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É verdade ou fake news?

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Notícia falsa faz mal à saúde. Com o apoio de especialistas e da ciência, desconstruímos os mitos que estão sendo curtidos e compartilhados.
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Vídeos mostram como salvar vítimas do AVC com uma agulha. Mas são fake!

A técnica consiste em furar, com uma agulha, os dedos da mão da pessoa que acabou de sofrer um acidente vascular cerebral. Já avisamos: não caia nessa!

Por Theo Ruprecht
28 nov 2018, 19h15
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  • Alguns vídeos em diferentes mídias sociais apontam um suposto jeito de socorrer pessoas com AVC (acidente vascular cerebral) usando uma simples agulha – confira aqui e aqui, por exemplo. Em resumo, você deveria fazer pequenos furos nos dez dedos das mãos de alguém que sofreu um derrame para fazê-los sangrar e, aí, esperá-la melhorar.

    Diante dessa alegação, SAÚDE foi atrás de evidências científicas sobre o fato. Também conversamos com o neurologista Eli Evaristo, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP), para tirar essa história a limpo.

    Conclusão: é mais uma fake news. E daquelas bem perigosas, como explicaremos a seguir.

    De onde surgiu a história das agulhas contra o AVC?

    Difícil saber ao certo. Talvez seja uma confusão com a acupuntura. Isso porque, na medicina chinesa, a técnica que se vale de agulhas de fato é empregada na reabilitação de pacientes que sofreram um AVC e, eventualmente, logo após o surgimento dos sintomas.

    Mas há ponderações logo de cara. Em primeiro lugar, a reabilitação é uma fase diferente do tratamento emergencial, que é o foco dos vídeos. Além disso, uma revisão de vários estudos conduzidos pelo Instituto Cochrane indica que, nas pesquisas de qualidade, a acupuntura não reduziu a mortalidade em decorrência de um acidente vascular cerebral. Em última análise, ela não ajudou na fase aguda do problema.

    Agora, tem um fato muito mais importante a ser considerado: o ato de um leigo furar dedos em um momento de desespero dificilmente vai obedecer aos ensinamentos tradicionais da acupuntura. Portanto, não estamos falando de acupuntura aqui. E não há qualquer artigo científico que mostre que picar os dedos da mão beneficia alguém que precisa ser levado quanto antes para um centro de emergência.

    Após um AVC, tempo é cérebro

    Essa frase ficou conhecida entre os médicos e significa que, ao menor sintoma de um acidente vascular cerebral, a pessoa deve ser encaminhada depressa ao hospital. Quanto antes começa o tratamento, maiores as chances de o indivíduo não apresentar sequelas graves.

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    Só que não é isso o que esses vídeos sugerem. Eles pedem para, por exemplo, deixar a pessoa imóvel e, após dar as agulhadas, esperar que elas recobrem a consciência. “Isso é absolutamente contrário a todas as recomendações atuais para uma emergência como essa”, reitera o neurologista Eli Evaristo.

    No caso de um AVC isquêmico – quando um vaso sanguíneo no cérebro é obstruído, o que impede o sangue de circular adequadamente –, remédios que desentopem as artérias só são benéficos se aplicados até quatro horas e meia após o início dos sintomas. E note que, quando paciente chega na sala de emergência, os médicos precisam fazer várias avaliações antes de iniciar o tratamento, o que toma um certo tempo.

    Além disso, a cada hora que passa do princípio de um AVC, aproximadamente 114 milhões de neurônios morrem para sempre. Diante disso, não há cabimento em fazer uma intervenção caseira e “esperar cinco minutos para ver como a pessoa recobra os sentidos”, o que é indicado nesses vídeos enganosos.

    Como saber mesmo se é um AVC?

    Os sintomas clássicos são perda de movimento e de sensibilidade, alterações visuais e na fala ou dor de cabeça que aparece do nada é muito, mas muito forte. Em geral, os sinais se manifestam de um lado do corpo.

    “O problema é que nem sempre esses sintomas decorrem de um AVC”, explica o médico do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Exemplo: alguns tumores ou mesmo infecções podem, em um primeiro momento, trazer consequências parecidas. E, claro, o tratamento para cada uma dessas encrencas é  diferente.

