Frequentemente, reparo que amigos se alimentam mais quando estão emocionalmente abalados. E o detalhe: eles não conseguem distinguir isso de quando estão famintos de fato.
Evolutivamente, fomos selecionados de um grupo de indivíduos que sobreviveu a diversas situações de ausência de alimentos até que nossa capacidade produtiva, como agricultores, fosse desenvolvida e disseminada.
Como consequência dessa história geral da humanidade, foram selecionadas duas características que carregamos conosco até o momento presente.
A primeira é a nossa competência de armazenar energia em forma de gordura. Nós fomos preparados para engordar com certa facilidade. Isso para sobrevivermos às fases mais desafiadoras da nossa história de privação alimentar.
A segunda herança evolutiva está associada a interferência dos fatores emocionais na ingestão alimentar. Acompanhe o raciocínio: acredita-se que o passo que demos em direção a vida como agricultores selecionou aquelas pessoas que estavam “sempre tentando antecipar o futuro” – planejando o cultivo de acordo com o clima.
Mas essa forma de viver, tentando adivinhar o futuro, nos presenteia com sentimentos de ansiedade – só ficando inquieto com o que aconteceria dali um bom tempo que tomaríamos os passos necessários para cultivar alimentos.
Pois bem: a ansiedade e o processamento de emoções se instalaram neurologicamente no hipotálamo, próximo ao centro da fome (e abaixo do córtex, onde processamos as informações, mas já chego nisso).
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Caprichosamente, portanto, essa proximidade física no cérebro entre “fome” e “ansiedade” gera um comportamento claramente anunciado: facilmente confundimos o estresse com a necessidade em comer algo.
Como, então, identificar se estamos com fome ou ansiosos?
Há uma dica interessante, que entra naquela história de o centro cerebral de processamento da fome estar logo abaixo do córtex, responsável, digamos, pela nossa racionalidade.
Ora, quando você pensar que está com fome, faça o seguinte exercício: imagine algo que você só comeria se estivesse faminto. Ou seja, é um alimento que você “tolera”, mas não é fã.
Vou dar, com um pouco de vergonha, o meu exemplo: abobrinha! Apesar de eu ser submetido a bullying pelos meus mentorandos com essa escolha, quando visualizo na minha cabeça uma abobrinha e ainda assim tenho vontade de comê-la, sei que estou com fome de verdade.
Se não, sei que componentes emocionais estão interferindo na minha vontade de comer.
Esse exercício simples coloca nosso córtex – o racional – “vigiando” nosso hipotálamo – o emocional – e, assim, conseguimos distinguir melhor um desejo emocional da vontade real de comer.
Experimente praticar essa estratégia para clarear o que está ocorrendo contigo. E, no geral, tente racionalizar parte das refeições!