As férias acabaram e as lancheiras escolares voltaram à pauta nos consultórios de nutrição infantil. Não há dúvidas de que alimentos in natura e minimamente processados (grupo do qual fazem parte frutas, legumes e grãos integrais, por exemplo) devem ser a base da alimentação da criançada, mas, em busca do equilíbrio entre saúde e praticidade, muitas famílias me perguntam se há alternativas prontas no supermercado para um lanche bacana.
Sim, eu respondo que é possível fazer boas escolhas e que, para isso, precisamos checar as informações no rótulo dos produtos. A rotulagem nutricional segue uma série de regulamentações, justamente para que o consumidor a use como base para decisão de compra.
Ainda assim, sabemos que a escolha pode ser complexa. Em 2017, a Fiesp realizou uma pesquisa nacional para entender o comportamento dos consumidores frente à rotulagem nutricional e evidenciou que 64% dos entrevistados consideram as informações dos rótulos difíceis de entender. A publicação apontou também que 53% leem os rótulos, mas somente 23% o fazem com regularidade e, na sua maioria, o foco é a data de validade.
A boa notícia é que, a partir de 9 de outubro de 2022, entrarão em vigor as novas regras para rotulagem de alimentos no Brasil estabelecidas pela Anvisa. Como a indústria tem 12 meses para se adequar, na prática só em outubro de 2023 teremos todos os produtos com o novo modelo de rótulo frontal. A ideia é que eles tragam informações mais claras, que permitam aos consumidores fazer escolhas com mais consciência e autonomia.
A maior inovação na rotulagem nutricional será o símbolo de uma lupa que deve constar no painel frontal da embalagem para destacar o alto conteúdo de três nutrientes que têm relevância para a saúde: açúcares adicionados, gorduras saturadas e sódio, de acordo com a regra abaixo.
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Talvez você se pergunte se essa medida trará algum impacto, já que muitos outros fatores motivam a compra de um produto. Num contexto mais amplo, vale lembrar que o Brasil vive uma situação alimentar peculiar. Ao mesmo tempo que a prevalência de obesidade aumenta a cada ano, há a persistência de carências nutricionais como reflexo da má qualidade da dieta.
Esse cenário desafiador demanda ações conjuntas de toda a sociedade. A legislação é um dos pilares para combater a insegurança alimentar e a indústria também pode atuar como parte da solução. A regulamentação da rotulagem viabilizará um instrumento para educação e consumo responsável e esperamos que as mudanças que estão por vir facilitem a vida das famílias que podem fazer opções considerando suas necessidades e preferências.
A utilização do símbolo da lupa favorece, inclusive, a participação da criança no processo de escolha, seja no mercado com a família, seja quando estiver na cantina da escola. Para nós, nutricionistas, ficará mais fácil trabalhar a educação alimentar com os pequenos (e com os grandes também).