Um dos primeiros relatos de transplante dentário, tecnicamente chamado de transferência de órgão dental em um mesmo indivíduo, ocorreu em 1956. Apesar de antigo, o procedimento ainda é pouco conhecido.
O autotransplante, ou transplante dental autógeno, é uma opção para substituir um dente ausente, perdido por algum motivo, por um dente “doador” disponível e que tem condições de ser reaproveitado após o procedimento técnico.
O processo consiste, conceitualmente, na transferência de um dente chamado de germe dentário. Ele é a estrutura que possibilita a formação dos dentes e é extraído e transferido para outro alvéolo natural – ou um espaço criado cirurgicamente.
Geralmente, os transplantes autógenos utilizam os dentes não erupcionados – que não costumam sair da gengiva – como terceiros molares, pré-molares e caninos inclusos.
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Trata-se de uma técnica biologicamente compatível, quando comparada a outras técnicas de reabilitação oral. E, em alguns casos, é uma opção mais acessível financeiramente.
Contudo, as indicações de transplante dental autógeno são limitadas em função da complexidade e presença de muitas variáveis, entre as quais:
- A compatibilidade anatômica entre o órgão dentário doador e o leito receptor
- A capacidade do local onde será colocado o dente revascularizar essa estrutura
- Hábitos alimentares
- Higiene bucal
- Saúde da gengiva e do periodonto
A primeira e mais favorável indicação está em dentes com rizogênese (processo de formação da raiz dentária dos dentes permanentes) como doadores e alvéolos dentários sadios e compatíveis.
Até por isso, a melhor indicação seria entre os 16 e os 21 anos. Nessa faixa etária, o paciente reúne características que elevam a taxa de sucesso.
O cirurgião-dentista ainda precisa avaliar, com auxílio de raio X ou tomografia odontológica, a formação da raiz do dente. Esse planejamento, assim como a correta seleção dos casos, a habilidade do cirurgião-dentista e os cuidados pós-operatórios, aumentam as chances de sucesso.
Transplante de dente de um indivíduo para outro não é indicado
Não se indica usualmente o transplante dentário homógeno: de um indivíduo vivo ou morto para outro. E muito menos entre espécies diferentes, o que é chamado de transplante heterógeno.
Isso implica condições complexas de aceitação do dente transplantado, que se comporta como um tecido estranho geneticamente e pode despertar reações de imunogenicidade, que resultam na expulsão ou destruição do transplante. Isso sem falar nos riscos de infecções cruzadas e de doenças adquiridas do doador.
Os profissionais que realizam transplantes dentários, geralmente, são especialistas em cirurgia oral e maxilofacial, pois possuem o conhecimento e a habilidade necessários para realizar procedimentos cirúrgicos avançados na região da boca e da face.
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É importante ressaltar que o transplante dentário é delicado e requer uma avaliação cuidadosa por parte do cirurgião-dentista para determinar a viabilidade e a adequação do procedimento para cada caso.
E, para as situações nas quais os pacientes não são candidatos adequados ao transplante dentário, há outras opções, como próteses dentárias e implantes convencionais ou osseointegráveis. Muitas vezes, elas são mais adequadas por se tratarem de técnicas mais simples, seguras e com menor morbidade.
*Claudia Pires Miguel é cirurgiã-dentista, especialista em Implantodontia e membro da Câmara Técnica de Implantodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).