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    Mas por que estamos destacando isso? Ora, se a pessoa inicia o tratamento em casa – como os vídeos sugerem –, de que maneira ela vai saber se está mesmo lidando com um acidente vascular cerebral? Dito de outra forma, tais conteúdos tropeçam até na falta de lógica.

    E a história de massagear as orelhas caso a boca fique retorcida?

    Ainda tem isso. Esses vídeos sugerem que, se a boca da pessoa entortar em decorrência do AVC, basta massagear a orelha delas até que fique avermelhada. E, depois, fazer um furo com a agulha para que saiam algumas gotas de sangue.

    Pensa que acabou? Pois eles ainda pedem para esperar a boca voltar ao normal e para que o sujeito deixe de apresentar “sintomas incomuns”. E, só aí, deveríamos encaminhá-la para atendimento médico.

    “Não há nenhum estudo que mostre qualquer sinal de eficácia dessa técnica”, garante Evaristo. SAÚDE buscou nas bases de dados do Pubmed, o principal site agregador de pesquisas científicas do mundo, e também não encontrou nada de qualidade nesse sentido.

    Erros básicos na tela

    Sempre suspeite de conteúdos que se embananam com certas explicações. Pois isso também não falta aqui.

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    É dito, por exemplo, que durante um AVC os vasos capilares do cérebro se rompem gradualmente. Pra começo de conversa, nem todo tipo de acidente vascular cerebral é caracterizado por rupturas nos vasos.

    Como já dissemos, o AVC isquêmico consiste em um entupimento das artérias, não em um rompimento. E olha que ele é o tipo mais comum do problema.

    Já o acidente vascular cerebral hemorrágico de fato resulta de um vazamento nos vasos que culmina em um sangramento dentro da cabeça – é por isso que a doença ganhou o apelido popular de derrame. “Só que, nesse cenário, a ruptura é imediata, não gradual”, corrige Evaristo. O que vai se acumulando aos poucos é o sangue dentro da massa cinzenta, e não o número de rupturas, como alegam os vídeos.

    Agora vamos apelar mais uma vez à lógica. Se o AVC isquêmico vem de um entupimento e o hemorrágico, de um vazamento, não é difícil imaginar que o tratamento para cada um difere bastante, certo? E é por aí mesmo que funciona.

    No primeiro caso, os médicos podem aplicar medicamentos que visam facilitar a circulação, enquanto, no segundo, fazem de tudo para diminuir o ritmo da passagem de sangue. As estratégias, portanto, são quase opostas e tratar um tipo de AVC como se fosse o outro pode provocar danos severos.

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    Aí que está: seguindo esse raciocínio, era de se esperar que ao menos as agulhas fossem indicadas para um tipo e não para o outro. Mas não: os vídeos falam de AVCs em geral e veem a agulha quase como uma solução mágica. Desconfie de soluções fáceis para questões complexas.

    Independentemente disso tudo, também tenha uma dose extra de cuidado com conteúdos que não mencionam suas fontes ou comprovam suas afirmações.

    O que fazer então quando há suspeita de um AVC?

    Ao notar algum daqueles sintomas de alerta, dirija-se imediatamente a um hospital ou ligue para o SAMU. As ambulâncias sabem quais centros das imediações estão preparados para lidar com essa emergência.

    Esse é outro ponto-chave. O bom tratamento do derrame demanda exames de imagem específicos (tomografia ou ressonância magnética) e atendimento de neurologistas especializados.

    Portanto, o ideal é que você pesquise hoje, enquanto tudo está ok, quais hospitais da região cumprem os requisitos básicos para um bom atendimento. Se por ventura essa enfermidade atacar você ou algum familiar, sua reação será mais rápida e eficaz.

    Aliás, há um aplicativo de celular gratuito chamado AVC Brasil. Disponível para os sistemas iOS e Android, ele traz uma lista de centros referendados pelo Ministério da Saúde que são capazes de lidar com essa urgência.

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