Clique e Assine VEJA SAÚDE por R$ 9,90/mês

Tome Ciência!

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
A ciência faz toda a diferença para salvar vidas e proteger nossa saúde. Entendê-la é preciso. A jornalista Chloé Pinheiro e cientistas convidados se debruçam sobre os bastidores dos estudos e das políticas públicas para trazer notícias e reflexões exclusivas
Continua após publicidade

Eleição do CFM é um tapa na cara da ciência

Resultado do pleito desanima e mostra que, mais de 700 mil mortes depois, não aprendemos nada com a pandemia

Por Chloé Pinheiro
9 ago 2024, 09h18
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Escrevo enquanto meu bebê dorme. Um sono leve, perturbado por um resfriado. Ele não tem dormido bem. Eu poderia aproveitar essas horas pra descansar, mas um pensamento insistente me mantém acordada. Penso nas chances menores que ele teria de sobreviver se tivesse nascido há sessenta anos.

    Dificilmente teria só resfriados. Poderia morrer de pólio, de coqueluche, de difteria, de gripe, de tuberculose. Se tivesse nascido há dois anos, poderia ter morrido de Covid. Eu junto, no parto. Eu antes, grávida. Nada disso aconteceu, em grande parte porque temos vacinas, consideradas, junto com o saneamento básico, a invenção que mais salvou vidas na humanidade.

    Não é preciso mais falar que as vacinas da Covid são eficazes, que a cloroquina e outros medicamentos não funcionam contra a doença. Esse texto não vai repetir consensos. Mas, mesmo com dezenas de estudos de qualidade comprovando e recomprovando isso (algo fundamental na ciência, a reprodutibilidade dos resultados), a desinformação segue viva e garantindo poder a seus arautos.

    + Leia também: Como o Brasil virou o país da cloroquina?

    A eleição dos conselheiros do Conselho Federal de Medicina (CFM) deixou isso bem claro. Francisco Cardoso, o representante de São Paulo, repete até hoje que não há dados convincentes sobre as vacinas. Ficou conhecido agora como “médico que defendia a cloroquina”, mas é bem mais que isso. É um articulador político e figurinha frequente em atos antivacina, com penetração no próprio CFM.

    Continua após a publicidade

    Em 01/12/2022, foi convidado pelo órgão para uma plenária, onde discutiria a “vacinação em crianças contra a Covid, passaporte vacinal e obrigatoriedade do uso de máscaras”. O CFM estava nessa época e ainda está sob gestão de Hiran Gallo, que foi reeleito para seu cargo de conselheiro e que defendeu a atuação catastrófica de Bolsonaro na pandemia.

    Antes de Gallo, veio a gestão do médico Mauro Ribeiro, o homem que assinou o parecer que lavou as mãos para o uso descontrolado de remédios ineficazes. Que tentou fazer menos absurda a sandice da cloroquina inalatória. Como prêmio, Ribeiro também foi reeleito e seguirá sendo conselheiro da entidade que zela pela ética da profissão. Está no CFM desde 2009.

    Sou bloqueada por Cardoso, mas tive a oportunidade de entrevistar Ribeiro em um programa de TV, ainda no auge da pandemia. Ele disse: ”Uma coisa são os estudos, outra é a prática da medicina”.

    Continua após a publicidade

    Não é que ele não tenha razão: estudo e prática não são a mesma coisa. Mas a ciência serve para nortear a melhor prática possível. E hipóteses levantadas na vida real devem ser confirmadas por estudos. A prática baseada em evidências é, inclusive, prevista no código de ética médica, que diz que é dever do profissional “usar todas as ferramentas de tratamento disponíveis, desde que cientificamente reconhecidas”.

    Nos últimos anos, parece que parte dos médicos brasileiros rasgaram esse código em prol dos próprios interesses e paixões políticas. Se tornaram afeitos ao negacionismo como ferramenta para ganhar um poder que não alcancariam de outra maneira. Detentores de uma verdade alternativa, mais dramática e emocionante, que beneficia aliados políticos.

    + Leia também: A batalha pela vacinação

    Continua após a publicidade

    Para nós, jornalistas que vimos de perto as faces mais nefastas da pandemia e as consequências cruéis do desprezo pela ciência, fica o gosto amargo da derrota. A sensação de que não aprendemos nada. E temos outras pandemias à espreita, que, aliás, já ganharam as próprias campanhas de desinformação no submundo online onde Cardoso e companhia prosperaram.

    Estaremos melhor preparados? Ou vamos ver gente morrendo sufocada de novo porque o governo distribuiu ivermectina em vez de comprar oxigênio? Meu filho poderá ser vacinado ou ficará doente? À mercê de um pediatra sendo enganado por outros médicos? É esse medo que não me deixa dormir.

    *Chloé Pinheiro é co-autora de Cloroquination: Como o Brasil se tornou o país da cloroquina e de outras falsas curas para a covid-19 (Paraquedas)

    Compartilhe essa matéria via:
    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 14,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.