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Médicos, nutricionistas e outros profissionais da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) explicam as novas (e clássicas) medidas para resguardar o peito
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Cuidando do coração na cadeira do dentista

Embora os mecanismos não estejam claros, já se sabe que muitos problemas cardíacos têm origem na boca

Por Frederico Buhatem Medeiros, doutor em patologia e estomatologia, e João Fernando Monteiro Ferreira, cardiologista*
24 set 2021, 10h37
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  • O descuido com a saúde bucal ocasiona muito mais do que inflamações locais ou prejuízos na estética dentária: configura uma porta aberta para doenças periodontais e para o desenvolvimento de patologias sistêmicas. Entre elas, destacam-se a aterosclerose, maior responsável por doenças cardiovasculares (DCVs); a endocardite, infecção do revestimento interno do coração; e o acidente vascular cerebral (AVC).

    Estudos demonstram que cerca de 45% das cardiopatias e 36% das mortes por problemas cardíacos podem ter origem na boca.

    Por isso, a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) – entidade que agrega multiespecialidades, defendendo um olhar plural sobre o paciente – traz o alerta de que doenças bucais exigem atenção não só de dentistas, mas principalmente de cardiologistas, clínicos gerais e profissionais da saúde. Todos devem entender que o comprometimento na boca pode ser apenas a primeira peça de um efeito dominó que chega até o coração.

    Em linhas gerais, apesar de ainda não haver consenso entre os pesquisadores, tudo leva a crer que a saúde bucal e as DCVs estão conectadas pela disseminação de bactérias – e outros micro-organismos –, que partem da boca em direção a outras áreas do corpo por meio da corrente sanguínea.

    Quando agentes nocivos alcançam o coração, aderem a qualquer área lesionada e causam infecções. Essa modalidade é conhecida como endocardite infecciosa, caracterizada pelo crescimento de bactérias nas paredes internas do órgão, agravando ou gerando sequelas ao paciente com doença cardiovascular. Altos índices de mortalidade e morbidade são observados nesse caso.

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    Estudos defendem que a doença periodontal (que acomete o tecido de suporte e sustentação da boca) pode induzir uma hiperlipidemia, favorecendo o aumento dos níveis de triglicerídeos séricos, colesterol total e LDL. Outras teorias sugerem a existência de um mecanismo genético que faz a ponte entre a periodontite e a aterosclerose.

    A falta de um denominador para explicar a interdependência entre boca e coração não é por acaso: as infecções bucais têm uma microbiologia complexa e estão associadas a níveis elevados de citocinas, proteínas que afetam o comportamento das células.

    A periodontite é o estágio mais avançado da doença periodontal, e pode ser acentuada devido à higiene bucal e/ou uso excessivo de medicamentos que reduzem a produção de saliva.

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    Alguns fatores que contribuem para o desenvolvimento da periodontite são comuns às DCVs, como obesidade, histórico familiar, tabagismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e doenças que afetam o sistema imunológico, como diabetes. Mau hálito, edema (inchaço), sangramentos gengivais e sensibilidade excessiva estão entre as possíveis consequências pontuais do problema.

    Cortando o mal pela raiz

    Mas, se por um lado não há consenso de como se estabelece a ligação entre infecções bucais e coração, é de senso comum que prevenir e tratar a doença periodontal reduz consequências cardiovasculares.

    Vários ensaios clínicos atestam que a manutenção de uma boa saúde bucal representa uma ferramenta preventiva da aterosclerose e de suas complicações.

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    Dessa forma, é crucial que médicos, dentistas e pacientes entendam a associação entre doença periodontal e problemas cardiovasculares. É comprovado que um tratamento abrangente para periodontite e o restabelecimento da saúde bucal ajudam na redução de inflamações gerais no corpo.

    O diagnóstico e o tratamento das doenças periodontais são importantes para a manutenção da saúde bucal e cardíaca, impactando positivamente na prevenção das DCVs, que causam pelo menos 400 mil óbitos todos os anos, mais do que o câncer, doenças respiratórias e mortes violentas.

    Ao fazer das visitas à cadeira do dentista uma rotina, contribuímos para manter uma distância segura dessas estatísticas alarmantes – e não endossamos o ditado de que os peixes morrem pela boca.

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    *Frederico Buhatem Medeiros é doutor em patologia bucal e estomatologia pela Universidade de São Paulo (USP) e diretor científico do Departamento de Odontologia da Socesp e João Fernando Monteiro Ferreira é presidente da Socesp.

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