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Neuromielite óptica: do baque do diagnóstico à esperança que nos move

Em estreia de coluna, mulher reflete sobre os desafios do dia a dia ao conviver com doença rara

Por Cleide Lima, jornalista com NMO*
3 mar 2023, 10h53
o que é a neuromielite óptica
A neuromielite óptica afeta o sistema nervoso central e pode causar cegueira total, tetraplegia e disfunções de alguns órgãos importantes. (Ilustração: O Silva / Foto: Dercilio/SAÚDE é Vital)
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Quando se recebe um diagnóstico de uma doença rara, a vida ganha novos contornos. Surge uma sensação de incerteza, como se o futuro agora estivesse coberto por uma névoa densa e opaca.

Afinal, lidar com uma condição que afeta um número extremamente limitado de pessoas pode ser uma jornada desafiadora e solitária. É natural sentir-se desorientado, confuso e com medo do desconhecido.

E já adianto: esse texto termina com um tom de esperança, mas, antes disso, eu preciso fazer uma descrição realista e sincera.

Eu tenho o diagnóstico de neuromielite óptica (também chamada de NMO ou Doença de Devic), uma patologia rara, degenerativa, neurológica, autoimune, inflamatória e grave. Ela afeta o sistema nervoso central e pode causar cegueira total, tetraplegia e disfunções de alguns órgãos importantes.

+ Leia também: Doenças raras podem ser mais comuns do que se imagina

É complicado conviver com uma condição que se manifesta em forma de crises isoladas e sem aviso, os chamados ‘surtos’.

É como se o tempo inteiro eu estivesse com uma seta apontada para minha cabeça que orienta a ação do acaso. E, quando vem, o acaso desorganiza tudo e pode deixar mais sequelas incapacitantes e permanentes.

Em 2018, tive um quarto surto da NMO, que me deixou com sequelas visuais irreversíveis em ambos os olhos. O grande desafio em perder um dos sentidos é a readaptação a um mundo que já conhecíamos, mas que, agora, deve ser percebido de formas diferentes.

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Desafiador, confuso, desorientador, amedrontador, estranho… Essas são algumas das palavras que uso para descrever a saga que vivemos desde o primeiro sintoma da NMO até fecharmos o diagnóstico. Sim, uma saga!

No meu caso, só após dois anos do aparecimento dos primeiros sintomas é que o diagnóstico foi fechado.

paciente com neuromielite óptica
Cleide Lima convive com a neuromielite óptica, doença rara, degenerativa, neurológica, autoimune, inflamatória e grave. (Foto: Divulgação/SAÚDE é Vital)

+ Leia também: Diagnóstico genético pode favorecer o tratamento de doenças raras

Até então, muitas especialidades foram consultadas, muitos exames feitos (dos mais baratos aos mais complexos e caros) e houve muito desgaste financeiro e emocional. Até que finalmente entendi o que estava acontecendo com o meu corpo.

Foi a partir daí que consegui recuperar a força e o movimento das pernas, o equilíbrio do corpo e o controle dos esfíncteres, já alcançados na primeira internação.

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Mas o tratamento pode cobrar seu preço: meu corpo mudou em consequência dos efeitos colaterais dos medicamentos.

A vida profissional estagnou e a financeira sofreu um baque. Até pouco tempo, a sensação que eu tinha sobre minha própria realidade após a NMO era de frustração.

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Esse sentimento só piorava ao me deparar com as dificuldades relacionadas ao cuidado da NMO no Brasil: os medicamentos receitados não são específicos para a patologia, o tratamento é de difícil acesso para muitos e faltam políticas públicas.

Benefícios básicos só são conseguidos pela maioria através de processos judiciais, que podem demorar anos.

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Mas, enquanto escrevo este texto, posso dizer que estou mais esperançosa. Mobilizações importantes estão sendo feitas para assegurar um diagnóstico mais rápido e tratamentos adequados e mais eficazes.

Pela primeira vez, há remédios aprovados no nosso país específicos para a NMO.

Quanto a mim, atualmente coloco novos significados ao que é a vida e luto para que outras pessoas não precisem passar pelo que eu e tantos passamos.

Sigo unindo pessoas pela causa da NMO nos quatro cantos do país, com um trabalho de formiguinha.

Use a caixa de busca ou clique no índice para encontrar o verbete desejado:
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Como presidente da Associação Brasileira de Neuromielite Óptica, convido você a acompanhar o Março Verde, uma campanha que trará muita informação de qualidade sobre a NMO e que foi feita em parceria com associações como a Crônicos do Dia a Dia (CDD).

A jornada pode ser longa e sinuosa, mas é importante lembrar que, quando lidamos com uma patologia ainda sem cura, precisamos entender que ela é uma das características que temos e que precisam de atenção.

Mas não toda a nossa atenção! A vida por si só pede movimento e mudanças. Busco sempre encontrar formas de fazer a minha vida melhorar e reforço o autocuidado.

Saúde não é a ausência de diagnósticos, mas, sim, qualidade de vida e bem-estar.

Eu busco conviver da melhor forma com o meu corpo e a minha mente. A jornada em si, com todas as suas reviravoltas, tropeços e recomeços, pode ser uma fonte de crescimento e aprendizado.

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Tenho aprendido muito após a chegada da NMO e sei que continuarei aprendendo bastante, fazendo-me e refazendo-me…

Sigamos em paz com nossos diagnósticos e nos cuidemos durante todo o caminhar!

*Cleide Lima é jornalista, gestora de projetos, palestrante e treinadora comportamental com foco em novos projetos e refazimentos. Também é fundadora e presidente da Associação Brasileira de Neuromielite Óptica (ABNMO). Este texto foi feito a pedido da Associação Crônicos do Dia a Dia (CDD).

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