, a nova (e misteriosa) estrutura colapsava e deixa de existir.

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    O trio de experts decidiu, então, iniciar uma nova pesquisa empregando o tal do laser confocal endomicroscópico para examinar os ductos biliares de 12 indivíduos que precisavam passar por uma cirurgia. O trabalho concluiu que a parte desconhecida era mesmo o espaço intersticial (ou interstício para os íntimos), local onde são armazenados vários fluidos que servem de ingredientes para a produção da linfa, uma substância essencial para o organismo lutar contra as infecções.

    Alteração de status

    O interstício já era conhecido, mas até então sua classificação ficava como um simples tecido conjuntivo que colava diferentes partes do corpo humano, como os pulmões, as camadas da pele e os intestinos. O que a nova pesquisa propõe é classificá-lo como um órgão humano de verdade. Aliás, ele seria o maior de todos, representando 20% de nosso volume total. A pele, que possui essa primazia há décadas, responde por “apenas” 16% de nós mesmos.

    Mais que seu próprio tamanho, chama a atenção o papel do interstício no agravamento de algumas doenças, como o câncer. De acordo com o artigo, publicado na terça-feira (27) no jornal científico Scientific Reports, quando as células cancerosas que atingem determinada parte do organismo alcançam essa “nova” estrutura, elas se espalham para as vias linfáticas e viram uma metástase. Há suspeitas também de sua influência no aparecimento de problemas inflamatórios.

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    “Nossa descoberta tem o potencial de levar a avanços dramáticos na medicina, incluindo a possibilidade de usar o interstício como uma poderosa ferramenta para diagnosticar doenças”, declarou Neil Theise, por meio de sua assessoria de imprensa.

    O amanhã do interstício

    O novíssimo órgão é sustentado por duas proteínas: o colágeno e a elastina, que servem de arcabouço para o estoque dos fluidos. Ele está logo abaixo da epiderme, a primeira camada da pele, além de circundar os pulmões, os intestinos delgado e grosso, todo o sistema urinário, os vasos sanguíneos e entremear os músculos.

    Claro que a ideia de classificar o interstício como um órgão é muito recente (e, convenhamos, audaciosa). Antes de ser publicada nos livros de biologia, ela precisa ser aceita por boa parte da comunidade científica.

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    Para isso, as pesquisas iniciais serão replicadas em outras universidades para checar os resultados. Só o tempo dirá se as crianças do futuro irão aprender mais sobre o interstício em suas aulas de biologia ou se a descoberta da semana não passará de mais um fato irrelevante relegado à história.

    Mas o detalhe mais impressionante dessa epopeia toda é notar que, apesar de tantos avanços incríveis que pintam a cada dia, ainda há muita coisa a ser descoberta dentro de nosso próprio corpo. Eis uma fonte inesgotável de surpresas e boas histórias. O que será que corre por nossas artérias, ossos e músculos que ainda passa despercebida diante de todos os olhares atentos da ciência?

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