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Síndrome metabólica urbana: quando uma cidade fica doente

Estamos perpetuando ciclos que geram estresse, aumentam o risco de doenças e drenam a qualidade de vida

Por Gustavo Gameiro e Paulo Saldiva, médicos*
21 fev 2025, 09h02
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Moradores de centros urbanos precisam lidar com diversas ameaças à saúde  (Ilustração: Mari Heffner/Veja Saúde)
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O planeta está adoecendo e apresentando sintomas que ecoam os distúrbios do corpo humano. As cidades viraram organismos com febre, edema, desidratação… e sinais de uma síndrome metabólica.

As semelhanças não são mera metáfora: são reflexo de práticas insustentáveis que impactam tanto a saúde das populações quanto a do ambiente.

Assim como o corpo exige equilíbrio para funcionar, o meio urbano depende de uma harmonia entre o uso de recursos naturais e sua manutenção e desenvolvimento. Em medicina, chamamos isso de homeostase.

Da mesma forma que manifestamos a febre para combater infecções, as cidades apresentam temperaturas cada vez mais elevadas como resultado da urbanização descontrolada e da emissão de gases poluentes.

As ilhas de calor revelam o descompasso entre o concreto e a natureza: espaços antes frescos e arborizados se tornaram caldeirões. Sentimos os efeitos na própria pele, correndo inclusive o risco de desidratação e problemas cardíacos e cerebrais.

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Outra moléstia é a insegurança alimentar, que se traduz na falta de nutrientes para o corpo. As mudanças climáticas, com eventos extremos como secas e inundações, tornam a produção de alimentos cada vez mais imprevisível — o que repercute no prato e no bolso.

A carência de comida fresca e saudável, por sua vez, leva a um aumento da dependência de alimentos processados, financiando condições como obesidade e diabetes — ingredientes da síndrome metabólica —, que expõem os indivíduos a um estado de inflamação crônica e os governos a uma sobrecarga nos sistemas de saúde.

+Leia também: “Indústria dos ultraprocessados prega ideias falsas”, diz médico

Na outra ponta, o edema, ou acúmulo de líquido nos tecidos, encontra paralelo nas inundações que assolam cidades incapazes de gerenciá-las, como vimos no Rio Grande do Sul em 2024. A impermeabilização do solo impede a absorção da água, enquanto o sistema de drenagem urbano, congestionado, não consegue dar vazão às chuvas.

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Tudo isso acarreta não apenas a destruição de lares e bens públicos, mas transforma um recurso vital, a água, numa via de disseminação de doenças. Ora, se o corpo precisa eliminar toxinas para se manter são, os municípios dependem de saneamento para resguardar quem mora ali.

Nesse sentido, a má gestão e o desperdício fermentam uma crise hídrica que já afeta, em menor ou maior grau, milhões de pessoas no país — estima-se que um terço da água potável hoje seja perdida por falhas nas tubulações!

E esse cenário, claro, só tende a piorar com períodos de seca prolongada, comprometendo o abastecimento sobretudo de quem está nas periferias.

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Por fim, o metabolismo desordenado que caracteriza o diabetes pode ser comparado ao uso ineficiente de energia nas metrópoles. Com um sistema de transporte predominantemente movido a combustíveis fósseis e a falta de investimento em energias renováveis e soluções de mobilidade sustentáveis, perpetuamos um ciclo de poluição e estresse que drena qualidade de vida.

Precisamos repensar como temos cuidado dos espaços onde vivemos — com a mesma urgência que deveríamos zelar pela nossa saúde. Em outras palavras, o ambiente urbano necessita recuperar sua homeostase.

*Gustavo Gameiro é médico e cientista, doutor em oftalmologia pela Unifesp e jovem liderança da Academia Nacional de Medicina. Paulo Saldiva é patologista, professor da Faculdade de Medicina da USP e membro da Academia Mundial de Ciências.

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