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Neste espaço, especialistas e articulistas vinculados ao Movimento Falar Inspira Vida promovem orientações e discussões sobre cuidados com a saúde mental e o controle de doenças como a depressão
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Por que não podemos negligenciar o tratamento da depressão

Doença ainda é cercada de estigmas e encurta a qualidade e a expectativa de vida. Quanto antes diagnosticada e tratada, melhor!

Por Humberto Correa, psiquiatra*
8 nov 2022, 16h12
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  • A depressão é uma doença que existe, possivelmente, desde que o Homo sapiens iniciou sua longa jornada no planeta Terra. Com o desenvolvimento do cérebro humano (especificamente, do lobo frontal) e da capacidade de abstração e planejamento futuro, devem ter surgido os primeiros sintomas de ansiedade e depressão, e talvez também as primeiras ideias sobre morte e até mesmo suicídio.

    Em termos históricos, vamos encontrar descrições de quadros que são bem próximos ao que entendemos no século 21 como depressão tanto nas escrituras bíblicas do Velho Testamento quanto em mitologias de diversos cantos do mundo.

    Por muito tempo, a depressão esteve associada no imaginário a possessões demoníacas, fraquezas de caráter ou moral e outras explicações absolutamente não científicas. Ainda hoje é uma doença cercada de preconceito.

    Mas combater o estigma associado às doenças mentais e ao suicídio salva vidas!

    Atualmente, entendemos a depressão como uma doença que atinge primariamente o cérebro e desencadeia muitos sintomas, como tristeza profunda, falta de prazer pela vida, pensamentos de culpa, mudanças no sono e no apetite, piora da cognição e ideias recorrentes sobre morte ou suicídio.

    Trata-se, de fato, da doença mental mais associada ao comportamento suicida. E ela pode levar a alterações irreversíveis e duradouras tanto na conectividade quanto na estrutura neuronal. Quanto mais tempo de sintomas, maiores as alterações. Daí a importância de fazer o diagnóstico e começar um tratamento efetivo quanto antes.

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    + ASSISTA: Um documentário sobre a luta contra a depressão

    Até porque a depressão não é apenas uma doença cerebral, mas também sistêmica. Em paralelo às transformações no cérebro, ocorrem mudanças hormonais e processos inflamatórios que fazem os indivíduos com o transtorno também estarem mais expostos a outras condições, como problemas cardiovasculares e reumatológicos.

    Isso faz com que, se não for devidamente tratado, o paciente com depressão tenha uma redução na expectativa de vida, seja pelo maior risco de suicídio, seja pelas outras doenças ligadas à depressão.

    + LEIA TAMBÉM: Guia ensina a enfrentar a depressão dentro das empresas

    Assunto de saúde pública

    A depressão é altamente prevalente, acometendo entre 6 e 8% da população mundial a cada ano e cerca de 17% das pessoas ao longo da vida. É duas vezes mais frequente nas mulheres do que nos homens. Devido a seus impactos estrondosos em termos de qualidade de vida e mortalidade, a Organização Mundial da Saúde (OMS) a projeta como a maior causa de incapacidade no planeta.

    Segundo relatório da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) de 2018, nas Américas o custo dos transtornos mentais, encabeçado pela depressão, representaria cerca de 20% do custo total com doenças. Infelizmente, o investimento em saúde mental não acompanha seu impacto.

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    No Brasil, mais especificamente, a proporção do gasto com essa demanda (em relação ao gasto total em saúde) é sete vezes menor do que o custo proporcional das doenças mentais.

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    Tem tratamento!

    A humanidade passou, e ainda passa, por uma pandemia que trouxe um enorme custo para todos em termos psíquicos. A combinação de isolamento social, insegurança e crise econômica funcionou como um grande estressor, aumentando as taxas de depressão e outros problemas mentais.

    Se algo de positivo ficou dessa pandemia, entretanto, é a percepção, de toda a sociedade, de quão importante é cuidar da saúde mental. Hoje, não só temos um conjunto robusto de dados epidemiológicos e neurobiológicos sobre a depressão, como diretrizes gerais para o seu tratamento, nunca podendo nos esquecer de que cada sujeito em estado depressivo é absolutamente singular e o tratamento deve ser personalizado.

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    Duas abordagens são comumente empregadas, as psicoterapias e os medicamentos antidepressivos, preferencialmente de forma combinada.

    A psicoterapia, particularmente a de enfoque cognitivo-comportamental, pode ser muito útil no manejo dos sintomas e no desenvolvimento de uma resiliência psíquica a fatores estressores. Em relação aos fármacos, temos muitas evidências de eficácia no tratamento com antidepressivos.

    Qual remédio usar, qual a dose e por quanto tempo vai depender de uma avaliação médica criteriosa. No tratamento, dois parâmetros são fundamentais: dose e tempo.

    + LEIA TAMBÉM: A prevenção do suicídio entre os mais jovens

    Não havendo melhora com a terapia padrão, ainda temos novas medicações com diferentes mecanismos de ação e tratamentos com neuromodulação, também bastante seguros e eficazes.

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    Quanto antes iniciarmos o contra-ataque à depressão, melhor. O tratamento rápido e efetivo salva vidas!

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    * Humberto Correa é psiquiatra e professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

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