Eu já tinha três dos meus quatro filhos e estava à beira de um colapso. Há anos, eu me arrastava pelo turbilhão emocional e me perdia na sobrecarga física e mental que a vida de “mãe-guerreira-que-dá-conta-de-tudo” nos impõe. Me sentia apenas sobrevivendo à maternidade e não vivenciando essa experiência como gostaria e, na minha opinião, deveria. O sentimento era exatamente este: de sobreviver aos dias.
Lembro como se fosse hoje do momento que considero um divisor de águas. Era um dia normal: meu marido trabalhava fora, as crianças estudavam à tarde e eu passava a manhã sozinha com elas, tendo que administrar as brigas, os choros, as frustrações… E, claro, cuidar da casa-comida-roupa lavada.
Nesse dia do basta, Lucas, Levi e Letícia tinham passado a manhã eufóricas, correndo, brincando e brigando (nada de anormal em uma casa com três crianças saudáveis, graças a Deus), e eu sentindo a ansiedade escalar ao longo das horas.
+Leia também: “Apaguei ao volante e bati o carro em consequência do burnout”
Por mais que racionalmente eu soubesse que meus filhos não estavam fazendo nada de mais, emocionalmente ia ficando cada vez mais abalada. Gritos e brigas são um gatilho para mim e cada interação que eu tinha que fazer para apartar alguma discussão, ia me sentindo mais sem forças para continuar sendo respeitosa com as crianças.
Eu sabia que estava perto do meu limite naquele dia. Foi quando, de repente, ouvi um barulho e, em seguida, um choro de desespero e um grito de “mãe, tá sangrando”. Larguei tudo que estava fazendo na cozinha e saí correndo para ver o que tinha acontecido.
Quando cheguei no corredor, vi Levi com um pente fino na mão e o rosto sangrando, com os dentes do pente praticamente tatuados em forma de sangue. Ele estava correndo no corredor com um dos irmãos quando toparam de frente, o pente atingiu em cheio a boca dele, fazendo o estrago.
Na hora que vi aquela cena, perdi todo o restinho de força que ainda tinha. Mas, em vez de explodir e esbravejar algo do tipo “eu não falei pra parar de correr?”, simplesmente desabei.
BUSCA DE MEDICAMENTOS
Consulte remédios com os melhores preços
Abracei forte o Levi e comecei a chorar copiosamente, enquanto pedia desculpas a ele várias vezes por não estar ali antes, por não ter visto que ele estava correndo com um objeto pontiagudo nas mãos, pois estava ocupada demais fazendo o almoço. Ele ali sem entender direito minha reação.
Um sentimento tão forte de desesperança me invadiu, misturado a uma sensação de incapacidade e insuficiência por não ter conseguido evitar aquele incidente e poupar meu filho tão pequenino daquele ferimento. Por mais que eu me esforçasse e dedicasse, sentia-me incapaz de cuidar dos meus filhos, física e emocionalmente.
Foi nesse momento que ouvi um “clique” na cabeça e pensei: “Não aguento mais viver assim, tenho que fazer alguma coisa ou vou surtar, e ainda vou surtar meus filhos junto”. Foi a primeira vez em anos que eu conseguia enxergar, claro como água, que EU tinha que tomar uma atitude. Não adiantava continuar esperando que meu marido fizesse ‘x’ ou ‘y’.
Não eram as crianças que tinham que mudar o próprio comportamento, era eu que precisava aprender a lidar com o comportamento delas, que é o comportamento normal de crianças saudáveis e em pleno desenvolvimento.
Na minha jornada de autoconhecimento, aprendi a perdoar essa Laura que, com a melhor das intenções, dava tudo de si para os filhos, mas justamente por isso não sobrava nada para si mesma.
Hoje, acolho essa Laura que ainda não sabia que uma mãe só consegue dar ao seu filho o que transborda dentro dela. Também sou grata a essa Laura por não ter desistido de tentar e por ter conseguido tirar de toda essa dor um aprendizado que transformou a sua vida para sempre e tornou-a uma mãe tão melhor para seus filhos, incluindo a caçula Luísa, que chegou logo depois.
Dessa busca nasceu um projeto para melhorar a saúde mental de outras mães. Depois, escrevi o livro Cuide-se Pra Cuidar (clique para comprar) com esse mesmo objetivo, de estimular o autocuidado, inspirar com leveza e construir um escudo contra o burnout materno.
Meu desejo é que todas as mães compreendam que a maternidade real não é esse mundo idealizado, no qual temos que dar conta de tudo, nos doar ao extremo e esquecermos de nós mesmas.
Para abraçar os filhos é preciso estar fortalecida, meta que só alcançamos quando nos colocamos em primeiro lugar e encaramos a missão sem pretensão de nos tornarmos super-heroínas. O burnout materno quase me tirou a alegria de ser mãe.
*Laura Schwengber é mãe de Lucas, Levi, Letícia e Luísa. Casada há 18 anos com o Leandro, é formada em Jornalismo, autora do livro Cuide-se Pra Cuidar (Hanoi Editora) e criadora do CLAM – Clube de Leitura de Autocuidado Materno.