Não há melhor expressão de alegria do que um sorriso. E um sorriso, para refletir de verdade o bem-estar, também deve ser saudável. Para manter a boca e os dentes em ótimo estado, devemos ter cuidados com a alimentação, zelar pela higiene bucal e realizar visitas regulares ao dentista. Uma boa higiene depende da escovação, do uso do fio dental e dos limpadores de língua e tem sido cada vez mais comum recorrer também aos enxaguantes bucais.
Também conhecidos como enxaguatórios ou colutórios, eles estão presentes no mercado em diversas formulações, contendo agentes antimicrobianos que combatem a cárie, a placa bacteriana, a gengivite e o mau hálito de origem bucal.
Apesar de serem vendidos livremente, sem a necessidade de prescrição, a utilização desses produtos deve, sim, ser feita com base na recomendação do dentista. Mas vamos esclarecer por aqui as principais dúvidas que rondam o uso dos enxaguantes.
Quem pode usar?
O enxaguante bucal pode ser utilizado como método complementar à higienização mecânica, isto é, aquela feita com a escova e o fio dental, por indivíduos com risco de cárie, gengivite e halitose de origem bucal, bem como após cirurgias. É importante destacar três pontos sobre esses produtos:
- Eles não substituem a escova, a pasta, o fio dental e os higienizadores de língua
- Só são recomendados a partir dos 6 anos de idade, fase em que a criança já aprende a bochechar sem engolir a solução
- Devem ser indicados pelo dentista
O uso pode ser diário?
A frequência de utilização dos enxaguantes bucais varia de acordo com a formulação do produto e a indicação do dentista — ele é a melhor pessoa para dizer a quantidade a ser usada e os dias e horários em que isso deve ser feito.
Quais as opções disponíveis no mercado?
Basicamente existem dois tipos de enxaguantes bucais: os cosméticos e os terapêuticos. Os primeiros são aqueles que reduzem ou acabam temporariamente com o mau hálito, deixando na boca um sabor agradável e a sensação de frescor. Os terapêuticos contêm agentes específicos para combater cárie, placa bacteriana e gengivite.
Logo abaixo falamos melhor de algumas características e ingredientes presentes nos enxaguantes:
Com álcool: o componente é utilizado para conservar e diluir os princípios ativos presentes nesses produtos. Esta opção deve ser evitada, ficando o uso restrito à prescrição e supervisão de um profissional qualificado. Isso porque a utilização contínua pode provocar o ressecamento da mucosa bucal, descamação dos tecidos moles da boca e inibição das glândulas salivares, o que resulta na diminuição da produção de saliva.
Sem álcool: estes enxaguantes se valem de água deionizada como diluente, sendo mais adequados para o uso no dia a dia.
Com flúor: os enxaguantes fluoretados são recomendados para pessoas com alto risco de cárie, pois interferem no metabolismo dos micro-organismos da placa dental (ou biofilme) e atuam na remineralização do esmalte do dente. Podem ser utilizados diária ou semanalmente dependendo da concentração de flúor. Devem ser evitados por crianças que não conseguem cuspir o produto, já que o excesso de flúor pode gerar problemas.
Com clorexidina: há no mercado vários agentes terapêuticos com a substância. O digluconato de clorexidina a 0,12% é atualmente a versão mais usada para evitar a formação do biofilme dental e o desenvolvimento da gengivite. Enxaguantes com clorexidina também são indicados no período pós-cirúrgico e para a desinfecção das escovas dentais. Entretanto, o uso contínuo pode provocar o manchamento do esmalte dentário, pigmentação de restaurações estéticas e alteração no paladar.
Com produtos naturais: todos os enxaguantes bucais comercializados, com agentes antimicrobianos, com ou sem flúor ou com ou sem álcool podem ter efeitos colaterais. Assim, os enxaguantes à base de plantas são uma tendência na procura de alternativas naturais para o controle das bactérias que se alojam nos dentes. Porém, esses produtos também demandam a opinião e prescrição do dentista.
Enxaguantes acabam com o mau hálito?
Eles até atenuam a halitose de forma momentânea, porém não tratam a causa do problema. Quem sofre com a condição deve procurar um dentista para identificar e tratar a origem do mau hálito. Do contrário, o enxaguante só irá mascará-lo por um tempo.
Quando ele é contraindicado?
A utilização do enxaguante bucal não é indicada, como dissemos, a crianças com menos de 6 anos ou que não saibam cuspir o produto. Além disso, as versões com álcool devem ser evitadas por idosos, gestantes, dependentes químicos e pacientes em quimioterapia e radioterapia.
É verdade que o uso frequente pode causar câncer?
De acordo com a American Dental Association, o uso contínuo de enxaguantes bucais com mais de 25% de álcool em sua formulação pode aumentar o risco de câncer de boca e faringe. Embora sejam necessários mais estudos para embasar essa afirmação, já existem também evidências de que a utilização constante gere outros efeitos adversos, incluindo maior probabilidade de desenvolver xerostomia (boca seca) e irritação da mucosa bucal. Esses riscos, vale ressaltar, estão todos associados a enxaguatórios com álcool na formulação.
Posso diluir o produto?
Isso só deve ser feito se a bula do enxaguante indicar. A diluição reduz a concentração do princípio ativo, o que pode fazer com que ele perca a eficácia caso seja desenhado para ser utilizado puro.
Enxaguante substitui a escovação às vezes?
Não. Somente a higienização mecânica com a escova e o fio dental é capaz de remover efetivamente o biofilme dental (popularmente conhecido como placa bacteriana). Excepcionalmente, em casos de impossibilidade de realizar a escovação (por inaptidão motora, deficiência física ou mental ou em estágios pós-cirúrgicos), o enxaguante serve de método alternativo para fazer o controle das bactérias da boca.
Tem de usar antes ou depois da escovação?
Os enxaguantes podem ser utilizados antes da escovação, quando contêm componentes que atuam desorganizando a placa dental, o tal do biofilme, facilitando a sua remoção pela ação da escova e do creme dental. Ou podem ser empregados após a higienização bucal, quando contêm fluoretos e outros agentes terapêuticos. Nesse caso, o ideal é que sejam usados à noite, antes de dormir, pois a salivação diminui nesse período e assim o produto permanece nos dentes por mais tempo.
* Dra. Sofia Takeda Uemura é cirurgiã-dentista e conselheira do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)