Uma notícia de peso a compartilhar: a tirzepatida (nome comercial Mounjaro), da farmacêutica Eli Lilly, foi aprovada pela Anvisa para o tratamento do diabetes tipo 2. Nos últimos anos, mesmo antes de ser lançada lá fora, essa medicação de aplicação injetável semanal via subcutânea já vinha sendo a estrela de todos os congressos de endocrinologia.
Há motivos para tanto: cerca de metade das pessoas com diabetes que utilizaram o remédio atingiram taxas de hemoglobina glicada menor do que 5,7%, valor considerado de referência para pessoas sem diabetes nesse exame que dá uma média trimestral da glicose. E isso sem aumentar o risco de hipoglicemia.
Mas tem mais: a perda média de peso entre os participantes do estudo chegou a 13%, e sabemos que alguns indivíduos obtêm perdas superiores a 15% do peso corporal.
Durante muitos anos, a sociedade vinculou o diabetes ao excesso de açúcar no no sangue. Mais recentemente, temos comprovado que é mais efetivo controlar a glicose quando controlamos melhor o peso. Isso ganha ainda mais relevância se lembrarmos que a maioria das pessoas com diabetes tipo 2 também encara a obesidade.
Estudos com a tirzepatida em pessoas com obesidade (mas sem diabetes) apontam para redução média de peso corporal em torno de 23%.
Um bom percentual de indivíduos chegou a ter perdas superiores a 30%. São conquistas inéditas, inclusive quando comparadas às da semaglutida, comercializada sob os nomes comerciais Wegovy e Ozempic, outro remédio que tem feito sucesso nessa seara.
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Mas é bom deixar claro que, no momento, a medicação não é aprovada para tratamento de obesidade no Brasil. Ainda não temos previsão de quando a tirzepatida terá aprovação específica para tratamento da obesidade, mas é uma questão de tempo.
Os efeitos colaterais mais comuns vistos nos estudos são náuseas (que acometem cerca de 20% das pessoas) e diarreia (que afeta cerca de 10% das pessoas). Mas eles são leves e transitórios na maioria das vezes.
Nas pesquisas, também foram observados efeitos benéficos paralelos desse medicamento: redução na gordura no fígado, na pressão arterial e nos níveis de triglicérides, por exemplo.
O uso de tirzepatida para tratamento de pessoas com diabetes tipo 2 é apenas a ponta do iceberg, muito embora essa seja, por enquanto, a única aprovação pela Anvisa.
Há inúmeros estudos em andamento com a tirzepatida para a prevenção de doenças cardiovasculares, tratamento da obesidade em si, controle da doença renal crônica, da osteoartrite de joelhos, da esteatose hepática etc.
O grande desafio no Brasil será a manutenção do tratamento com a nova medicação. No nosso país, a taxa de engajamento ao tratamento é baixíssima, até mesmo com medicamentos orais e com custos mais acessíveis. A parceria médico-paciente é (e continuará sendo) a chave para um controle de sucesso, especialmente quando falamos de doenças crônicas.
Ainda levarão alguns meses até que a tirzepatida esteja disponível nas farmácias do Brasil, pois o governo ainda precisa determinar o preço do lançamento.
De qualquer forma, é uma notícia e tanto, sempre ponderando que não existe milagre no tratamento do diabetes. O estilo de vida saudável é, e sempre será, a base do tratamento ao lado dos remédios.