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Terrorismo nutricional: por que demonizamos certos alimentos?

Nutricionista e empreendedora critica a ideia, ainda vigente, de separar alimentos entre "bons" e "maus" — isso nos afasta de um estilo de vida equilibrado

Por Alexandra Casoni, nutricionista e CEO da Flormel*
Atualizado em 14 ago 2020, 14h39 - Publicado em 14 ago 2020, 10h07
terrorismo alimentar
Dietas radicais fazem parte do chamado terrorismo alimentar. (Foto: GI/Getty Images)
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Convivemos há um bom tempo com uma espécie de terrorismo nutricional, um conceito que pauta o valor dos alimentos unicamente pela presença de determinados nutrientes, atribuindo a eles um caráter estritamente funcional. Algo que “serve” para atingir um objetivo muito específico. E só!

Essa abordagem faz com que a sociedade normalize a ideia de que existem alimentos bons e ruins para a saúde, aqueles que você precisa comer e aqueles que devem ser banidos para sempre do prato. Aplicamos bases científicas válidas e importantes de modo reducionista quando deixamos de enxergar o alimento de forma íntegra e focamos na sua suposta “funcionalidade” principal. Onde nossas avós viam uma cenoura e suas mil possibilidades vemos apenas uma fonte de betacaroteno.

Aposto que você já se perguntou ou deve estar se perguntando agora: ok, mas como manter uma alimentação saudável? A resposta é mais simples do que se imagina. Alimentos não se resumem à soma de seus nutrientes. A definição de hábitos alimentares saudáveis deve considerar o contexto social, afetivo e cultural. Reduzir o momento das refeições a cálculos e proibições só vai gerar mais angústia e ansiedade, que nada têm a ver com saúde.

Soa irônico: quanto mais buscamos uma dieta rica em nutrientes, mais ela pode se tornar pobre em alimentos. Substituímos a feira farta por cápsulas e colecionamos receitas de “sucos detox”. Nessa linha, restringimos nosso cardápio e nos afastamos da riqueza nutricional, afetiva e sensorial que só uma mesa repleta de comida de verdade oferece — algo que nossas avós saberiam reconhecer.

Isso sem falar na culpa que sentimos quando comemos um bombom ou um pudim. Há quem marque no calendário datas específicas para se permitir tais momentos e os chame de “dia do lixo”. Triste!

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É importante deixar claro que a nutrição é uma ciência linda e fundamental, só que injustamente vinculada a esse terrorismo alimentar. Ela promove consciência e autonomia, ajudando as pessoas a resgatar uma relação amigável com a comida. Não tem a ver com ser coagido a comer de três em três horas, haja o que houver, mas desenvolver a capacidade de reconhecer sinais de fome e saciedade, por exemplo.

Muito da relação tensa que desenvolvemos com a comida hoje é fruto de um bombardeio de informações e estímulos equivocados. Mudar isso é um exercício diário… e possível!

Comece por abolir a ideia de que existem alimentos “que engordam” e “que emagrecem”. Nossa composição corporal depende de uma infinidade de fatores e equilíbrio é a palavra-chave, sempre. Além disso, associar o conceito de saúde a um “corpo ideal” pode ter graves consequências, como distúrbios alimentares.

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Ser saudável vai muito além de vestir determinado manequim. Saúde é sinergia física, mental, emocional e relacional. É, antes de tudo, autoconhecimento: aprender a reconhecer o que faz bem para você, o que alimenta sua vitalidade. Fuja de quem vende a ideia de que há uma só fórmula aplicável a todo mundo.

Saúde começa na mesa, sim. Desde que ela seja espaço de liberdade e alegria, não de terror.

* Alexandra Casoni é nutricionista e CEO da Flormel

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