Clique e Assine VEJA SAÚDE por R$ 9,90/mês

Com a Palavra

Por Blog Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Neste espaço exclusivo, especialistas, professores e ativistas dão sua visão sobre questões cruciais no universo da saúde
Continua após publicidade

Quando a depressão resiste ao tratamento

Um em cada três pacientes com depressão não responde aos remédios tradicionais. Especialista examina o fardo desse problema e as soluções à vista

Por Dr. Acioly Lacerda, psiquiatra*
Atualizado em 3 nov 2020, 17h26 - Publicado em 21 set 2020, 12h13
  • Seguir materia Seguindo materia
  • A depressão é uma doença cerebral que acomete cerca de 350 milhões de pessoas no mundo. De forma preocupante, registrou-se um aumento de 18% no número de cidadãos com o problema em apenas uma década. Embora seja uma doença com características primariamente emocionais e comportamentais, a depressão apresenta várias repercussões no organismo como um todo. Pessoas com depressão encaram maior risco de desenvolver condições como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e câncer. Todos esses fatores contribuem para uma impressionante redução de dez anos na expectativa de vida de indivíduos com o transtorno.

    Recentemente, a depressão conquistou o desafortunado título de principal causa de incapacidade no mundo, superando as doenças cardiovasculares. O crescimento marcante da incapacidade causada por esse problema é explicado por diferentes fatores. Primeiro, a depressão é uma doença altamente prevalente, acometendo cerca de 17% das pessoas ao longo da vida.

    Segundo, é considerada uma doença crônica de jovens, já que 80% dos casos têm seu início antes dos 30 anos de idade e cifra semelhante apresenta múltiplos episódios depressivos durante a vida. Terceiro, a despeito da disponibilidade de cerca de 55 antidepressivos diferentes, um em cada três pacientes com depressão não melhora após o tratamento, situação que caracteriza a chamada depressão resistente ao tratamento.

    A depressão resistente está associada a prejuízos ainda maiores. Pacientes nessa condição apresentam maior grau de incapacitação, têm um risco de internação três vezes maior e, quando internados, apresentam hospitalizações mais longas.

    Desde o lançamento do primeiro antidepressivo há mais de meio século, há um considerável esforço da indústria farmacêutica no desenvolvimento de novas moléculas para o tratamento da depressão. Um erro estratégico, porém, parece ter ocorrido nessa corrida: os cerca de 55 princípios ativos criados desde então apresentam essencialmente o mesmo mecanismo de ação, o aumento de neurotransmissores como serotonina, noradrenalina e dopamina, todos pertencentes ao grupo das chamadas monoaminas.

    Continua após a publicidade

    Há cerca de 20 anos, a comunidade científica internacional recebeu com entusiasmo os resultados de uma pesquisa demonstrando um efeito antidepressivo robusto e ultrarrápido (já nas primeiras horas após a infusão) de doses baixas de cetamina, um antigo anestésico. Ao contrário dos antidepressivos tradicionais, a cetamina atua em outro neurotransmissor (o glutamato) e tem se mostrado bastante eficaz no tratamento de quadros resistentes de depressão.

    Essa descoberta inaugurou uma nova era no tratamento da depressão, a partir da identificação de moléculas que tratam satisfatoriamente os quadros de depressão resistente, com melhora dos sintomas quase que imediata, o que tem sido descrito no meio cientifico como o principal avanço terapêutico nos últimos 50 anos.

    A demonstração de sua eficácia e segurança em diversos estudos garantiu a aprovação da cetamina nos Estados Unidos e na Europa em 2019. Tendo por base tais resultados, ela tem sido usada off label no Brasil em diversas clínicas em sua apresentação injetável. Neste momento, a Agência Nacional de Agência Sanitária (Anvisa) analisa dossiês científicos para aprovação final em bula de sua indicação para o tratamento de quadros de depressão resistente. E isso representa um novo alento para cerca de 10 milhões de pessoas que não se beneficiam dos tratamentos atualmente aprovados no Brasil.

    Continua após a publicidade

    * Dr. Acioly Lacerda é psiquiatra, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador do Programa de Transtornos Afetivos (Prodaf) da mesma instituição

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 9,90/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja Saúde impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 14,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.