Em meio às eleições, costumo dizer em meu consultório que não há nada mais democrático do que as doenças. Elas podem acometer pessoas de diferentes cores de pele, classes sociais, graus de escolaridade, empregos e saldos bancários.
Testemunhamos há pouco um dos tristes exemplos dessa história com a lamentável perda da atriz Cláudia Jimenez, de apenas 63 anos de idade.
O roteiro encarado pela talentosa humorista é o mesmo de milhares de brasileiros todos os anos. Tudo começa com a obesidade (especialmente a abdominal), em seguida surgem problemas de saúde atrelados a ela, como colesterol e triglicérides elevados e o diabetes tipo 2.
Logo adiante vêm os entupimentos nas artérias do coração, que podem causar infarto e são remediados com as cirurgias de ponte de safena e a instalação de stents. E, se o paciente sobrevive a um ataque cardíaco, ainda acaba desenvolvendo a insuficiência cardíaca. Nela, o coração fica enfraquecido e não consegue mais bombear adequadamente o sangue para todo o organismo.
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Exceto pela obesidade, que aparece no espelho e nos holofotes, as demais doenças, via de regra, são invisíveis, silenciosas, indolores e passam despercebidas por meses ou anos quando não se procura um médico.
O cuidado com as mulheres compõe um capítulo à parte. Aquelas com diabetes veem o risco cardiovascular aumentar ainda mais após a menopausa. E a insuficiência cardíaca, especialmente em mulheres com diabetes tipo 2, possui alto grau de letalidade.
Felizmente, porém, temos novos tratamentos para esse quadro, que há até poucos anos não desfrutava de nenhum avanço terapêutico impactante.
Até mesmo para o diabetes hoje contamos com medicamentos que controlam os níveis de glicose e ao mesmo tempo previnem infarto, derrame e até a insuficiência cardíaca.
A obesidade, por sua vez, é uma condição que acarreta inúmeros descompassos e precisa, sim, ser evitada e tratada. Falo de um trabalho e de um investimento de longo prazo, mas que trazem lucros em termos de saúde. Estudos recentes comprovam que o controle do peso previne doenças no coração.
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Na mesma linha, o colesterol deve ser rastreado em exames de rotina e, se estiver elevado, tem de ser abordado. Ainda mais porque não promove sintoma algum até que ocorra o entupimento das artérias.
Claro, não podemos nos esquecer da genética envolvida em todo esse filme. Mas pesquisas vêm mostrando que, com bons hábitos de vida, podemos driblar os fatores do DNA. Eles estão longe de ser uma sentença definitiva.
Em meio à fatalidade da perda de uma pessoa pública querida por milhões de brasileiros, torço para que o caso da Cláudia Jimenez seja uma luz na discussão da prevenção e do tratamento dessas doenças que andam tão mancomunadas: a obesidade, o diabetes e os problemas cardíacos.