Nas redes sociais, o pedagogo potiguar Ivan Baron, de 24 anos, é conhecido como o “influenciador da inclusão”.
Nascido em Natal, ele ganhou visibilidade em 2021 ao postar um vídeo no Tik Tok corrigindo a fala de uma das participantes do Big Brother Brasil, da TV Globo.
A certa altura, a cantora Juliette perguntou ao economista Gil do Vigor se ele era “aleijado”. No vídeo, o influenciador digital explica que, entre outras palavras capacitistas, “aleijado” é uma maneira depreciativa de se referir a pessoas com deficiência física.
“Não cancelem a Ju por essa fala desnecessária!”, pediu aos seguidores. “O capacitismo é algo tão enraizado que a gente acaba reproduzindo sem a menor intenção”. À época, o perfil de Juliette, que estava confinada no reality show, agradeceu o conselho, compartilhou a publicação e avisou que, assim que ela deixasse o programa, repassaria a mensagem.
Juliette não foi a única celebridade a ser corrigida pelo ativista das pessoas com deficiência (PcD). O roqueiro Supla, a apresentadora Ana Maria Braga e a cantora Mara Maravilha também já ganharam vídeos explicativos, mas, sempre em tom bem-humorado, por usarem termos pejorativos como “anão”, “linguagem dos sinais” e “débil mental”, respectivamente.
O correto, explica Baron, é falar: “pessoa com nanismo”, “língua brasileira de sinais” e “pessoa com deficiência intelectual”. “O erro mais comum é tratar pessoas com deficiência como ‘deficientes’. Quando se usa esse termo, resume a pessoa à sua deficiência. Somos, antes de qualquer coisa, pessoas e exigimos respeito!”.
Nesse quesito, até o presidente Lula já cometeu o que Baron chama de “gafe capacitista”: em um de seus discursos, errou ao dizer “portadores de deficiência”.
O capacitismo é o nome dado ao preconceito sofrido por pessoas com deficiência. Existem, pelo menos, seis tipos: física, visual, auditiva, intelectual, psicossocial e múltipla, quando há duas ou mais deficiências associadas.
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A pessoa é capacitista quando acredita que a PcD é incapaz de realizar determinada tarefa ou, ainda, quando faz piadas ofensivas ou tece comentários danosos, como “Nossa, que mancada!”, “Deixa de ser retardado!” e “Parece que é cego!”. “Explicar que o capacitismo pertence à mesma família do racismo e, como tal, precisa ser duramente combatido é o que procuro fazer diariamente”, conta Baron.
O convite para participar da cerimônia de posse do presidente Lula aconteceu na última semana de dezembro quando ele recebeu uma ligação da futura primeira-dama, a socióloga Rosângela Lula da Silva, a Janja. Ivan Baron foi um dos oito representantes da sociedade civil que, na ausência do antecessor, entregaram a faixa presidencial ao candidato eleito.
“Janja foi direto ao ponto. Me fez o convite e, de cara, aceitei. Nem pensei duas vezes”, responde o defensor de políticas de inclusão para PcD. Os outros “representantes do povo brasileiro” foram Francisco, de 10 anos, estudante; Aline Sousa, de 33, catadora; Raoni, 93, liderança indígena; Wesley Rocha, 36, metalúrgico; Murilo Jesus, 28, professor; Jucimara dos Santos, 45, cozinheira; e Flávio Pereira, 50, artesão.
Na cerimônia de posse, Baron vestiu um terno branco onde se lia, na parte de trás, a frase: “Parem de nos excluir”. Outras palavras estampavam o figurino, desenhado pelos estilistas Victor Hugo Souliver e Juliana Gomes da Silva, como “inclusão”, “esperança” e “acessibilidade”.
Referência na luta anticapacitista, Baron tem paralisia cerebral desde os 3 anos, quando contraiu meningite viral. É formado em pedagogia, já escreveu um e-book (Guia Anticapacitista) e dá palestras em escolas sobre temas como inclusão e acessibilidade.
Nas redes sociais, registra 1,1 milhão de seguidores — 637 mil no Tik Tok e 469 mil no Instagram. “Tive paralisia cerebral. Mas, apesar do nome, isso nunca me paralisou”, orgulha-se, sempre bem-humorado.