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O impacto do trânsito na saúde mental

Gastar muito tempo para se deslocar nas grandes cidades afeta o bem-estar emocional da população. Psiquiatra indica estratégias para amenizar os prejuízos

Por Elson Asevedo, psiquiatra*
30 Maio 2023, 09h47
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  • Para muitos habitantes de grandes metrópoles, enfrentar o trânsito é parte do cotidiano. Em São Paulo, por exemplo, estima-se que a população gasta, em média, três horas por dia no trânsito, de acordo com a pesquisa “Mobilidade Urbana na Cidade”, realizada pela Rede Nossa São Paulo e Ibope, em 2019.

    Isso é muito superior à média global, que é de aproximadamente uma hora por dia, segundo dados do TomTom Traffic Index.

    Estar preso no trânsito, imerso em um mar de buzinas e cercado por poluentes atmosféricos, pode ser uma experiência mentalmente exaustiva, com uma série de consequências negativas para a saúde mental.

    O primeiro grande impacto diz respeito ao estresse. Em 2017, um estudo publicado no American Journal of Preventive Medicine analisou mais de 34 mil trabalhadores canadenses e descobriu que aqueles que percorriam mais de 45 minutos para o trabalho tinham níveis mais elevados de estresse do que aqueles que faziam viagens mais curtas.

    Esses trabalhadores também eram mais propensos a ter uma qualidade de sono ruim, o que, por si só, pode levar a uma série de problemas – que vão desde ansiedade e depressão até prejuízos na concentração e na produtividade.

    + LEIA TAMBÉM: Segurança no trânsito em todas as fases da vida

    A poluição sonora é outro componente significativo que merece ser levado em conta.

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    O ruído constante das buzinas, dos freios e dos motores pode levar a um estado de alerta constante, abalando o sono e aumentando os níveis de estresse.

    Uma pesquisa da Universidade de Oxford, publicada em 2020, indicou que a exposição prolongada ao ruído do trânsito está associada a altos níveis de ansiedade e depressão, ressaltando a necessidade de abordar esse tema.

    Em terceiro lugar, o trânsito é uma fonte significativa de poluentes atmosféricos, como partículas finas e gases de escape.

    Estudos indicam que a exposição a esses poluentes pode ter impactos diretos e indiretos na saúde mental.

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    + LEIA TAMBÉM: Poluição sonora: um problema do barulho

    Uma pesquisa de 2019, publicada no JAMA Psychiatry, revelou uma ligação entre a exposição a longo prazo a poluentes do ar e um aumento no risco de desenvolver doenças mentais, incluindo, de novo, depressão e ansiedade.

    Além disso, a violência no trânsito, seja na forma de acidentes ou de crimes (como assaltos), é uma realidade capaz de ter efeitos devastadores na saúde mental.

    Pesquisas indicam que vítimas de acidentes de trânsito ou de crimes podem desenvolver transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), ansiedade, depressão, entre outros transtornos mentais.

    Então, como podemos mitigar o impacto do trânsito na nossa saúde mental? Vou dar algumas dicas:

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    É válido destacar que reduzir o tempo de deslocamento nas grandes cidades não é apenas um desafio individual, mas também uma questão de políticas públicas.

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    Diversos exemplos internacionais mostram que isso é possível e necessário.

    A expansão da rede de ciclovias em Bogotá e a implementação do sistema de metrô em Copenhague são exemplos de intervenções que resultaram em uma menor dependência do transporte individual motorizado.

    Além disso, a promoção de políticas de trabalho flexíveis e de teletrabalho por parte das organizações também tem papel crucial na redução do tempo gasto no trânsito, com efeitos benéficos para os trabalhadores.

    Em face dos inúmeros desafios que o trânsito apresenta, é imprescindível reconhecer a amplitude do seu impacto na saúde mental e procurar estratégias ativas para mitigar esses danos.

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    Ao reconhecermos a extensão dos malefícios, podemos começar a tomar medidas contra eles.

    A chave é encontrar estratégias que se adequem à nossa rotina e nos permitam navegar com o máximo de serenidade possível pelas demandas da vida urbana.

    *Elson Asevedo é médico psiquiatra

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